Caiu na rede e virou peixe, dos grandes: rapaz cearense, que atende pelo brasileiríssimo nome de Max Petterson, postou vídeo em sua rede social que em 48 horas se espalhou feito fogo no paiol – mais de 1 milhão de visualizações (“Os números santificam”, justifica-se o serial killer monsieur Verdoux, no filme homônimo de Chaplin). Durante pouco mais de dois minutos, com ar de saco cheio e impecável sotaque nordestino, ele alerta incautos turistas brasileiros a evitarem Paris no verão – “when it sizzles”, segundo o imortal verso de Cole Porter. O tom, claro, é de comédia – afinal o Ceará carrega a fama de ser nosso maior celeiro humorístico, do clássico Didi Mocó ao bufão de Brasília, Tiririca – e faz graça com fatos curiosíssimos, como o calor infernal e os dias longos que costumam ocorrer na estação mais quente do ano, além da falta de banho de alguns cidadãos parisienses. Algo, o vídeo dá a entender, que ninguém antes havia posto reparo. Confira aqui.
Fico sabendo que mr. Petterson é ator, reside na capital francesa há três anos (seria portanto, “monsieur Patterrrssôn”), onde estuda teatro e trabalha como “consultor fashion” para uma marca americana de roupas. Versátil o rapaz, não? Versatilidade, aliás, da qual se orgulha e já atravessou fronteiras, segundo declarou ao jornal carioca Extra: “Sempre soube que tinha um ar humorístico muito forte. Sem falsa modéstia, sempre fui muito querido pelas pessoas por onde passava, até aqui em Paris mesmo. Recentemente tive uma amiga que veio me visitar e estava muito triste, deprimida. Quando voltou pro Brasil, estava melhor! Inclusive foi ela que me incentivou a publicar este vídeo”. Muy amiga…
O queixume pândego de monsieur Patterrrssôn – vejo no Facebook que ele é Max Petterson Monteiro, ah, bon… – me lembra muito as reclamações brazucas de quem sai daqui sem ao menos saber em que lugar do planeta se localiza o Brasil. Millôr Fernandes, sempre brilhante, dizia que uma grande decepção da vida foi desembarcar em Buenos Aires e descobrir que “a Argentina não era laranja”, a cor que se acostumara a ver desde criança no Atlas. É mais ou menos o que acontece com o pessoal como o rapaz que antes de Paris vivia na região cearense do Cariri – se é que ele não está mesmo fazendo um personagem no vídeo – revoltado com “eles” que acostumam o visitante a um frio de menos dez para depois sufocá-los num calor de trinta graus, ofuscando a todos com sol até às dez da noite, sem falar nos prédios não preparados para o verão.
Lembro de ouvir gente furiosa porque ligou a TV no hotel em Londres – antes do evento das emissoras brasileiras com alcance internacional – e se deparou apenas com programação em inglês. O casal do interior de São Paulo que sentou-se ao meu lado no avião, vinha de uma excursão pelo Oriente Médio e Europa, e reclamou que as comidas em Israel e na Turquia eram temperadas com “coisas muito estranhas”, além das moedas locais não serem o dólar – “Nem sabia que existia esse Euro”, disse a mulher – e ficar muito difícil de fazer compras, “como a gente faz em Miami e Orlando”. Ou ainda, um personagem da sociedade paulistana, já morto e muito festejado pelo cosmopolitismo, contar indignado em uma reunião caixa alta que havia sido atendido em um pub londrino por uma “garçonete que só falava cockney!”. Onde já se viu…
O fato é que, depois de assistir o vídeo do ator e consultor fashion, eu não aceitaria dele uma dica turística nem para o próprio Cariri – tremo só de pensar nas dicas de moda de que ele é capaz e também não quero assistir um espetáculo onde ele faça parte do elenco. Como cantava Juca Chaves, o menestrel maldito (alguém com menos de 40 anos sabe de quem se trata?), nos anos 70, quando artistas e intelectuais brasileiros exilados reclamavam da vida em Nova York, Paris ou Roma: “Hey, hey, bi, bi/Take me back to Piauí”.
Bon voyage!