Medo de prisão e de o golpe flopar fez Bolsonaro recuar, diz militar
"Ele está com decreto pronto. Ele assina e aí ninguém vai. Ele vai preso. Então, não vai arriscar", disse Sérgio Cavaliere a outro militar
Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram um diálogo bastante ilustrativo sobre os fatores que levaram Jair Bolsonaro a segurar sua “bic azul” na hora de assinar o decreto de golpe de Estado no fim de 2022.
Segundo Sergio Cavaliere, um dos auxiliares do presidente, informou ao coronel Gustavo Gomes no dia 20 de dezembro daquele ano, o presidente temia ordenar o golpe e ficar sozinho, como ocorreu no Peru, onde Pedro Castilho cruzou o rubicão e acabou preso. Esse destino assombrava Bolsonaro, na avaliação do auxiliar.
“O presidente não vai embarcar sozinho, porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto. Ele assina e aí ninguém vai. Ele vai preso”, disse Cavaliere.
Naqueles dias, os comandantes das Forças Armadas eram pressionados a aderir ao golpe, que incluiria as mortes de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, além da criação de uma junta provisória que governaria o país e passaria a estabelecer o que seria verdade no Brasil a partir de então.
Pela lógica, uma investigação seria aberta para divulgar ao país que as eleições foram fraudadas. Seria essa a verdade e a partir daí o país estaria no escuro.
“Posteriormente, no dia 20/12/2022, o coronel Gustavo Gomes pergunta se há ‘algo novo no front’. Na resposta, Sérgio Cavaliere cita novamente Mauro Cid como fonte, afirmando que ‘não vai rolar nada’. Na continuidade do áudio, o investigado ratifica, que o Alto Comando do Exército não aderiu ao golpe e que a Marinha aceitou, mas necessitaria da participação de outra Força, pois ‘não guenta a porrada que vai tomar sozinha’. Em seguida, Cavaliere profere ataques aos integrantes do Alto Comando dizendo ‘nossos líderes, formados naquela escola de prostitutas né, por escolherem um lado, o seu lado lado pessoal, em detrimento do povo’”, relata a PF.
Na sequência do áudio, Cavaliere explica o motivo de o então presidente Jair Bolsonaro não ter publicado o decreto golpista, que estava pronto, diz: “E o presidente não vai embarcar sozinho, porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto. Ele assina e aí ninguém vai. Ele vai preso. Então, não vai arriscar (…)”.