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Reinaldo Azevedo

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“Era dentro de nós que estava a alegria,/ – A profunda, a silenciosa alegria…”

Tive – tivemos: eu e as moças – uma tarde e parte da noite à moda After Hours, o filme de Martin Scorsese. É bem verdade que, ali, o bizarro se casa com o imprevisível para infernizar a vida do rapaz. Acho que eu sabia o que me esperava quando decidi pegar a estrada. E […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h38 - Publicado em 5 mar 2011, 04h50
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  • Tive – tivemos: eu e as moças – uma tarde e parte da noite à moda After Hours, o filme de Martin Scorsese. É bem verdade que, ali, o bizarro se casa com o imprevisível para infernizar a vida do rapaz. Acho que eu sabia o que me esperava quando decidi pegar a estrada. E o previsível… se deu! Mas cheguei ao meu descanso, longe, tanto quanto possível – porque, de fato, é impossível – do ziriguidum, do balacobaco, do telecoteco…

    Até falar mal do Carnaval é aborrecido, não é? Sempre aquela melodia, sempre aquele baticumbum, sempre aquela subantropologia açucarada dos “especialistas”, tentando nos explicar que o tal “enredo” é um “roteiro” com começo, meio e fim, que remete à nossa brasilidade, àquela velha vocação, vocês sabem, para sair no sapatinho e chacoalhar o traseiro. Não há nada de novo no Carnaval nem no nosso tédio.

    Resolvi descansar um pouquinho. Como vocês notaram, voltei das férias de fim de ano com ainda mais disposição para desafinar o coro dos contentes. Se a “Era Lula” merecia uns 10 ou 12 posts de minha própria lavra por dia, a “Era Dilma” tem merecido o dobro porque muitos aspectos do petismo que estavam esboçados no governo do Apedeuta agora ganham contornos mais definidos no reinado da Soberana, o que enseja ainda mais trabalho. Mas há mais disposição do que braços. E os meus tendões estão um tanto estropiados, revelou uma ressonância magnética, naquela sua maldita sinfonia. Assim, enquanto o Brasil samba, meu esforço máximo deve ser segurar um livrinho e, eventualmente, erguer um copo de caipirinha. Com um pouco de sorte, o sol faz a sua parte.

    Pretendo voltar ao trabalho só na quarta-feira. Se eu não for traído pela conexão 3G, continuarei ligado ao que acontece no Brasil e no mundo. No caso de um evento excepcional, é claro que a gente tem um encontro marcado aqui. Como sempre, não estou bem certo de que cumpra a minha promessa. Tendo um tempinho, cliquem aí no “favoritos”. Pode ser que eu compareça aqui com o meu samba-enredo.

    Farei a mediação dos comentários nesses dias – mas não com aquela habitual presteza, né? Vocês certamente compreenderão. Pode demorar um pouco, mas daremos conta de todos.

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    Acho que já publiquei o poema aqui. Se é assim, faço-o de novo: “Sonho de Uma Terceira-Feira Gorda”, de Manuel Bandeira, que está no livro “Carnaval”. Que importa a gritaria que o cerca, leitor? Só o indivíduo é livre.

    SONHO DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA

    Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros,
    [e negras eram as nossas máscaras.
    Íamos, por entre a turba, com solenidade,
    Bem conscientes do nosso ar lúgubre
    Tão contrastado pelo sentimento de felicidade
    Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
    Que nos penetrava… Que nos penetrava como uma
    [espada de fogo…
    Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas.

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    E a impressão em meu sonho era que se estávamos
    Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
    – Dentro de nós, ao contrário, era tudo tão claro e luminoso.

    Era terça-feira gorda. A multidão inumerável
    Burburinhava. Entre clangores de fanfarra
    Passavam préstitos apoteóticos.
    Eram alegorias ingênuas, ao gosto popular, em cores cruas.
    Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida,
    De peitos enormes – Vênus para caixeiros.
    Figuravam deusas – deusa disto, deusa daquilo, já tontas e
    [seminuas.
    A turba ávida de promiscuidade,
    Acotovelava-se com algazarra,
    Aclamava-as com alarido.
    E, aqui e ali, virgens atiravam-lhe flores.

    Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
    O ar lúgubre, negros, negros…
    Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso.
    Nem a alegria estava ali, fora de nós.
    A alegria estava em nós.
    Era dentro de nós que estava a alegria,
    – A profunda, a silenciosa alegria…

    Até a volta!

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