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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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As drogas e aqueles que se comportam como se estivessem acima da lei mesmo no exercício de um cargo público

Vamos nos divertir um pouco. Este post traz, ali abaixo, um vídeo. Antes, algumas considerações. Alguns leitores afirmam que errei ao afirmar que Pedro Abramovay, o, por assim dizer, cérebro da campanha “É Preciso Mudar”, foi demitido da Secretaria Nacional de Justiça por defender o fim da prisão de pequenos traficantes. “Foi da Secretaria Nacional […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h18 - Publicado em 25 jul 2012, 19h59
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  • Vamos nos divertir um pouco. Este post traz, ali abaixo, um vídeo. Antes, algumas considerações.

    Alguns leitores afirmam que errei ao afirmar que Pedro Abramovay, o, por assim dizer, cérebro da campanha “É Preciso Mudar”, foi demitido da Secretaria Nacional de Justiça por defender o fim da prisão de pequenos traficantes. “Foi da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad)”, alertam. Mais ou menos ou quase. Ele estava ainda na de Justiça e já havia sido indicado para a Senad quando deu aquela declaração infeliz. Foi imediatamente desautorizado pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), por determinação da presidente Dilma Rousseff.

    Eu pago um preço relativamente alto por ser claro, por evitar ser “ambíguo e anfíbio”, para citar um membro da ABL num embate com um confrade seu. E, por isso, sou bastante duro com certas áreas pastosas do pensamento e da militância. Cada um arque com o peso do que pensa, sem dar truque. A campanha “É Preciso Mudar” tem de deixar claro o que pretende aos milhões de brasileiros que a ela estão expostos. Aquele chororô lacrimoso que já foi banido, felizmente, até das novelas da Globo engana, trai a confiança dos desavisados. O cara do outro da tela tem o direito de saber qual é a proposta. E não sabe.

    Um dos presentes ao lançamento da campanha diga-se, era Carlos Minc, atual secretário do Meio Ambiente do Rio. Declarou o seguinte no dia: “Apoio o mandato da Dilma, mas acredito que, nesse assunto, ela não deu bons passos”. Huuummm… POIS É! EU NÃO APOIO O MANDATO DE DILMA E ACREDITO QUE, NESSE ASSUNTO, ELA DEU AO MENOS UM BOM PASSO: DEMITIR ABRAMOVAY!

    Minc estava lá, é? Faz todo sentido. No dia 10 de setembro de 2009, publiquei um post sobre esse senhor. Fossem as leis seguidas no Brasil, ele poderia estar prestes a deixar a cadeia.  Por quê? Reproduzo parte daquele texto. Ele ainda era ministro do Meio Ambiente. Os novos leitores talvez o ignorem. No fim, tem filminho, que não deve ser visto por crianças.

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    *
    Houvesse juízes no Brasil em número – e coragem – suficiente, o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, seria condenado à pena de um a três anos de cadeia. Se iria em cana ou não, bem, aí dependeria de um conjunto de fatores: eu seria tentado a trocar a punição por trabalho. Isto: Minc seria obrigado à maldição bíblica. Teria de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. So pra saber como é.

    Cana por quê? Ele tem de ser enquadrado no parágrafo 2º do artigo 33 da Lei 11.343, que trata do combate às drogas. No domingo, no show de um grupo de reggae chamado Tribo de Jah, na cidade de Alto Paraíso, perto da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o valente subiu ao palco para pregar a descriminação da maconha. Pregou só a descriminação? Ora, vejam o vídeo vocês mesmos. Minc fazendo um discurso daquele na Chapada dos Veadeiros vale por uma celebração metalinguística.

    Algumas pessoas ficam com a voz embargada de emoção. Minc é do tipo que fica com a voz pastosa. Engrolando aquela língua estranha, que rompe com a lógica e vai juntando alhos com bugalhos, o ministro subiu ao palco e deu vivas a Bob Marley, a Chico Mendes, à Paz, à resistência e conclamou: “Não vamos deixar queimar a Amazônia”. Parecia discurso de gente chapada.

    E isto, gente! Nada de queimar a Amazônia!

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    Minc não queima a Amazônia!

    De jeito nenhum! A Amazônia, Minc não queima!

