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Reinaldo Azevedo

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Aumenta o consumo de drogas no Brasil. Não me digam…

Por Andrea Murta, na Folha On Line. Volto depois. Um relatório divulgado nesta terça-feira pela Agência da ONU para Drogas e Crime (UNODC) traz más notícias para o Brasil: ao contrário das tendências de estabilização mundial, o consumo de cocaína e maconha aumentaram em 2006 no país. No Brasil, o uso de cocaína aumentou de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h21 - Publicado em 26 jun 2007, 16h33
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  • Por Andrea Murta, na Folha On Line. Volto depois.

    Um relatório divulgado nesta terça-feira pela Agência da ONU para Drogas e Crime (UNODC) traz más notícias para o Brasil: ao contrário das tendências de estabilização mundial, o consumo de cocaína e maconha aumentaram em 2006 no país. No Brasil, o uso de cocaína aumentou de 0,4% em 2001 para 0,7% da população entre 15 e 64 anos em 2005 –correspondente a 860 mil pessoas–, segundo o documento da ONU.

    Na América do Sul, sete países registraram aumento no uso de maconha em 2005, e só um registrou queda no consumo. Em outros nove, a situação foi descrita como “estável”. O aumento mais importante foi no Brasil, onde o consumo cresceu de 1% em 2001 para 2,6% da população entre 15 e 64 anos em 2005.

    O relatório aponta também para o crescimento do tráfico de cocaína na região Sudeste, além do aumento da exploração do Brasil por grupos do crime organizado internacional.

    Em todo o mundo, de acordo com o UNODC, cerca de 200 milhões de pessoas –ou 4,8% da população mundial entre 15 e 64 anos– usam drogas ilícitas. A cocaína é usada por 14,3 milhões de pessoas, o que corresponde a 0,3% da população nessa faixa etária.

    Segundo o texto, cerca de 200 milhões de pessoas usam drogas ilícitas em todo o mundo, mais da metade destas as consome ao menos uma vez por mês. Aproximadamente 25 milhões de pessoas são dependentes químicos.

    “Houve aumento no uso de cocaína na Europa, América do Sul, África e Ásia, e diminuição na América do Norte. Na América do Sul, o número aumentou de menos de 2 milhões para 2,25 milhões”, segundo o texto.

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    A ONU afirma que o crescimento do uso da droga no Brasil foi o principal fator para a elevação da taxa de consumo na América do Sul.

    Estabilização
    O número, porém, pode não ser tão dramático: o relatório alerta que parte do crescimento pode ser devido a um ajuste nas estimativas para deixar os números mais realistas. Se não fossem feitos os ajustes, diz o texto, o crescimento registrado poderia ter sido menor.

    Além disso, o relatório afirma que a produção mundial da droga está caindo: entre 2000 e 2006, “a área global de plantio da folha de coca diminuiu 29% e está em 159 mil hectares”, diz o relatório, que cita como motivo principal da queda a área de plantio na Colômbia.

    No mundo, o relatório encontrou estabilização no uso de cocaína, heroína, cannabis (maconha e haxixe) e anfetaminas. A cocaína, a maconha e as anfetaminas tiveram aumento no consumo na América do Sul e na Europa, e queda na América do Norte.
    Um dos fatores que podem contribuir para o aumento do uso de cocaína no Brasil, segundo a UNODC, é a importância do país nas rotas de tráfico da droga vinda da Colômbia, Bolívia e Peru com destino à Europa. As regiões mais afetadas pelo consumo de cocaína são o Sudeste e o Sul, e o Nordeste e o Norte têm o menor uso, segundo o relatório.

    Maconha
    Mas a cocaína não é a única droga que registrou aumento no consumo entre os brasileiros: a maconha, droga mais consumida no mundo, também cresceu. Apesar de o uso da maconha ter crescido em sete países da América do Sul, o aumento mais importante foi no Brasil.

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    Para a UNODC, este crescimento “provavelmente reflete a facilidade de se obter maconha vinda do Paraguai”. O relatório destaca que o Brasil não tem produção própria suficiente para suprir a demanda pela maconha, o que explica os grandes volumes trazidos do Paraguai.

    A ONU estima que 158,8 milhões de pessoas, ou 3,8% da população entre 15 e 64 anos, consuma drogas feitas com cannabis (maconha e haxixe) no mundo. Na América do Sul, há 6,7 milhões de usuários –número bem menor do que na América do Norte, com quase 31 milhões de consumidores.

    As drogas de cannabis são produzidas em pelo menos 82 países, e há registros de tráfico de em pelo menos 146 países –praticamente todos os países do mundo, de acordo com a ONU. Tem havido também aumento na plantação em lugares fechados –como dentro de casa em galpões ou estufas.

