Rodrigo Maia colheu duras derrotas dentro do seu partido, o DEM, durante a campanha de Baleia Rossi ao comando da Câmara. As facadas do seu partido, diga-se, decorrem da mágoa deixada nos caciques por causa da insistência de Maia em tentar o voo solo de uma reeleição, desgastando aliados e atraindo dificuldades para a sigla continuar no comando do Senado.
Os caciques do DEM dão como certo que Davi Alcolumbre teria conseguido autorização para disputar a reeleição, se Maia não tivesse tentado pegar carona.
Por considerar que o presidente da Câmara só trabalhava para o seu próprio projeto, não o do partido, a turma de ACM Neto foi se distanciando de Maia e preparando pequenas vinganças, como a última, de liberar a bancada para votar no seu opositor, Arthur Lira.
Os rumores que surgiram ao longo do dia, de que Maia poderia aceitar um dos tantos pedidos de impeachment contra Bolsonaro, guardados na gaveta dele há tempos, foram vistos como “birra de perdedor”. Algo semelhante foi dito sobre ameaça de que o deputado deixaria o partido por se sentir traído.
Na avaliação de integrantes da cúpula do DEM, Maia está ferido, mas não mancharia sua carreira política sendo o atirador suicida que jogaria o país numa crise artificial de impeachment.
Não há clima político para o acolhimento do pedido. Se Maia colocasse seu CPF nessa jogada, faria a alegria momentânea de algumas figuras da oposição, mas não chegaria a lugar nenhum.
O próximo passo depois do sim de Maia, no processo de cassação do presidente da República, seria a formação de uma comissão com os líderes dos partidos, que analisaria o pedido recebido. A coisa, como se vê, morreria aí, já que Bolsonaro nutre apoio político para evitar a sequência do processo.
Maia, por outro lado, ao fazer tal movimento, confirmaria aos olhos do mercado a imagem de despreparo político que seus inimigos sempre tentaram atribuir a ele. Dois analistas ouvidos pelo Radar avaliam como quase nula a possibilidade do presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) seguir com a abertura de um pedido de impeachment.
O gesto, no final das contas, poderia prejudicar o próprio parlamentar, ressalta a economista Stefany Oliveira, da Toro Investimentos. “Foi um gesto de inconformidade”, ressalta a analista. “Se, de fato, o pedido de impeachment ocorrer, isso poderia manchar a imagem do próprio Maia, que está no seu último dia de cargo”, completou. É por isso, argumenta, que o mercado não acredita que a possibilidade vá ocorrer.
O foco hoje é na eleição dos presidentes de Câmara e do Senado e não na declaração de Maia, argumenta João Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos. “A possibilidade é muito remota de que esse arrombo de Rodrigo Maia se materialize”, explica Rosal. Na eventualidade da abertura do pedido de impeachment ocorrer, ele não deve prosperar, pois há grande possibilidade de o candidato do governo, Arthur Lira, ganhar a presidência.
Para integrantes do DEM, uma decisão favorável de Maia ao impeachment, nas últimas horas de mandato como chefe da Câmara, soaria como golpe a Bolsonaro, abrindo caminho para que o presidente vestisse a figura de vítima e recorresse a toda sorte de narrativas para seguir no cargo. A aposta no caos, algo sonhado pelo bolsonarismo radical, teria na ação de Maia sua maior incentivadora.
Maia, claro, sabe de tudo isso. Daí o motivo de seus colegas não acreditarem no balão de ensaio lançado no noticiário.