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“Me retiro da disputa com o coração ferido”, diz Doria

Partido pressionou o tucano a deixar a corrida presidencial

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 Maio 2022, 15h45 - Publicado em 23 Maio 2022, 12h11
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  • João Doria anunciou há pouco que vai sair da disputa ao Planalto. Fez o comunicado ao lado de lideranças do PSDB, que pressionaram para que ele retirasse o projeto presidencial.

    O tucano fez um longo discurso relembrando sua trajetória política e a de seu pai. “Tenho orgulho de ter feito uma gestão transformadora no estado, reconhecida até mesmo por adversários. Me empenhei diretamente para trazer a vacina contra a Covid-19. Procurei fazer o certo. Salvamos vidas e a economia”, disse Doria.

    Agradeço aos mais de 17.000 filiados do PSDB que escolheram meu nome para disputar a Presidência. O Brasil precisa de uma alternativa para aqueles que não querem os extremos. Coloquei meu nome à disposição do partido. Entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito com cabeça erguida”, disse Doria. “Me retiro da disputa com o coração ferido e alma leve”, complementou.

    Leia a íntegra do discurso de Doria:

    Boa tarde a todos.

    Hoje é um dia de respostas, mas também um dia de perguntas.

    As pessoas sempre me perguntam por que deixei uma vida de conforto à frente das minhas empresas bem-sucedidas, para entrar na política? 

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    Sou filho de um político cassado pelo golpe militar de 64. Meu pai, tal como eu, começou a vida pobre, mas lutou, trabalhou e alcançou uma vida confortável, dono de uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Até o dia que decidiu, inspirado por Franco Montoro, a lutar por um Brasil melhor. 

    Nele, era premente e urgente a necessidade de servir ao povo brasileiro, de combater a desigualdade e a injustiça social.

    João Doria foi eleito deputado federal e, em abril de 64, foi cassado pelo golpe militar. Perdeu seus direitos políticos, todos os seus bens e foi obrigado a viver no exílio.

    Inspirado pelos ideais e pela coragem de meu pai, e coincidentemente também motivado por Franco Montoro, colaborei desde cedo com a vida pública. Com Mário Covas fui Presidente da Paulistur e Secretário de Turismo, em São Paulo. Por conta de uma gestão bem-sucedida, fui convidado a presidir a Embratur, emblematicamente criada por um projeto de lei de autoria de meu pai.  Como militante e ativista, organizei, a pedido de Franco Montoro, o histórico comício das Diretas Já, na praça da Sé, em 25 janeiro de 1984, aqui em São Paulo.

    Com perseverança, dedicação e trabalho, construí  uma carreira sólida na iniciativa privada e coloquei de pé um grupo empresarial de sucesso. 

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    2015 marcava o auge de uma recessão brutal que dizimou milhões de empregos, guilhotinou a renda, levou a inflação às alturas e destruiu sonhos. Nada muito diferente do que enfrentamos hoje. Inconformado, acompanhava as medidas econômicas equivocadas de um governo incompetente e o desvio de dinheiro público.  

    2016 seguindo os passos de meu pai, decidi disputar uma eleição.

    Começa aí minha saga, no meu partido.

    No PSDB disputei 3 prévias: para prefeito, para governador e para presidente.  As 3 únicas prévias na história do partido. Venci as prévias em 2016. E logo depois venci as eleições para a prefeitura da maior cidade do país, no primeiro turno. Fato inédito na história política de São Paulo.

    Guardo as melhores lembranças da prefeitura. E do meu amigo Bruno Covas.

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    Tenho orgulho de ter zerado a fila de exames nos postos de saúde, com o inédito Corujão da Saúde. Atendemos a população em situação de rua com os Centros de Acolhimento, recuperamos praças, avenidas e ruas. Promovemos a maior inclusão de crianças desassistidas no redimensionamento das creches e escolas municipais. Lançamos os programas de concessão do Parque do Ibirapuera, do Pacaembú e do Anhembi, entre outras conquistas importantes para a cidade.

