Para Bolsonaro, Mauro Cid se deslumbrou com poder e fez tudo sozinho
Ex-presidente compartilhou com interlocutores, nos últimos dias, sua versão sobre a história registrada pela PF nas investigações no STF
Nas várias conversas que teve com interlocutores nos últimos dias, Jair Bolsonaro deu uma prévia do que poderia ser seu depoimento na Polícia Federal, caso decidisse falar das acusações levadas pelos investigadores ao STF.
O ex-presidente disse que jamais teve contato com qualquer articulação concreta de golpe no governo. Sustentou que ouvia reclamações em tom de bravata, mas que nunca embarcou em aventura por ter consciência de que o país se tornaria economicamente ingovernável após o eventual golpe.
Na versão de Bolsonaro, toda a trama flagrada pela Polícia Federal — com amplo conjunto de provas — não passou de um sonho aloprado de Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens, então o homem de confiança do presidente da República, teria se deslumbrado com a proximidade do poder e passado a atuar por conta própria pelo golpe com outros contatos do seu círculo de relações nos quartéis.
Sobre a tal minuta de golpe, Bolsonaro sustentou, nessas conversas, que o estado de sítio, um dispositivo previsto na Constituição, só seria colocado de pé com a aprovação do Conselho da República — formado por autoridades dos outros poderes –, algo improvável e que já tiraria o crédito da versão construída pelos investigadores.
Como o Radar mostra nesta semana, em VEJA, Bolsonaro acredita que é vítima de uma perseguição pessoal de Alexandre de Moraes, o ministro que foi mais duramente atacado pelo ex-presidente durante a gestão passada.
Crível ou não, a versão de Bolsonaro para essa página da história será colocada em teste quando os investigadores revelarem o que foi dito pelos comandantes militares que prestaram depoimentos sobre o plano golpista.