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Perdido, governo chama poderes para dividir peso da crise dos incêndios

Reunião, nesta terça, ocorrerá na capital federal tomada pela fumaça e com áreas de preservação varridas pelo fogo

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 set 2024, 06h01

O presidente Lula passou boa parte da segunda-feira reunido com ministros para decidir o que fazer em relação à crise nacional provocada pelos incêndios florestais. Perdido que está em relação ao problema — o país sofre com as chamas há semanas e o Planalto perdendo tempo com temas laterais como a eleição da Câmara dos Deputados, que só ocorrerá no ano que vem –, Lula iria anunciar no mesmo dia as medidas que o governo tomaria — mas desistiu.

No lugar da nova coletiva, o petista decidiu ampliar o palco e chamar uma reunião com chefes de Poderes para estar terça. Na semana passada, ele saiu anunciando verbas de 500 milhões de reais para o combate ao fogo e aos efeitos da seca em diferentes regiões do país, lançou ao vento a ideia de treinar 70.000 recrutas do Exército para combater as chamas e viu-se na constrangedora posição de ser atropelado pelo ministro Flávio Dino, que mandou o governo contratar bombeiros e focar no óbvio: o fogo que não para de consumir parques nacionais, florestas nacionais, fazendas, reservas ambientais e terras indígenas em diferentes estados.

“Só agora o governo federal resolveu liberar verba. Já não vai resolver mais nada, o prejuízo está instalado e os Estados terão de arcar com queda na arrecadação, desemprego, óbitos e destruição do meio ambiente”, desabafou o governador Ronaldo Caiado, também mergulhado na crise das queimadas em Goiás.

Lula também anunciou a criação da Autoridade Climática, um órgão que, como mostra o Radar na edição de VEJA, nem os ministros do governo sabem como funcionará ou o papel que terá numa estrutura já travada pela gestão da Casa Civil de Rui Costa. A grande comitiva de Lula que foi ao Amazonas, diga-se, não livrou uma árvore do fogo, mas o roteiro deu ao presidente muitas fotos, vídeos e discursos para exibir nas redes.

Alguns dos convidados por Lula avaliam que o encontro terá o clima constrangedor de ocorrer numa capital tomada pela fumaça e com impacto pequeno no curto prazo. No Parlamento, aliados da própria base ironizam a situação. “O governo deveria ter adotado medidas, investido em estrutura e se preparado para o avanço do fogo. Não fez, e agora quer partilhar a crise. Só falta anunciar um Grupo de Trabalho sobre queimadas”, ironiza um cacique.

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A lentidão do governo em atuar na crise é fato consumado. Em defesa do Planalto, no entanto, está mais do que na hora de o Congresso aparecer para trabalhar. Deputados e senadores reduziram expediente em Brasília para se jogarem na campanha municipal e, no pouco tempo que passaram na capital, gastaram todas as energias nas negociatas das eleições das mesas diretoras da Câmara e do Senado. É o velho descolamento de realidade dos políticos, sempre envolvidos em projetos de poder e jogos de interesses particulares.

Nesse ponto, a reunião de Lula terá pelo menos a função de colocar o Legislativo no centro do problema que a maioria dos caciques fingiu não ver até aqui — apesar do ar carregado de fumaça das últimas semanas.

“Vivemos no país do futuro. Onde os problemas chegam, mas os acordos e compromissos assumidos pelo governo, não”, ironiza um líder da Câmara, em referência ao recente “pacto” fechado no mês passado entre os poderes sobre uma tal “transformação ecológica”. Nesta segunda, crianças não conseguiram dormir nem foram para a escola em áreas centrais de Brasília por causa da fumaça. Mas o país — que reconfortante — tem um pacto aprovado que prevê 26 medidas.

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Daqui a dois meses, Lula irá com uma grande comitiva para a COP-29 no Arzebaijão. Não é pouca coisa. O país da COP da floresta — que será realizada no Pará no próximo ano — chegará em cinzas para discursar ao mundo sobre proteção das matas, rios e nascentes.

A reunião dos poderes deve produzir acordos para que a burocracia não seja um problema na liberação de verbas e, quem sabe, para o endurecimento da atuação da polícia com quem provoca incêndios criminosos. A pedra foi cantada por Caiado, nesta segunda, quando disse que iria acionar o Supremo para poder agir contra os criminosos. “Se o governo federal é que tipifica o crime e ele cruza os braços, o cidadão continua incendiando o Brasil inteiro, então essa é a minha opção como governador”, disse.

 

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