A glossolalia lulista
Vocês já devem ter lido, mas que fiquem o registro e o comentário. No Estadao On Line. Volto depois: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, 14, que não haverá irresponsabilidade após o fim da CPMF e reforçou o compromisso do governo com a disciplina fiscal. “Não pensem que o presidente da […]
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, 14, que não haverá irresponsabilidade após o fim da CPMF e reforçou o compromisso do governo com a disciplina fiscal. “Não pensem que o presidente da República e o governo, porque os senadores votaram contra a CPMF, tomará alguma medida de irresponsabilidade. Vamos manter o superávit primário, vamos continuar com uma política fiscal séria, vamos arrumar um jeito de fazer as coisas acontecerem neste País. O PAC vai continuar”, disse em discurso na fábrica da Ford, onde participou de cerimônia de lançamento de um novo modelo. Na véspera, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a meta de superávit primário será cumprida “rigorosamente” e prometeu para a semana que vem o anúncio de medidas para compensar a perda de receita da CPMF.
Lula aproveitou para ironizar as atitudes da oposição em não aprovar a continuidade da cobrança, na tentativa de, em sua opinião, prejudicá-lo. “Se alguém votou contra (a CPMF) achando que aquilo poderia prejudicar o presidente deve saber algumas coisas. Primeiro, o presidente não é mais candidato. Segundo, eles prejudicaram o próximo presidente da República. E terceiro, alguém vai ter que responder porque a saúde deixou de receber R$ 24 bilhões a mais em 2008, ou porque a saúde deixou de receber a partir de 2010 mais R$ 80 bilhões”, alfinetou. E continuou: “Certamente as pessoas que votaram contra não usam o SUS, porque se usassem eles não votariam contra”.
Lula fez questão de agradecer também o empenho do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), para aprovar a CPMF. O tucano e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), trabalharam pela aprovação do tributo até minutos antes da emenda ser votada no Senado. É a primeira manifestação mais explícita de Lula sobre o assunto. Pouco antes, em outro evento, Lula teria confidenciado ao prefeito de Pirassununga, Ademir Alves Lindo (PSDB), que está “muito chateado” com a derrubada da CPMF e que sua preocupação, agora, é “arrumar” recursos para a saúde.
Economia
Mantendo o tom otimista, Lula afirmou que a economia entrou definitivamente em ciclo duradouro de crescimento. No dia seguinte à derrota no Senado, o presidente apenas tinha se reservado a dizer em viagem à Venezuela que eram ‘coisas da democracia’. Lula citou números da economia, tais como o recorde de vendas de veículos no Brasil, o aumento do emprego no setor industrial e o valor dos investimentos anunciados pelas montadoras nos próximos três anos, que totalizará R$ 10 bilhões.
Durante seu discurso, o presidente disse que o Brasil se encontrou consigo mesmo neste ano, “graças a Deus”. Ele destacou que o ABC paulista conviveu durante muitos anos com decréscimos da quantidade de emprego, mas que hoje a região vive um momento excepcional.
“Queria recordar que o espetáculo do crescimento foi dito por mim aqui, na fábrica da Ford, em agosto de 2003. Vejam a ironia do destino. Quando falei, fui achincalhado durante um ano. Mas não vi ninguém fazer uma autocrítica com o crescimento de 5,7% em 2007″, disse Lula, referindo-se aos números do IBGE sobre o crescimento do PIB no terceiro trimestre ante 2006.
“Antes de vir para cá, naquele dia, em 2003, eu estive reunido com Palocci (Antônio Palocci, então ministro da Fazenda) e Meirelles (Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central). Eles me garantiram que 2004 seria excepcional. E foi”, acrescentou.
Lula citou que o ano de 2005 foi um momento em que o País conviveu com problemas como a volta da cultura inflacionária e uma profunda crise política. “Foi um momento amargo para mim e para vocês. Teve gente que achava que era possível tirar o Lula da presidência”, comentou.
De acordo com o presidente, foi o apoio da população que permitiu que ele se mantivesse no cargo. “Isso acalmou os ânimos de quem se diz democrático, mas que não aceita a alternância de poder”, disse, ressaltando que o fato de pertencer a uma classe mais baixa e que não tinha acesso ao poder foi um dos principais motivos dessas críticas.
Voltei
Algumas coisas:
– então, como diziam as pessoas mais lúcidas, o fim da CPMF não era mesmo o fim do mundo; havia um tanto de terrorismo naquela conversa toda;
– o discurso de Lula deveria se voltar para a sua base de apoio. Por que ele não pune o PMDB, o PR e o PTB por não terem fechado questão? Ora, o DEM correu riscos e decidiu se opor unanimemente à contribuição. Os senadores do PSDB compraram briga com os governadores do próprio partido. Os aliados de Lula não poderiam fazer o mesmo?;
– como já se escreveu aqui tantas vezes, essa conversa de “espetáculo do crescimento” tem de ser vista no conjunto dos outros países que estão na mesma condição — e o Brasil é lanterninha. Isso é um dado. Mas, claro, há crescimento econômico, e isso é bom;
– o crescimento que aí está, é fato, decorre da conjuntura internacional e também das escolhas feitas pelo governo Lula, sim, senhores: ELE ESCOLHEU MANTER AS REGRAS DO GOVERNO FHC. E merece os parabéns por isso;
– mas não se acuse Lula só de continuidade. Seria uma injustiça: a saúde piorou muito; a infra-estrutura também. A segurança pública entrou em colapso. A educação universitária, embora não pareça, foi pro brejo;
– no caso da saúde, que se note: PIOROU MUITO MESMO COM A CPMF; NÃO SEM ELA. Veja-se o caso da dengue. Explodiu Brasil afora. Em 2002, os petistas cravaram em Serra o apelido de “ministro da dengue”. Cinco anos depois, está comprovada a competência do PT na área;
– em meio a sucessivas crises internacionais, em situação econômica muito mais precária do que agora, o governo FHC conseguiu ser premiado internacionalmente por seu trabalho na Saúde. O PT destruiu uma máquina que funcionava com razoável eficiência. Basta ver a miséria em que se transformou a Funasa;
– havendo caos na saúde, o único responsável é o governo federal. Trato disso no próximo post.