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Leia a íntegra do discurso de Edson Fachin no TSE

Ministro assumiu o comando do tribunal nesta terça-feira

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 nov 2022, 18h04 - Publicado em 22 fev 2022, 20h41
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  • Edson Fachin assumiu nesta terça o comando do TSE. O ministro fez um duro discurso contra os ataques ao sistema eleitoral protagonizados por Jair Bolsonaro e apoiadores do governo. Leia a íntegra do pronunciamento do novo chefe da Justiça Eleitoral:

    Agradeço, genuinamente honrado, as ilustres presenças nesta sessão.

    Assumo a honrosa posição de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. São mais de trinta
    anos de Estado de Direito democrático à luz da Constituição de 1988; governos e governantes
    sucederam e foram sucedidos; alçamos a maturidade democrática nessas três décadas com
    enorme ganho institucional.

    Nada obstante, assumo essa função atento, de imediato, aos árduos desafios da hora que
    vivemos. Nela, a esperança nos move em direção à cooperação pacífica entre as instituições;
    cumpre-nos, assim, preservar o patamar civilizatório a que acedemos e evitar desgastes
    institucionais. Esse patamar a que acedemos é, dentro do marco constitucional, um direito
    inalienável do povo. Dele retroceder é violar a Constituição.

    Cumpre, assim, agregar a sociedade pelo bom exemplo. A tolerância, a disposição para o
    diálogo e o compromisso inarredável com a verdade dos fatos afloram no povo quando,
    primeiramente, constituem faróis para o labor diário das autoridades de todas as esferas. Aos
    líderes e às instituições, portanto, toca repelir a cegueira moral e incentivar a elevação do
    espírito cívico e as condutas de boa-fé que abrem portas ao necessário comportamento
    respeitoso e dialógico.

    Há muitos desafios a serem enfrentados. Menciono alguns deles.

    O primeiro desafio é proteger e prestigiar a verdade sobre a integridade das eleições
    brasileiras.

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    O Tribunal Superior Eleitoral tem indisputado histórico de excelência de organização e
    realização de eleições seguras, corpo técnico multitudinário e capacitado, legitimidade
    constitucional em suas atribuições, e desenvolve Programa de Enfrentamento à
    Desinformação estruturado e em pleno funcionamento.

    Este Tribunal comunga os seus afazeres com tribunais regionais, juízas e juízes eleitorais,
    servidores, funcionários e colaboradores que atuam na Justiça Eleitoral que completa 90 anos
    de existência e 25 anos de urnas eletrônicas, com eleições íntegras e confiáveis.

    O segundo desafio é o de fortificar as próprias eleições, as quais, como se sabe, constituem a
    ferramenta fundamental não apenas a garantir a escolha dos líderes pelo povo soberano, mas
    ainda para assegurar que as diferenças políticas sejam solvidas em paz pela escolha popular. A
    democracia é, e sempre foi, inegociável.

    A democracia, casa acolhedora do plural, tem espaço suficiente para todas as cosmovisões.
    Estende liberdades a todas e todos: o conservador democrata, o liberal democrata, o
    progressista democrata e o centrista democrata, independentemente das diferentes
    convicções que levam no coração, preservarão, juntos, a prerrogativa constante à correção de
    rumos, que a rigor corresponde a não desistir de melhorar o país.

    A estabilidade democrática, nesse contexto, só é possível à vista de um comprometimento
    integral, a unir a sociedade e seus inúmeros atores em uma aliança forjada sobre o solo firme
    da reciprocidade.

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    O terceiro desafio, e que transcende a Justiça Eleitoral, é o respeito ao escore das urnas; mais
    do que reconhecer a dignidade do outro, é também proteger o avanço civilizatório.
    E é assim que, em nosso país, por meio das seguras urnas eletrônicas, as eleitoras e os
    eleitores decidem, em conjunto, a pilotagem do futuro e a escolha dos líderes e da orientação
    geral das políticas públicas.

    A transparência das atividades governamentais, a probidade, a responsabilidade dos governos,
    na gestão pública, o respeito aos direitos sociais e a liberdade de expressão e de imprensa são,
    não por acaso, componentes fundamentais do exercício da democracia (Carta Democrática
    Interamericana, art. 4º).

