O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, participou há pouco da cerimônia de lançamento de uma cartilha da pasta para orientar a escolha de conselheiros tutelares em 2023 e disse que tinha preparado algo pra falar com “muita alegria e muita satisfação” sobre a ação do ministério, mas resolveu fazer um desabafo de improviso sobre o assassinato de quatro crianças com idades entre 5 e 7 anos, dentro de uma creche em Blumenau (SC), na manhã desta quarta-feira.
“Só que eu não tô feliz. Eu não tô feliz. Hoje não é um dia de festa, hoje é um dia de tristeza. Eu não vou aqui repetir aqui algumas palavras que se tornam até uma certa muleta retórica para administradores públicos, e falo isso com todo o respeito porque sou um, me tornei um, que é falar de democracia, republicanismo, democracia participativa. Nada disso… isso tudo, no máximo, é uma busca, é um caminho que nós temos que percorrer pra fazer isso acontecer”, declarou Almeida.
“Mas, na verdade, é o seguinte: um país — um mundo, né? — que mata crianças é tudo menos democracia. É tudo menos um mundo decente. Eu sinto ter que dizer isso hoje. Mas eu tô dizendo isso hoje porque é só assim que a gente vai conseguir entender o que nós temos que fazer pra mudar. Senhoras e senhores, nós estamos falhando miseravelmente com as crianças e com os adolescentes. Nós estamos falhando miseravelmente com as pessoas que mais precisam de nós nesse país, e nós temos que admitir isso pra poder dar um passo pra frente”, complementou o ministro.
Assista a seguir ao discurso do ministro:
Ele então se dirigiu à Jhenyffer Daiane da Silva Santos, de 16 anos, que participou do evento representando o Comitê de Participação de Adolescente e vive em uma uma instituição de acolhimento, e pediu desculpas a ela em nome do Estado brasileiro.
“Eu queria me desculpar porque eu diria que muito do que você tem passado na sua vida eu quero dizer que não é culpa sua, não. É culpa da sociedade brasileira, do Estado brasileiro, da maneira com que nós temos tratado as crianças e os adolescentes desse país, há muito tempo, da maneira como a sociedade em geral, os governos, eu diria que as entidades todas, as entidades empresariais, todo mundo, do jeito que nós temos tratado as crianças desse país”, afirmou Almeida.
“Porque, vejam, nós estamos falando de crianças que foram assassinadas hoje, mas há outro jeito de se matar crianças também, né? E que nós temos cultivado e normalizado isso há muito tempo. Nós temos permitido que crianças passem fome no Brasil. Crianças morrem de fome. Nós temos permitido que crianças fiquem sem escola. Nós temos permitido, isso há muito tempo, que as crianças morem… não é moradia, na verdade, que as crianças fiquem nas ruas, sem amparo, sem proteção”, acrescentou.