Morar próximo a uma praça é sinônimo de qualidade de vida. Não por acaso. Poder estar próximo a uma área verde é um convite para caminhadas, descanso e passeios com a família e pets. Os grandes centros urbanos, no entanto, como se sabe, sofrem de escassez por esses espaços. Parte da explicação para essa realidade vem da nossa colonização. O projeto urbanístico português não era voltado para jardins e praças, diferentemente das culturas francesa e inglesa, que criaram a tradição de valorizar muito a projeção de inúmeras áreas verdes para convivência. Como fomos colonizados pelos portugueses, nossas cidades surgiram como espelhos das lusitanas e, portanto, com mais espaços construídos, com pedras e vias de acesso no lugar da vegetação abundante que tínhamos por aqui. Em vez dos ricos projetos paisagísticos franceses, ficamos com as diferentes tonalidades de cinza das pedras portuguesas.
Na busca por morar perto de parques e praças arborizadas, os moradores investem alto hoje em empreendimentos que lutam por terrenos ainda disponíveis nessas localizações tão nobres. Algumas incorporadoras resolveram essa situação de outra forma. Já que não conseguiam bons terrenos próximos a uma praça para subir seus condomínios, levaram a praça para dentro do empreendimento.
Uma ótima solução, mas que precisa de um grande fôlego financeiro por parte dos incorporadores. Afinal, deixar um considerável espaço verde à disposição dos moradores significa abrir mão de uma área útil que poderia ser incorporada ao projeto da construção. Os empresários que optaram por esse caminho compensaram o investimento no preço final dos imóveis. Não por acaso, os maiores projetos com praças privativas são voltados para a clientela de maior poder aquisitivo.
Um dos primeiros prédios com esse conceito de praça própria foi idealizado pela JHSF, uma das incorporadoras que estão na liderança do mercado imobiliário de luxo. Em 2010, ela lançou o Praça Vila Nova, no prestigioso bairro da Vila Nova Conceição na capital paulista, com duas torres de apartamentos de 400 e 500m2 com valores que chegam a 40 milhões de reais e com uma praça privativa repleta de jabuticabeiras.
Mais recentemente foi inaugurado o condomínio Praça Henrique Monteiro, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, projetado pelo arquiteto Arthur Mattos Casas, que subiu a praça para um andar superior, ampliou as calçadas e inseriu dentro do terreno do empreendimento residencial de 35 andares um hotel, um restaurante e uma boulangerie. Nas palavras do arquiteto, sua inspiração veio de quando morou em Paris e as pessoas desciam do prédio de pijama para comprar o pão de manhã cedo, numa atmosfera intimista da residência com o entorno.
Essa mesma concepção de interação com os espaços públicos foi a ideia que norteou a inclusão no projeto de uma praça exclusiva acima do térreo. Foi um sucesso de vendas. Os poucos apartamentos ainda disponíveis de 330m2 custam em torno de R$ 7.5. O restaurante e boulangerie capitaneados pelo restaurater Charlô Whately serão inaugurados na próxima semana, algo que certamente vai dar ainda mais vida à região.
Ainda na capital paulista, no bairro do Brooklin, a Cyrela está desenvolvendo o projeto Eden Park by Dror, com referência ao designer e artista israelense Dror Benshetrit, que assina a concepção do projeto. Trata-se de um empreendimento enorme que vai ocupar uma área de aproximadamente seis quadras, num total de 40 mil metros quadrados, com sete torres de unidades residenciais, escritórios, shopping e um parque arborizado com mais de 300 arvores. Aqui, mais uma vez, o espaço verde é o protagonista do empreendimento.
A onda das novas praças é uma ótima novidade, não apenas para os felizardos moradores desses empreendimentos. Espaços cheios de árvores, ainda que privativos, são bem-vindos às nossas metrópoles. Até os lusitanos que cultuam as tradições das pedras portuguesas hão de concordar com isso.