    Em 2018, novamente disputei e fui vitorioso nas prévias do PSDB para a eleição a governador do Estado de São Paulo. Mais uma vez, venci as prévias e venci as eleições, sendo eleito governador de São Paulo.

    Tenho orgulho de ter feito uma gestão transformadora no estado, reconhecida até mesmo por adversários. Diante do desafio histórico da pandemia, me empenhei pessoalmente para trazer ao Brasil 124 milhões de doses da vacina contra a Covid-19.  Procurei fazer o certo. Salvamos vidas e a economia. Na pandemia, São Paulo cresceu cinco vezes mais do que o Brasil, gerando um terço de todos os novos empregos do país. Por todo o território nacional, a vacina foi sinal de esperança, salvando milhões de brasileiros. Vencemos, com a ciência, os discursos do ódio, das fake news e o negacionismo. 

    Assim como, na saída da prefeitura, quando deixei o comando da cidade nas mãos do saudoso Bruno Covas, desta vez também deixei o governo de São Paulo em boas mãos. Rodrigo Garcia está levando em frente um trabalho que começou com uma equipe de craques, e que certamente lhe renderá a vitória nas eleições deste ano. Rodrigo será, com muita justiça, reeleito governador de São Paulo.

    Em dezembro do ano passado, mais uma vez disputei as prévias do partido para ser candidato a presidente da República. E mais uma vez, as venci.

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    Fica aqui minha gratidão aos brasileiros da cidade de São Paulo que me deram mais de 3 milhões de votos na prefeitura, aos quase 11 milhões de votos ao governo de São Paulo. E aos mais de 17 mil militantes do PSDB que me escolheram como candidato a presidente do Brasil.

    Agradeço também aos mais de 6 milhões de brasileiros que, nas pesquisas de opinião pública, já manifestaram a intenção de votar no meu nome para presidente, antes mesmo do começo da campanha eleitoral.

    O Brasil precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção. E nem aquele que não deu conta de salvar vidas, não deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo o mundo.

    Para esta missão, coloquei meu nome à disposição do partido.

    Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal. O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano. 

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    Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção.

    Saio com o sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros. 

    Saio como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que tem fé na vida e em Deus.

    Peço desculpas pelos meus erros. Se me excedi, foi por vontade de acertar. Se exagerei, foi pela pressa em fazer com perfeição. Se acelerei, foi pela urgência que as ações públicas exigem.   

    Os acertos foram fruto do trabalho em equipe, da ousadia e da coragem, do propósito que sempre persegui. De sempre fazer bem feito o que tem que ser feito. 

    Respeito e trabalho. Fazer do possível o impossível. Esse é meu mantra. Levo por onde eu for.

    Agradeço a minha equipe aguerrida, aos membros do partido que sempre me defenderam, aos que lutaram ao meu lado, aos que foram leais e que defenderam a democracia interna do partido. E defendem, como eu, a liberdade e a igualdade no Brasil.

    Agradeço aos colaboradores que estiveram comigo na prefeitura e no governo do estado, que se empenharam para os resultados históricos que alcançamos.

    Agradeço aos militantes do PSDB, extraordinários guerreiros que nunca me abandonaram.

    Agradeço a Deus pela disposição que sempre me deu, pela capacidade de trabalho, senso de justiça e paz no coração.

    Agradeço igualmente à minha família, à Bia, aos meus queridos filhos, Johnny, Felipe e Carol, ao meu querido irmão Raul e sua linda família. Agradeço também a todos os verdadeiros amigos que sempre me apoiaram, em todas as minhas decisões. 

    Por fim, relembro aqui o belo poema atribuído a Cora Coralina: “Tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros. Mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.

    Seguirei como observador sereno do meu país. Sempre à disposição de lutar a guerra para a qual eu for chamado. Na vida pública ou na vida privada.

    Que Deus proteja o Brasil.

    Muito obrigado e até breve.

     

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