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“Me, mim, comigo”; “te, ti, contigo”; “se, si, consigo”… Ou: Gramática no Planalto!

Disse a Soberana Dilma Rousseff na Bahia sobre a Comissão da Verdade: “Eu acredito que, na questão da verdade, chegamos ao momento em que o Brasil encontra consigo mesmo. A gente encontra consigo mesmo porque a gente encontra sem revanchismos. Porque o revanchismo não é uma forma de encontro. Então, encontramos sem revanchismo, mas também […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h08 - Publicado em 18 nov 2011, 20h17

Disse a Soberana Dilma Rousseff na Bahia sobre a Comissão da Verdade:
“Eu acredito que, na questão da verdade, chegamos ao momento em que o Brasil encontra consigo mesmo. A gente encontra consigo mesmo porque a gente encontra sem revanchismos. Porque o revanchismo não é uma forma de encontro. Então, encontramos sem revanchismo, mas também sem o silêncio comprometedor da cumplicidade, sem as duas coisas”.

Alguém aí no Palácio dê umas dicas pra Soberana sobre o uso deste maltratado pronome pessoal do caso oblíquo “consigo”. Na norma culta, o “consigo” sempre se refere às pessoas, ou coisas, de quem ou de que estamos falando:
– “Lupi carrega consigo o ridículo”;
– “Os golpistas da USP levam consigo uma alma ditatorial”;
– “O Brasil se encontra consigo mesmo”.

Em Portugal, admite-se uma variante no uso do “consigo”, que pode se referir também à pessoa com quem falamos:
-“Soberana, o Lupi está aí fora e quer falar consigo para declarar que a ama” — jamais “lhe ama”, pelo amor de Deus! O “ama” e o “lhe” até podem aparecer juntos, mas em outra situação.

Notem: não é norma culta, não! É coisa da fala e está na categoria de variante regional.

Mas não dá, definitivamente, para empregar “consigo” quando o emissor se inclui entre as pessoas de quem se fala, daí ser inaceitável “A gente se encontra consigo…” Ora, a locução “a gente”, como se sabe, conjuga o verbo como terceira pessoa do singular, mas substitui os pronomes do caso reto “Nós” (eu + outro-s) e, em alguns casos, “Eu”. Na fala, é muito comum. No texto, costuma ser um desastre porque implica a repetição de palavras. Para ficar na fala de Dilma, o aceitável seria que dissesse: “A gente se encontra com a gente mesmo(a)…”, numa repetição desagradável.

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Ao recorrer ao “consigo”, tentou fundir o emprego popular da língua com uma suposta norma culta e errou. E se tivesse empregado o “nós”? Poderia ter dito “A gente se encontra conosco mesmos?” Pois é… Não poderia! O certo é: “Nós nos encontramos com nós mesmos”. Melhorando muito a expressão, para evitar a repetição: “Encontramo-nos com nós mesmos”. O “conosco” só pode ser empregado se não houver a indicação gramatical de quem fala (pronome, sujeito desinencial ou reflexivo): “Presidente, Lupi quer se encontrar conosco“.

Como Dilma empregou a palavra “mesmo”, proponho mais um diálogo.

Gilberto Carvalho – Presidente, Lupi está aí fora e quer falar conosco.
Dilma – #@&+§!!!
Gilberto Carvalho – Nossa, Soberana de Todos os Planaltos! Hoje a senhora está uma vara!
Dilma – O que ele quer conosco?
Gilberto Carvalho – Pedir que a Soberana não acredite no que vê, mas no que ele diz.
Dilma – Santinho, prefiro ficar aqui, falando com nós mesmos…

Eu sei que fica estranho, mas é o certo. Esse “mesmos” é um adjetivo, de caráter reflexivo, significando “próprios”.

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Não confundir com o “mesmo” em função adverbial, significando “de fato”, “realmente”:
“Santinho, você tem a certeza de que ele quer falar conosco mesmo?”

Notem que esse “mesmo” pode passear na oração: “Santinho, você tem mesmo a certeza de que ele quer falar conosco?”

“Por que isso, Reinaldo?” Porque eu quis. Porque o errado dá o mesmo trabalho que dá o certo. Então por que não escolher o certo?

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