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Em domingo de quarentena, Bolsonaro vai às ruas e cria aglomeração

Caravana do presidente já passou por comércio de três cidades do DF, algumas com precários serviços públicos de saúde

Por Evandro Éboli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 mar 2020, 13h59 - Publicado em 29 mar 2020, 12h00

O presidente Jair Bolsonaro descumpriu, neste domingo, orientação do governo do Distrito Federal — e do próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta — para que a população fique em casa de modo a evitar a propagação do coronavírus. Com 65 anos, Bolsonaro é ele próprio integrante do grupo de risco da população que deveria fazer quarentena. Por comandar o Palácio do Planalto, um dos focos de coronavírus na capital federal, deveria ter ainda mais cuidado.

Bolsonaro esteve no Hospital das Forças Armadas, no Sudoeste, espécie de bairro próximo ao Plano Piloto de Brasília. Foi a algumas lojas e farmácias e até parou para conversar com um vendedor de churrasquinho, numa barraquinha na rua.

O vendedor lhe disse: “A morte tá aí, mas seja o que Deus quiser. Se não morrer da doença, vai morrer de fome”.

Bolsonaro sorriu e respondeu: “Vai morrer, não.”

O vendedor então disse que sua saúde estava em “dia”. “Falei para o pessoal com 65 que fique em casa”, disse o presidente. Na conversa, Bolsonaro ainda afirma que o hidroxicloroquina está “dando certo em todo lugar”.

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A presença do presidente atraiu curiosos e simpatizantes, o que favoreceu a criação de uma aglomeração em seu entorno, tudo que não deveria acontecer.

Um dia após fazer um “pacto” com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e prometer aliviar seu discurso contra o isolamento social, uma medida fortemente defendida por Mandetta neste sábado, Bolsonaro desafiou novamente o trabalho de prevenção do governo contra o coronavírus.

Nas conversas que teve, Bolsonaro recebeu pedido de pessoas para que ele não deixe o comércio fechado, um evidente constrangimento ao governador do DF, Ibaneis Rocha, que não gostou, que mandou fechar lojas contra a pandemia. Num comércio em Sobradinho, cidade pobre e de precária assistência médica, ele conversou com jornalistas. Perguntado se estava seguindo as orientações do ministro da Saúde, rebateu. “Você está?”, devolveu a pergunta ao repórter, que respondeu estar trabalhando. “Quem sou eu para descumprir orientação”, responde Bolsonaro.

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O presidente insiste no argumento de que, do jeito que está — com o comércio fechado –, muita gente vai perder emprego. Novamente questionado sobre descumprir regras do seu ministério. “Vocês querem me jogar contra o ministro? Não tem nada a ver com carreata isso aqui”, responde.

Bolsonaro, além do hospital, de bairros de Brasília e de Sobradinho, já esteve em Ceilândia e Taguatinga, cidades-satélites da capital federal. Em parte do giro, as próprias redes sociais do presidente transmitiam seu périplo pelo DF.

O ministro da Saúde divulgou novos dados sobre a pandemia do coronavírus no Brasil, na tarde deste sábado. Segundo o pronunciamento feito à imprensa, e divulgado nas redes sociais do ministério, o Brasil tinha ontem 3.904 casos confirmados e 114 mortes. São Paulo tem o maior número de casos, são 1.406, e o Rio, em seguida, tem 558. Dez estados apresentaram óbitos. Até o momento, são 569 pessoas internadas com teste positivo para a Covid-19: não estão contabilizados os casos suspeitos.

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Mandetta contrariou o posicionamento de Bolsonaro sobre o retorno de boa parte das atividades do país. O ministro afirmou que deve ser necessária uma ampliação da quarentena, com padrões parecidos, em todo o território brasileiro.

“Nós estamos falando de vida. Vamos nos pautar pela ciência, nós vamos adotar medidas por critérios científicos e vamos fazer planejamento. Agora, temos que ter calma e frieza. O nosso sistema de saúde tem estruturas fortes”, disse Mandetta.

Abaixo, o vídeo do presidente conversando com vendedor ambulante na rua.

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