Jair Bolsonaro regrediu nos últimos dias. Com a pandemia no seu pior momento no país, decidiu vestir o personagem que em abril de 2020 disparava contra governadores e tentava transferir o desgaste aos mandatários estaduais por falhas de gestão do Planalto na Saúde.
Ao travar um debate sobre repasses de verbas aos estados e levantar suspeitas sobre desvios de recursos por parte de governadores, Bolsonaro atraiu uma forte reação dos governadores. A posição de confronto é a que mais conforta o presidente da República.
Auxiliares próximos ao presidente ouvidos pelo Radar faziam a avaliação, nesta terça, sobre a conduta de Bolsonaro e tentavam justificar a série de disparates — como atacar a efetividade da máscara no combate à propagação do vírus — como uma jogada presidencial para dividir com governadores a culpa — e o desgaste — pelo colapso na saúde e a miséria generalizada pela demora do auxílio emergencial.
“O presidente fez esse barulho todo porque a culpa estava ficando toda com ele. O cidadão não tem dinheiro e a prefeitura fecha o comércio lá no interior do Ceará e a culpa é do Bolsonaro? Aí não dá. O presidente quis mostrar que a culpa não é dele”, diz o ministro.
Mas Bolsonaro não tem responsabilidade então por essa série de graves falhas de gestão na Saúde? Boicotar constantemente medidas de segurança, desqualificar a vacina, a máscara e outras medidas contra o vírus não são graves? O ministro não se esquiva. “O presidente é assim. Comete erros ao falar contra máscara e vacina? Comete. Mas ninguém votou em 2018 achando que estavam elegendo um Fernando Henrique. Sabiam que Bolsonaro era isso aí”, diz o ministro.
O presidente precisa desesperadamente dividir o desgaste da tempestade que ele próprio atraiu para seu governo por um motivo simples. O sonho da reeleição. Monitoramentos de rede mostram que a demora na discussão do auxílio emergencial, somada ao atraso na chegada das vacinas e a pressão sobre os sistemas de saúde, reforçam as críticas ao Planalto. Bolsonaro sangra sua popularidade, mas não é capaz de recuar no negacionismo. Prefere, claro, mais confronto.