A pandemia já tirou a vida de mais de 90.000 brasileiros e jogou as finanças públicas num buraco histórico, mas nada disso impede que órgãos estatais continuem a gastar como se o mundo não tivesse mudado.
Veja o caso da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Desde que essa crise começou a instituição recebeu milhões de reais em doações de empresas para implementar ações de combate ao coronavírus.
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Clique e AssineNa semana passada, porém, a fundação colocou na rua um edital para gastar 700.000 reais em “material para festividades e homenagens”, que inclui bolsas, pastas e até squeezes, essas garrafinhas de carregar água.
A lista de compras da Fiocruz inclui 9.300 unidades do “broche castelinho”, referência ao estilo do prédio do órgão no Rio, em forma de castelo, por 24.000 reais. Inclui ainda 13.800 squeezes de plástico, a 52.000 reais. O item mais caro, no entanto, são 29.700 bolsas do tipo ecobag de lona, a um custo de 324.000 reais.
A justificativa da Fiocruz para a gastança, conforme está escrito no edital, é a seguinte: “Considerados uma ferramenta de comunicação, os eventos contribuem para aumentar o nível de compreensão da sociedade, ou de grupos específicos selecionados, sobre as políticas públicas e temas específicos em destaque”.
O edital da Fiocruz diz ainda que: “Os eventos contribuem, igualmente, para informar e mobilizar públicos segmentados a respeito de um produto, serviço ou ideia. Caracterizados, para esta finalidade, como encontros ‘dialogais’, ‘expositivos’, ‘cerimoniais’ ou ‘competitivos’ e voltados ora para o público ‘externo’ ora para o público ‘interno’, os eventos são realizados de forma sistemática para favorecer o acesso às informações produzidas nesta instituição já centenária”.
O leitor pode tirar suas conclusões.
ATUALIZAÇÃO, 18H45 — A Fiocruz enviou ao Radar a seguinte nota: “A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esclarece que não foi executada qualquer despesa relativa ao pregão 03/2020, para a aquisição de materiais para eventos, em razão da suspensão de atividades presenciais dessa natureza na instituição e da concentração de esforços em ações relacionadas ao enfrentamento da Covid-19. O pregão em questão é referente a um edital de 2019, anterior, portanto, ao início da pandemia. À época, o valor estimado do edital considerava tanto a reposição de materiais para eventos, como a necessidade diante das diversas atividades previstas para a celebração dos 120 anos da Fiocruz, que ocorreu em maio deste ano.
A Fundação esclarece ainda que todos os recursos relacionados à pandemia, sejam provenientes de doações ou do Tesouro, são utilizados exclusivamente para ações de enfrentamento à Covid-19 previamente pactuadas com o governo federal e com os doadores, com acompanhamento dos órgãos de controle. A Fiocruz reafirma seu compromisso com a transparência pública e com a saúde dos brasileiros e permanecerá atuando incansavelmente em suas diversas frentes para a busca de soluções e respostas à pandemia provocada pela Covid-19.”