    Nos ambientes democráticos, é forte a imbricação existente não apenas entre liberdade de
    expressão e democracia, mas, também, entre liberdade de imprensa e formação da vontade
    popular.

    Paz e segurança nas eleições em 2022, eis o que almejamos.

    Quem é da paz diz não à violência de gênero e de todas as suas formas, não à misoginia, não à
    homofobia, e clama: sim à dignidade, à liberdade, aos direitos fundamentais, aos deveres
    essenciais de cada pessoa, da família e da própria sociedade constitucional: livre, justa e
    solidária.

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    Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente
    respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.
    Nosso quarto desafio é o combate à perniciosa desconstrução do legado da Justiça Eleitoral.
    Seremos implacáveis na defesa da história da Justiça Eleitoral. Calar é consentir.
    Dentro de seu campo de atuação, a Justiça Eleitoral, ao longo de seus 90 anos, tem
    assegurado, com reconhecida excelência, a higidez de mecânicas elementares para o
    processamento pacífico dos dissensos coletivos, na escolha de representantes do povo e,
    assim, para a manutenção da estabilidade político-social.

    Há que se respeitar, desse modo, a dimensão de sua grandeza histórica, extraída do seu
    longevo papel de agente da paz e garante fiel do poder e da voz das cidadãs e dos cidadãos,
    dos tempos das urnas de lona à era do voto eletrônico, referendado por especialistas
    independentes e por diversas instituições públicas como um paradigma de integridade para
    todo o mundo. Há que se levar a história a sério.

    A Justiça Eleitoral é, para todos os efeitos, ao lado das instituições constitucionais, incansável
    fiadora da democracia e limite às alternativas opressoras do passado. Dentro desse contexto,
    as investidas maliciosas contra as eleições constituem, em si, ataques indiretos à própria
    democracia, tendo em consideração que o circuito desinformativo impulsiona o extremismo.
    O Brasil merece mais. A Justiça Eleitoral brada por respeito. E alerta: não se renderá.
    Cumprir a Constituição da República se impõe a todos: o Brasil é uma “sociedade fraterna,
    pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna
    e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.

    Diante desses desafios, há, por isso mesmo, urgências inadiáveis.

    É urgente e imprescindível: a união de atores comprometidos com o sistema democrático, a
    fim de preservar, mediante suas vozes, o protagonismo da verdade no sistema informativo.
    Impende preservar a união e a concórdia, recusando, a todo o custo e por todos os meios
    legítimos, as armadilhas da pirataria informativa.

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    A desinformação não tem a ver, apenas e tão somente, com a distorção sistemática da
    verdade, isto é, com a normalização da mentira. A desinformação vai além e diz também com
    o uso de robôs e contas falsas, com disparos em massa, enfim, com todas as formas de
    comportamentos inautênticos no mundo digital. Diz, mais, com a insistência calculada em
    dúvidas fictícias, bem ainda com as enchentes narrativas produzidas com o fim de saturar o
    mercado de ideias, elevando os custos de acesso a informações adequadas.
    Por isso mesmo, parece-nos igualmente urgente e imprescindível cessar o esgarçamento dos
    laços sociais. Uma sociedade quista em comunhão não pode – simplesmente não pode! –
    flertar com o rompimento.

    Atenta às suas responsabilidades constitucionais e democráticas, a Justiça Eleitoral, como
    instituição responsável pelo processamento pacífico das diferenças políticas, tem um papel
    específico a desempenhar: cabe-lhe acudir a verdade escrutinada e, com ela, promover a
    tolerância.

    A tolerância, isto é, o exercício de reconhecer a dignidade alheia é, como se sabe, um
    elemento indispensável para a harmonia social. Invoca, nesse sentido, a ideia de que pessoas
    são iguais em dignidade e que, por isso, não se podem anular.

