CENSURA À IMPRENSA E RIGOR PROFISSIONAL
A decisão que impôs censura judicial ao Estadão ameaça, é óbvio, o jornalismo e a liberdade de expressão. Mas também corre o risco de concorrer para o rebaixamento dos critérios e procedimentos seguidos no exercício da profissão. Querem ver? Digamos que um repórter obtenha informações bastante sólidas que comprometam, num assunto de interesse público, um […]
A decisão que impôs censura judicial ao Estadão ameaça, é óbvio, o jornalismo e a liberdade de expressão. Mas também corre o risco de concorrer para o rebaixamento dos critérios e procedimentos seguidos no exercício da profissão. Querem ver?
Digamos que um repórter obtenha informações bastante sólidas que comprometam, num assunto de interesse público, um político, uma autoridade ou um figurão qualquer. Qual é a rotina da profissão?
- 1) apurar tudo;
- 2) cercar as margens de erro para evitar injustiças;
- 3) ouvir várias fontes e recorrer a instrumentos vários que confirmem o fato a ser noticiado;
- 4) ouvir a pessoa eventualmente acusada de irregularidade ou de comportamento indevido. Muitas vezes, esta quarta etapa da apuração muda a rota até ali seguida.
Pois bem… Se os homens públicos “destepaiz” contarem com a possibilidade de impor censura prévia aos veículos de comunicação, a saída será ouvir o “outro lado” só depois de publicada a notícia. Por que eu, repórter, vou ouvir alguém que vai tentar me censurar em seguida? O que estes defensores da censura judicial estão fazendo é estimular o “publique ates; ouça uma das partes depois”.
Esse é só um dos muitos aspectos negativos deste escândalo que está em curso. Eu acho que fere a Constituição, sim. Mas, antes de tudo, fere o decoro democrático. Pior de tudo: os inocentes não recorrerão à censura porque não querem parecer culpados, e os culpados recorrerão porque não têm escrúpulos. A essência das ditaduras é um paradoxo: os inocentes são tratados como culpados, e os culpados, como inocentes.