A IGREJA, O CELIBATO E O POSTE DE CHESTERTON
Eu não devo satisfações aos aiatolás de nenhum grupo: catolicismo, islamismo, judaísmo, daimismo, ateísmo… “Aiatolá”, aqui, é, evidentemente, uma metáfora. Defendi, sim, o fim do celibato na Igreja Católica — que não é e nunca foi matéria doutrinária. Se Pedro, que era Pedro, tinha sogra, por quer não o padre Serafim? Basta apenas se instruir […]
Eu não devo satisfações aos aiatolás de nenhum grupo: catolicismo, islamismo, judaísmo, daimismo, ateísmo… “Aiatolá”, aqui, é, evidentemente, uma metáfora. Defendi, sim, o fim do celibato na Igreja Católica — que não é e nunca foi matéria doutrinária. Se Pedro, que era Pedro, tinha sogra, por quer não o padre Serafim? Basta apenas se instruir sobre como e por que a Igreja fez essa escolha para constatar que ela pode mudar sem que se mude sua essência.
Sou católico. Não pertenço, por óbvio, à hierarquia nem a qualquer outro grupo religioso, embora, na maioria das vezes, eu me identifique com posturas chamadas por aí de “conservadoras”. Eu não cometo é o erro estúpido de considerar o celibato uma questão doutrinária. A menos que queriam jogar fora São Paulo. Eu também acho melhor casar do que abrasar-se, não é? Especialmente certo tipo de abrasamento que tem corroído a credibilidade da Igreja — infelizmente!
Considero a instituição muito mais importante do que supõem alguns que se querem seus guardiões. Para os crentes, ela guarda os princípios da fé; para a cultura, alguns dos fundamentos do que de melhor gerou a civilização ocidental. O desprestígio da Igreja Católica traz consigo a marca da decadência dessa civilização. Até quando uma escolha — QUE NÃO É DOUTRINÁRIA, REITERO, OU ME PROVEM O CONTÁRIO —, tornada deletéria ao longo da história, continuará a deitar a sua sombra sobre a instituição, tornando-a, a cada dia, um pouco menos relevante? E tudo porque há setores, como noto por certas reações iradas, que vêem qualquer mudança como o princípio do fim dos tempos?
Ora, essa gente precisa aprender uma singela lição de Chesterton: um poste que é continuamente pintado e reparado será sempre novo — e isso assegura a sua perenidade. Só assim ele pode ser virtuosamente antigo. Sim, trata-se da mudança que conserva, não da mudança que destrói. A Igreja tem de saber enxergar os novos tempos com os olhos de sempre; se fizer o contrário — usar os olhos de sempre para assegurar que nada muda —, marcará um encontro com a irrelevância.
Querem conservar a Igreja? Pois que se eliminem, então, as práticas que concorrem para os desvios de conduta. No terreno teológico e político, as “escatologias da libertação” e as “pastorais de minorias” — que negam a própria essência do catolicismo — minam a reputação da Igreja e a afastam de seus desígnios porque trazem para o seio da instituição uma pauta avessa a seus próprios fundamentos. Infelizmente, tem havido mais tolerância com essas correntes do que seria razoável. Nesse sentido, o pontificado de Bento 16 tem sido um tanto decepcionante.
No que diz respeito à relação com a comunidade, não adianta cobrir a verdade com o véu da hipocrisia, os desvios de conduta de quem usou a Igreja para se esconder — não para revelar uma vocação — tem empurrado a instituição para a página dos escândalos. A sacristia não condiciona uma sexualidade. Alguém a levou para lá e contou com circunstãncias que favoreceram tanto a sua repressão como a sua expressão.
Quem se dispõe a provar que o celibato está entre as verdades que podemos dizer reveladas? Querem enganar-se a si mesmos? Que o façam. Mas não tentem enganar os leitores. “Ah, logo apareceria alguém defendendo o casamento gay de padres”, dizem alguns. É provável. E outras demandas ainda mais “assustadoras” apareceriam. E a instituição não teria de ceder a nada que não concorresse para o seu fortalecimento,— e sem jamais abrir mão de sua doutrina.
Operando no limite escolhido por esses críticos, constato e indago: hoje, não existe a “pressão” pelo casamento gay de padres ou outras modernices. Ouso dizer que seria melhor essa pressão do que os descalabros que vazam das sacristias. As REALIZAÇÕES encobertas dos abrasados agridem a Igreja Católica muito mais do que as DEMANDAS escancaradas — que, de resto, são apenas SUPOSTAS. Até porque, convenham, reivindicar é direito de todos. A Igreja cede se quiser. Inaceitável é que ALGUNS sacerdotes joguem no lixo os seus votos e ainda acrescentem a essa atitude um crime detestável.
Aos tontos que resolveram me ofender por aí — alguns especulando até sobre a formação religiosa das minhas filhas (uma delas fez um catecismo de um ano, com aulas sobre os três monoteísmos) —, dizer o quê? Estou acostumado a lidar com brucutus e monopolistas da verdade. Quem disse que o espírito petralha — “Nós temos a verdade, e quem não está conosco tem de ser destruído” — é exlcusividade dos… petralhas?
Parem com o que chamo “exclamacionismo”!!! “Olhem o que ele escreveu!!!” Sim, escrevi: em 2007, em 2008 e, agora, em 2010. Em três anos, os escândalos de sacristia só fizeram crescer. Parem de exclamar e tentem contestar a minha tese central: O CELIBATO É UMA ESCOLHA; NÃO É MATÉRIA DE DOUTRINA E JAMAIS FOI INSPIRADO POR DEUS!
Por que não aceitam o meu desafio e não tentam provar que estou errado?
PS – Os que se querem “donos do conservadorismo” (!?!?!?) podem ficar tranqüilos. Por razoável, a chance de a minha tese vingar é reduzidíssima. Relaxem. Ninguém vai perturbar a paz dos que vão tocando lira rumo ao abismo. E vão ameaçar de excomunhão a vovozinha! Não só se querem representantes da Igreja como agora se sentem também verdadeiras autoridades eclesiásticas…
EU SOU CONSERVADOR. HÁ GENTE QUE É APENAS VELHA E CARCOMIDA. COMO UM POSTE QUE NÃO RECEBEU REPAROS!