    Heroína
    De acordo com o relatório, o Brasil é também o maior mercado de derivados de ópio (como a heroína) na América do Sul. Há cerca de 600 mil pessoas que consomem a droga no país.

    Os dados são provenientes de uma pesquisa domiciliar realizada em 2005 por uma parceria Cebrid/Senad.

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    Em todo o mundo, há cerca de 15,6 milhões de usuários, principalmente na Ásia. Destes, 11,1 milhões são usuários de heroína.

    Este tipo de droga, afirma o relatório, é responsável por 60% da demanda por tratamento de saúde na Ásia e na Europa –o que dá idéia de seu potencial destruidor.

    Novas rotas
    O relatório da ONU também faz um alerta: o tráfico de cocaína que passa pela África para atingir o mercado europeu está cada vez mais evidente.

    De acordo com a UNODC, a cocaína é levada para países ao longo do golfo da Guiné, de onde é levada por “mulas” a diversos países da Europa. Há uma rota importante que passa pela África e sai da América do Sul –especialmente do Brasil, do Peru e da Venezuela.

    Autoridades da Guiné citadas no relatório estimam que 60% da cocaína que passa pelo país sai do Brasil.

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    Para o diretor executivo do UNODC, Antonio Maria Costa, é preciso mudar a forma que o mundo lida com o tráfico de drogas. “Esta é uma responsabilidade compartilhada nacional e internacionalmente –entre países que produzem e consumem, entre países vizinhos e entre todos os setores da sociedade”.

    Prevenção
    Já o representante regional do UNODC para o Brasil e Cone Sul, Giovanni Quaglia, afirma que as drogas têm que ser tratadas como questão de saúde pública.

    “É preciso trabalhar mais na prevenção e oferecer serviços a quem busca tratamento contra a dependência. E funciona. A Suécia, por exemplo, gasta 30% a mais em prevenção e tem 30% menos usuários de drogas que a média européia”, disse Quaglia em um comunicado da agência.

    Mais informações sobre o relatório mundial sobre drogas da UNODC de 2007 podem ser encontradas no site da agência.

    Voltei
    Alguma surpresa? Para mim, nenhuma! Não é difícil identificar as razões. A segurança pública vive um colapso no Brasil, como todos sabemos, e o narcotráfico ocupa hoje áreas do território brasileiro: lá não entram nem Polícia nem Forças Armadas.

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    Fossem terras contínuas, todas as áreas no Brasil entregues ao narcotráfico formariam um território maior do que a Colômbia que está sob o jugo da narcoguerrilha das Farc. Não obstante, temos homens vigiando um favelão no Haiti e nos oferecemos para mediar o conflito da Colômbia. Enquanto isso, os soldados das Forças Armadas Brasileiras vão lutando contra o tédio em solo nativo. Parece uma piada. E é uma piada.

    Mas não é só isso, não. Ao mesmo tempo em que o Brasil fecha o cerco às chamadas drogas legais e socialmente aceitas — cigarro e álcool —, aumenta sobremaneira a tolerância com as chamadas drogas ilícitas. Olhem bem: a subcultura da droga já chegou aos meios de comunicação e à academia e é permanentemente glamourizada. O Brasil inventou a teoria de que reprimir é inútil.

    Mais: de tal sorte a lógica da tolerância entranhou-se nos meios formadores de opinião, que se vêem como coisas antitéticas, por exemplo, a repressão e a política de redução de danos. Tenho lido muito sobre o que se faz em alguns países. A redução de danos é voltada para quem ou quer deixar de ser viciado ou reconhece que, escravo do vício, precisa pôr-se sob controle, para não sucumbir. São políticas restritas, exercidas em grupos fechados, sob rígido controle, com os pacientes devidamente cadastrados. Num país rico como a Holanda, por exemplo, a droga jamais será um fator economicamente relevante: o tráfico não é um setor empregador, entendem? No Brasil, é.

    Incúria do Estado com laxismo nos costumes dão nisso aí. A cada vez que o funk — lá vêm os protestos — aparecer glamourizado na televisão, como se tivesse algumas verdades eternas a nos dizer, o que se está fazendo é valorizar o universo subjetivo da droga, de que o tráfico é a manifestação objetiva.

    O Brasil é realmente um país do balacobaco: aprendemos a destrinchar e a combater todas as mensagens subliminares que associavam o cigarro a uma vida interessante. Fizemos bem em assim proceder. Em seu lugar, botamos a cocaína, o ecstasy, a maconha…

    Uma aposta: como reação ao relatório, aparecerão os gênios da causa para defender a descriminação das drogas, declarando a inutilidade da repressão. É aguardar para ver.

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