“Acabou a lua de mel”, define um líder governista que participou da reunião na presidência da Câmara na noite de terça-feira em que Arthur Lira e o núcleo duro do Centrão passaram horas se queixando da articulação política do Palácio do Planalto.
A revolta com Alexandre Padilha, responsável por gerenciar emendas parlamentares, e Rui Costa, a quem cabe filtrar e liberar indicações para cargos no governo, é generalizada e colocou em risco a MP que organiza a estrutura da Esplanada dos Ministérios de Lula.
A votação da medida provisória ficou para a manhã desta quarta-feira. Sua validade só vai até as 23h59 de quinta-feira. Se a Câmara aprová-la, ainda precisa passar pelo Senado – e, se sofrer alterações, retorna para nova análise dos deputados, sob pena de caducar e restabelecer a organização administrativa do governo Bolsonaro.
Na terça de manhã, Lira recebeu coordenadores de bancadas estaduais no Congresso. Ambos os lados trocaram reclamações sobre a lentidão do Planalto na nomeação de indicados para cargos federais de segundo e terceiro escalão.
No início da noite, os representantes das bancadas foram ao gabinete de Padilha e cobraram, além do destravamento dos cargos, a execução de emendas impositivas e maior participação do Congresso na distribuição de verbas dos ministérios – demanda pública de Lira depois da extinção das emendas de relator, tachadas como “orçamento secreto”.
A tensão imediata ficará no ar até a abertura do painel de votação da MP da organização administrativa na Câmara. Sem os votos do Centrão, o governo não aprova nem um simples projeto de lei.
Mas, se não forem resolvidas, as fissuras mais amplas na relação com o Congresso vão perseverar por tempo muito maior do mandato de Lula.