    Estamos sempre abertos ao diálogo e aos aprimoramentos. As portas estão abertas desde há
    muito à sociedade civil, aos partidos políticos, às entidades de classe, às Universidades, à
    ciência, às pesquisadoras e aos pesquisadores e acadêmicos, às lideranças empresariais e de
    trabalhadores, às pessoas e às instituições em geral, ao Ministério Público, à advocacia, às
    defensorias públicas, à Polícia Federal, às Forças Armadas, e a todas e a todos que tenham fé
    na democracia.

    Refiro-me agora, em síntese, às principais diretrizes.

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    Anuncio, nesta oportunidade, uma síntese daquilo que a gestão irá primar: pela transparência
    e pela defesa da integridade do processo eleitoral; pela primazia do diálogo nas relações
    interinstitucionais, inclusive perante a comunidade eleitoral internacional; pela formação de
    alianças estratégicas, com entidades genuinamente interessadas na perpetuidade do
    patrimônio democrático; pela prevalência do clima de paz e tolerância na esfera pública; pela
    prevenção do conflito e de todas as formas de violência política; pelo respeito à dignidade e às
    potencialidades das autoridades técnicas e profissionais do honroso corpo de servidores da
    Justiça Eleitoral; pelo aperfeiçoamento constante dos serviços prestados, mediante a revisão
    de processos de auditoria e mapeamento de vulnerabilidades; pela inclusão e pela diversidade,
    em ordem a universalizar o acesso à democracia; pelo combate a formas violentas de
    expressão política; e pela eficiente administração dos recursos humanos, tecnológicos,
    patrimoniais e financeiros do Tribunal Superior Eleitoral.

    A partir de hoje, entra em curso o Programa de Fortalecimento Institucional da Justiça
    Eleitoral. Estamos instituindo a Comissão de Combate ao Racismo; igualmente, amanhã
    instalaremos o Núcleo de Inclusão e Diversidade. Teremos a honra de continuar com o
    programa “TSE Mulheres”. Também manteremos e apoiaremos os setores, os grupos e as
    comissões de acessibilidade e de saúde laboral.

    Manteremos e ampliaremos a importante Comissão de Transparência Eleitoral e do
    imprescindível Observatório de Transparência, ambos com a missão de observar e dialogar
    com a Justiça Eleitoral.

    Especial preocupação teremos com o direito fundamental de dados pessoais e sua proteção,
    sopesado sempre com o dever de transparência inerente a todo e qualquer serviço público. A
    transparência como primazia será nossa diretriz. Desenvolveremos intenso programa de
    governança e de avaliação de riscos.

    Iremos nos integrar de pronto ao esforço da comunidade eleitoral internacional pela defesa da
    democracia e em articulação com instituições e entidades encarregadas dos processos
    eleitorais no contexto global.

    Durante o mês de março nos reuniremos com cada uma das presidências de todos os partidos
    políticos para dialogar construtivamente sobre ideias e práticas de cooperação institucional,
    inclusive no combate à desinformação. Impende aqui realçar a relevância e o papel central
    destinado aos partidos políticos. Para eleger seus representantes, os titulares dos direitos
    políticos materializam, nos termos do artigo 14 da Constituição, a soberania popular que “será
    exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos”. É a
    manifestação da garantia do voto igual a livre expressão da vontade dos eleitores, como indica
    o Pacto de São José da Costa Rica.

    Essa postura colaborativa também já tem as portas abertas pela Presidência do Senado
    Federal e da Câmara dos Deputados, e aqui reitero meu agradecimento aos Presidentes
    Senador Rodrigo Pacheco e Deputado Arthur Lira, para ações coordenadas de combate à
    desinformação eleitoral.

    No tocante aos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento das atividades eleitorais,
    após planejamento meticuloso elaborado pelos tribunais eleitorais, contamos com o apoio da
    área econômica do Governo e do Congresso Nacional, que aprovou em lei a dotação adequada
    aos gastos para a realização das eleições gerais e demais atividades da Justiça Eleitoral.
    Destaco também a continuidade da implantação da Identificação Civil Nacional, projeto que
    contribuirá para a modernização do Estado Brasileiro.
    A Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE – que tanto contribuiu para o processo de
    informatização das eleições – terá todo o apoio de minha gestão, notadamente nas ações de
    defesa cibernética da Justiça Eleitoral. Como sabem, vivemos em um mundo novo, em que o
    espaço das redes digitais precisa ser defendido dos contra-ataques de criminosos que tentam
    vilipendiar as instituições.

