Num discurso em cima de um carro de som numa manifestação armamentista, há duas semanas, Eduardo Bolsonaro anunciou que horas depois iria se reunir com o ministro da Justiça, André Mendonça, e discutir a flexibilização do acesso a armas no país. O encontro se deu e o filho do presidente postou em suas redes.
Essa conversa talvez não tivesse ocorrido na gestão do antecessor Sergio Moro, avesso a armar a população de modo aberto. A aposta em temas antes evitados por Moro, no entanto, é a nova realidade na gestão do MJ, que tenta apagar a passagem do agora inimigo da primeira família do governo.
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Clique e AssineAos poucos, as ações, ou o “legado” de Moro, no ministério se esvai. Razão da saída de Moro, o controle da Polícia Federal pelo Planalto virou uma realidade. O atual diretor-geral da instituição, Rolando Alexandre, foi colocado no cargo por Jair Bolsonaro.
A recriação, dada como certa, do Ministério da Segurança Pública, é outra mudança na linha de ação de Moro, que foi contra o desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Outras atribuições assumidas por Mendonça são inimagináveis numa gestão Moro, como ter apresentado um habeas-corpus no STF para evitar a prisão de Abraham Weintraub, com base na famigerada Lei de Segurança Nacional. Na reunião de 22 de abril, o ex-ministro da Educação chamou de vagabundos os ministros do STF.
Até mesmo a transferência presos ligados ao crime organizado – uma política adotada por Moro em auxílio aos estados – é alvo de bolsonaristas, que querem que o atual ministro da Justiça evite que retorno de chefe de facções ao presídios e cidades de origem. Esse pedido tem chegado a Mendonça por meio de deputados.
Aliado de Moro no Congresso, o deputado José Nelto, de Goiás, ex-líder do Podemos, diz que a saída do ex-juiz da Lava-Jato do governo foi um retrocesso e que o cenário é de preocupação.
“O ex-ministro Moro foi boicotado pelo próprio governo, como no caso do juiz de garantia e em outros casos. Vejo com muita preocupação o que está acontecendo. A Polícia Federal não pode ser usada para perseguir adversários políticos. É uma polícia de Estado. É uma incógnita o que vai ocorrer. A sinalização não é boa”, disse Nelto.