Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

A estupidez politicamente correta – Atenção! STF vai “julgar” hoje Monteiro Lobato, tratado como criminoso. Ou: Ministro Fux censuraria Shakespeare?

As hostes militantes estão destruindo o que resta de inteligência brasileira. O país nunca foi tão estúpido e tão cheio de si; tão ignorante e tão orgulhoso; tão cretino e tão altivo; tão burro e tão cioso de sua sabedoria. Um livro de Monteiro Lobato foi parar no STF. Acusado de racismo, há quem pretenda cassá-lo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h55 - Publicado em 11 set 2012, 16h11
  • Seguir materia Seguindo materia
  • As hostes militantes estão destruindo o que resta de inteligência brasileira. O país nunca foi tão estúpido e tão cheio de si; tão ignorante e tão orgulhoso; tão cretino e tão altivo; tão burro e tão cioso de sua sabedoria. Um livro de Monteiro Lobato foi parar no STF. Acusado de racismo, há quem pretenda cassá-lo da lista do MEC. Reproduzo trecho de reportagem da VEJA.com. Volto em seguida:

    O Supremo Tribunal Federal (STF) discute, na noite desta terça-feira, se libera o uso do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino. A audiência foi convocada pelo ministro Luiz Fux após o STF receber um mandado de segurança, impetrado pelo Instituto de Advocacia Racial, o Iara, e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Silva Neto, alegando que a obra possui elementos racistas.

    O debate não é novo. Em 2010, após uma denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou que a obra fosse banida das escolas. A repercussão do infeliz episódio fez com que o Ministério da Educação (MEC) pedisse ao CNE para reconsiderar a questão. O veto, então, foi anulado.

    Agora, contudo, a discussão retrocede. De acordo com o STF, o instituto e o técnico querem, com o mandado de segurança, anular o último parecer do CNE. Não faltam justificativas estapafúrdias para pedir a censura da obra. Eles afirmam que “não há como se alegar liberdade de expressão em relação ao tema quando da leitura se faz referências ao negro com estereótipos fortemente carregados de elementos racistas”. O documento diz ainda que o livro é utilizado como “paradigma” e, por isso, as regras adotadas para ele devem nortear a aquisição também, pela rede pública, de qualquer obra literária ou didática que tenha “qualquer forma de expressão de racismo cultural, institucional e individual”.

    Publicado em 1933, o livro povoa o imaginário das crianças e faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Escrito por um dos maiores nomes da literatura infantil brasileira, ele narras as aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo em busca de uma onça-pintada. As infundadas alegações de racismo estariam presentes em trechos como: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão” e “Não é a toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens.”

    Continua após a publicidade

    O ministro Luiz Fux afirma que espera, com a audiência, “ensejar um desfecho conciliatório célere e deveras proveitoso para o interesse público e também nacional”. Entre os convocados para o debate, estão os próprios autores do mandado, além do ministro da educação, Aloizio Mercadante, da presidente do CNE, Ana Maria Bettencourt, ed o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

    Voltei
    A simples convocação da audiência, num caso assim, já é evidência de degradação cultural, política e ética. Monteiro Lobato e qualquer outro autor que pertençam ao acervo da literatura brasileira devem ser objetos de trabalho em sala de aula. Os professores existem, entre outras razões, para orientar as leituras dos alunos, explicar em que contexto as obras foram produzidas, as circunstâncias históricas etc.

    Já tratei sobre este assunto no dia 29 de outubro de 2010. Pensei que a questão estivesse resolvida. Não está. Antonio Gomes da Costa Neto, mestrando da UnB, que denunciou Monteiro Lobato, afirmou em entrevista à Folha que não quer censurar Lobato. E fez o seguinte comentário estupefaciente:
    “Os professores, no dia a dia, não têm o preparo teórico para trabalhar com esse tipo de livro. Então, não é que ele deva ser proibido. O que não é recomendado é a sua utilização dentro de escola pública ou privada.

    Continua após a publicidade

    Ah, bom! É o mesmo argumento que se empregava no passado para tirar de milhões de brasileiros o direito de votar: eles seriam muito ignorantes para isso e acabariam fazendo besteira. É o argumento que a censura empregava durante as ditaduras havidas no Brasil, seja a de Getúlio, seja a militar: falta capacidade às pessoas para discernir o bem do mal, e a exposição a material potencialmente nocivo lhes causará prejuízos. A esquerda adere aos argumentos que dizia servirem antes aos conservadores. Não é, como se nota, que ela fosse a favor da liberdade; apenas era contra a censura aplicada pelos adversários. Quando aplicada pelos aliados, tudo bem!

    É um escárnio. Submete-se Monteiro Lobato a padrões, debates e proselitismos que estão postos hoje em dia, mas que não estavam dados então. É claro que não se descarta a possibilidade de um professor trabalhar em sala de aula a figura de Tia Nastácia  — que, atenção!, é um dado da formação histórica, familiar, social e moral brasileira. Que seja, pois, tema de aula se for o caso. Proibir a obra ou meter nela uma tarja de “racista” é uma estupidez sem-par.

    Uma boa questão para Luiz Fux, que é judeu
    Deverá agora “O Mercador de Veneza” vir com a advertência: “Cuidado! Obra antissemita, só recomendável para quem está devidamente instruído sobre este assunto”. Ou, do mesmo Shakespeare, sobrepor à capa de “Otelo” algo assim: “Cuidado! Sugere-se que temperamento desequilibrado do protagonista pode estar relacionado à sua origem racial”? Vai-se proibir Alexandre Herculano, em Portugal ou em qualquer lugar, ou apensar um tratado a seus livros, advertindo para a possível manifestação de preconceito contra a fé islâmica? É o fundo do poço moral, a que não se chega sem uma dose cavalar de ignorância, preconceito às avessas, estupidez e, obviamente, patrulha ideológica.

    Continua após a publicidade

    Já contei aqui de um amigo articulista que foi “molestado” — sim, molestado moralmente! — porque, num artigo sobre economia, escreveu que via “nuvens negras” no horizonte. Quis saber o militante: “Nuvens negras como sinal de coisa ruim? Não pode! É racismo”. Desde a “Ilíada” pelo menos, de Homero,  nuvens negras estão associadas a maus presságios, são prenúncios de acontecimentos aziagos — e os negros nem sequer haviam ainda entrado na história dita ocidental. Há nuvens negras em Machado de Assis, um autor considerado negro! Aliás, vejam vocês, ele também espelha em sua obra as relações sociais de seu tempo. Sem contar que, antes das tempestades, o céu costuma, efetivamente, enegrecer, não é?

    Querem mandar Monteiro Lobato de volta para a cadeia, agora uma cadeia moral. Em breve, Monteiro Lobato só poderá ser recomendado depois da leitura do livro “Emília, a boca de trapo, pede desculpas por todas as ofensas a Tia Nastácia”.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.