    As pautas ora anunciadas serão levadas em um contexto de presença unida e de operar
    sinérgico, a congregar os vinte e sete tribunais regionais e mais de 22.588 (vinte e dois mil
    quinhentos e oitenta e oito) colaboradoras e colaboradores, assim como as magistradas e os
    magistrados eleitorais que servem à sociedade, bem assim o Ministério Público Eleitoral, os
    dedicados mesários – essas testemunhas oculares da lisura, da confiabilidade e da
    autenticidade dos pleitos movidos pela vocação de servir ao País.

    A eleição não é um feito do TSE. É uma realização de muitos parceiros. Dos servidores da
    Justiça Eleitoral, dos mesários, aos barqueiros, motoristas, de quem prepara o lanche e de
    quem prepara os locais de votação, dos integrantes das juntas eleitorais, aos administradores
    de prédios ou locais de votação, passando pelo papel importante e imprescindível das Forças
    Armadas, especialmente nos trabalhos cívicos e patrióticos de levar as urnas nas mais
    distantes regiões e rincões do país, fazendo ali chegar, com zelo, segurança e eficiência, todo o
    conjunto de instrumentos para operar as urnas, e ainda das forças policiais que auxiliam
    sobremaneira a segurança das eleições. Somos muitos (mais de 22 mil todos os dias,
    cotidianamente, e mais de dois milhões no dia das eleições) e chegamos a todas as seções
    eleitorais, incluindo as comunidades indígenas e ribeirinhas.

    Eis aí, dentre tantos zelosos e abnegados, os embaixadores da democracia brasileira.
    Por fim, não poderia terminar a presente solenidade sem antes dirigir algumas palavras aos
    Excelentíssimos Ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a quem,
    respectivamente, sucedo e precedo.

    Ao amigo Presidente Barroso, meu sincero reconhecimento pela patriótica dedicação, pelo
    zelo, pela empatia e pela sinergia com que se houve nos exemplares afazeres na chefia
    máxima da Justiça Eleitoral. Dirigiu o Presidente Barroso eleições no ambiente da pandemia;
    soube colher a orientação científica adequada, em situação inaudita, sem precedentes, e o fez
    com cautela, serenidade e eficiência. Merece, sem favor algum, nosso reconhecimento e nosso
    aplauso.

    Ao Ministro Alexandre de Moraes, expresso aqui minha honra e alegria em compartilhar esse
    momento histórico. A experiência e o conhecimento de Vossa Excelência pavimentam o
    percurso a ser percorrido.

    Concluo.

    Aos meus colegas de Tribunal, ministros oriundos do Supremo Tribunal Federal e do Superior
    Tribunal de Justiça, e aos ministros juristas: juntos iremos preparar, organizar e realizar as
    eleições, administrando, julgando, regulamentando e dando as diretrizes consultivas
    necessárias. Prestamos aqui um serviço público e prestamos contas à sociedade brasileira.
    Conclamo todas e todos, a partir da ciência das responsabilidades que temos, a encontrarmos
    o extrato líquido das metas comuns e que os comportamentos públicos sejam testemunha da
    autenticidade e da firmeza de nossos compromissos democráticos.

    Por derradeiro, seguiremos com o estrito respeito às orientações das autoridades sanitárias e
    científicas, utilizando as ferramentas disponíveis e propícias ao maior cuidado com a saúde e o
    ambiente de trabalho.

    Sigamos em paz. O importante é ter em mente a vasta extensão das agendas que nos unem.
    Queremos uma vida próspera, rica em harmonia, plena de trocas francas, generosas,
    colaborativas, dentro do Estado de Direito democrático. O coração do presente ainda sabe à
    esperança. O futuro esse sonho não deve nos negar.

    Muito obrigado pela vossa atenção.

    Ministro Edson Fachin.

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