Acho impressionante que alguns, visivelmente detestando a Igreja, se arvorem em seus conselheiros e, quem sabe, seus estrategistas. Digam-me aí o nome de outra instituição que tem sobrevivido por dois mil anos, suportando dois grandes cismas e um sem-número de facções que acabaram se desgarrando. Acho que a Igreja é um exemplo bem-sucedido de adaptação ao mundo que lhe é contemporâneo, sem, no entanto, esboroar-se. Peguem como exemplo outra “igreja”, cultora também de uma “verdade revelada” — de caráter supostamente científico, não místico: o comunismo. Este, sim, não suportou o choque com a realidade.
A Igreja Católica sabe, sem dúvida, sobreviver. Rio — de melancolia, não de satisfação — com os que gastam a sua verve para apontar a existência de uma Igreja vencida pelo tempo, pela história, pelas circunstâncias, pelo mundo que lhe é contemporâneo. Quando foi, afinal, que ela não esteve, de algum modo, nesse papel? A gente pode se divertir com a ideia, que não é insensata, de que só se conserva o que consegue mudar. É verdade. Mas a recíproca é verdadeira: não pode mudar aquilo que não tem o que conservar. Nesse caso, só a extinção está à espreita. Atenção para o que vem agora porque parece mero jogo de palavras, mas se trata da diferença entre a permanência e a desaparição: A IGREJA SOBREVIVE NÃO PORQUE SAIBA MUDAR — E ELA SABE! A IGREJA SOBREVIVE PORQUE SABE CONSERVAR.
Mas “conservar”, então, o quê? A gente chega lá.