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Cuidado, entrevistáveis, com as armadilhas da imprensa. Ou: discordar é para macacos; humanos devem dizer sempre “sim”

Atenção, entrevistável! Se você for um desses especialistas, estudiosos ou mesmo curiosos fundamentados que não comungam da metafísica influente e for chamado por algum repórter, não importa o veículo e o meio, a dar uma opinião sobre um determinado tema, certifique-se de que não se trata de uma armadilha para provar que você está errado […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h49 - Publicado em 30 Maio 2011, 21h10
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  • Atenção, entrevistável!

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    Se você for um desses especialistas, estudiosos ou mesmo curiosos fundamentados que não comungam da metafísica influente e for chamado por algum repórter, não importa o veículo e o meio, a dar uma opinião sobre um determinado tema, certifique-se de que não se trata de uma armadilha para provar que você está errado e sozinho. Exija, na medida do possível, garantias (depois darei dicas ao homem comum, de classe média).

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    Foi o que o Fantástico fez ontem com o mais importante estudioso brasileiro sobre drogas, o professor Ronaldo Laranjeira. Doze pessoas falaram a favor da descriminação da maconha. Todos os dados fornecidos pela reportagem são favoráveis à tese.

    Laranjeira não foi convidado para expor o seu ponto de vista, não. Ele estava lá para convalidar o dos adversários de tese. De que modo? À medida que eles são muitos, e tão importantes (ex-presidentes, dois médicos, um escritor popular, um cineasta inteligente…), e Laranjeira é um só, ele só pode estar errado. A reportagem de Sonia Bridi é capaz de tolerar uma pessoa que não concorde…

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    Assim, entrevistável, indague coisas como:
    – Quem mais vai falar?
    – Serei o único a ter essa posição (a ser contra ou a favor, sei lá…)?
    – Haverá equilíbrio?
    – A sua reportagem será contra ou a favor à tese “x”?
    – Você está me convidando porque quer saber o que eu penso ou só para mostrar que eu sou um sem-noção?

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    Há alguns temas, entrevistáveis, em que é grande a chance de você quebrar a cara e ser usado só para passar a impressão de que seus adversários têm razão; vale dizer: serão uns 12 do outro lado contra você, que passa por maluco. Darei exemplos:

    Mudanças climáticas (antigo “aquecimento global”) – se você não for um apocalíptico e não anunciar o fim do mundo, será minoria na reportagem ao menos;
    Código Florestal – se você for do tipo que acha que o texto de Aldo Rebelo é bom, cuidado! Haverá um batalhão (mais Anhangá, Curupira, a Cuca e a Marina Silva) contra um só;
    Declaração unilateral de independência do estado palestino – se você não for a favor, a chance de que o chamem para explodir a sua reputação é enorme;
    Kit gay nas escolas –
    qualquer restrição que você tenha à proposta, se a imprensa o chamou, é para caracterizá-lo como um pterodáctilo raivoso.

    Assim, o melhor a fazer, acreditem, é deixar que eles dividam sozinhos as batatas. Um fala, e o outro reforça, e todos se lambuzam numa espécie de autoerotismo do progressismo. Ou exija garantias de que vão lhe dispensar um tratamento digno.

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    Essa é a forma que o pluralismo tomou no nosso tempo. Discordar virou mero formalismo, um resquício de fase superada da civilização, mais ou menos como aquele ossinho do cóccix indica que a gente já teve rabo um dia. Discordar é para macacos e seres inferiores. O que faz a civilização é a ausência de divergência, é a unanimidade em defesa do bem!

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