    E também falou em defesa do cerrado, da caatinga, da Mata Atlântica, pediu que todos fechassem os olhos e abraçassem a amiga, o amigo, beijassem a namorada, o namorado… A droga, que mata milhares de pessoas por ano no Brasil — ou por causa do narcotráfico ou em decorrência dos malefícios advindos do consumo — era tratada ali como o elixir da paz. E os presentes gritavam “Maconha! Maconha!”.

    Então o homem resolveu pensar! Transcrevo um trecho. Importante dizer que, enquanto falava, Minc dançava. Metido num daqueles coletinhos eloqüentes, movia o barrigão e o “traseiro gordo” (by Fucker & Sucker) de modo um tanto constrangedor. Peço que atentem para a lógica severa da fala:

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    “Vamos acabar com a impunidade. Daí a importância da música, a consciência da rapaziada. Vamo defender o cerrado, a caatinga, a Amazônia, a Mata Atlântica e o o reggae, o reaggae é a liberdade.”

    Um maluco gritava:
    – A Maconhaaaa!!! E o pré-sal!!! O pré-sal!!!

    Voltemos com Minc.
    Outro recado. Ontem, a gente meteu três a um na Argentina. Só que tem um outro placar que a gente ta perdendo da Argentina. Os juízes da Argentina descriminalizaram o usuário. O usuário não é criminoso. E esse jogo, a gente está perdendo aqui. Nós vamos virar esse jogo. Nós vamos acabar com a hipocrisia. Consciência! (…) Viva a Tribo de Jah! Viva a consciência ecológica! Viva a natureza! Viva a liberdade!

    Espertinho, Minc não pronuncia a palavra “maconha”. Deixa pra galera!

    Já expus em outras ocasiões as razões por que as drogas não devem ser descriminadas  — e é preciso falar de todas as drogas, não só da maconha, como se faz habitualmente, num truque vagabundo. A questão, aqui, é outra. No conjunto da obra, a atuação de Minc vai muito além da defesa da descriminação.

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    Atenção!
    Há quem, parece, acredita que a maconha deva ser descriminada porque o dano da liberação seria inferior ao da repressão. Até onde entendo, é a posição de FHC, por exemplo. Está errado! Erradíssimo! Deveria parar de falar no assunto. Pensou mal a questão. Ademais, foi presidente da República por oito anos. Por que não tomou, então, as medidas consequentes? Porque um país não faz isso sozinho. Sua opinião está virando coisa de diletante. E vai acabar se misturando com irresponsáveis como Minc.

    Este ministro, como nota, não está tratando da descriminação como um mal menor. Nada disso! Ele acredita nos valores positivos da maconha; ele acredita, como se nota, que ela abra os umbrais de uma nova consciência. Qualquer um sabe o que significa um “viva” a Jah e sua tribo!

    FHC diga o que quiser, não é problema meu. Se sou de um partido da oposição digno deste nome — e desde que não defenda, claro, a liberação da maconha — pego este vídeo do Coroa do Rio e levo ao ar no horário eleitoral. Os brasileiros precisam saber o que pensa o ministro do Meio Ambiente. Enquanto mães arrastam a sua tragédia nas favelas do Brasil, enterrando seus filhos, perdendo-os para o narcotráfico, Minc brinca de fechar os olhos no placo e dar “vivas” à liberdade. A gente sabe bem o que isso significa.

    Política de redução de danos, por mais idiota que seja, é bem-intencionada. A de Minc implicaria um aumento brutal dos danos. Entre outras razões, as pessoas podem passar a discursar como Minc…

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    Ademais, o Brasil não deve nada à Argentina nesse quesito. A mesma lei que pune a apologia das drogas — e Minc fez apologia — já protege o usuário. Basta ler o Artigo 28. Aliás, ele tem até direito à assistência gratuita do Estado — sim, é uma obrigação pública tratar do drogado. Enquanto ele está dando vivas às drogas, não podemos importuná-lo com questões ou leis porque seria autoritário, reacionário. Quando o filho da mãe está todo estropiado, aí merece a assistência social por conta de um mal que adquiriu por vontade, por escolha, por opção.

    A tara de certos brasileiros pelo estado é tal, que a gente estatizou até os viciados.

    Ah, só para lembrar. Minc é o ministro que chamou os produtores rurais de “vigaristas”. Honesto é Minc.

     [youtube https://www.youtube.com/watch?v=HLWUk4H2BWI%5D

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