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Ria, com moderação

Finalmente estreou o muito aguardado talk show do ator/comediante/humorista/escritor/cronista Gregorio Duviver

Por Mario Mendes Atualizado em 30 jul 2020, 20h54 - Publicado em 8 Maio 2017, 19h53
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  • Finalmente na última sexta-feira estreou o muito aguardado talk show do ator/comediante/humorista/escritor/cronista Gregorio Duviver no canal por assinatura HBO. Intitulado, com enorme criatividade, Greg News, tenta – mas tenta muito mesmo – ser a versão abrasileirada de Last Week Tonight, da matriz americana da emissora, apresentado pelo inglês John Oliver. O formato não pode ser mais simples: noticiário político nacional e internacional passado a limpo com verve, ironia e humor ácido. Oliver – e sua equipe de roteiristas – tira o expediente de letra e, por isso mesmo, se tornou base e referência. Com certeza, o humorista deve ter crescido vendo o clássico, Have I Got News For You, da BBC, uma mistura de sátira do noticiário e quiz show entre comediantes, no ar há mais de duas décadas  – entre os alvos favoritos da atração, a ex-prmeira ministra Margaret Thatcher e, óbvio, a família real. Um sucesso e uma constante preocupação para o departamento jurídico da casa.

    Na encarnação tropical tudo é feito à imagem e semelhança, menos a capacidade de ser engraçado. Greg, apenas para ficar na descontração que o título sugere, não é simpático. Faz o gênero blasé avoado, disparando aqui e ali um chiste espirituoso como quem não quer nada, apenas porque sua sinceridade e o raciocínio rápido são tão “brilhantes” a ponto de não permitirem que ele fique calado. É muito talento em ebulição para uma pessoa só. Precisa ser compartilhado.

    Claramente nervoso e nada à vontade na estreia, o apresentador dirigiu a artilharia para a Odebrecht e a repisada polêmica pateta da tal Escola Sem Partido. Durante os 34:40 minutos de programa, sorriu amarelo, caprichou no ar deslocado e dava a deixa para a plateia rir nos momentos certos, geralmente quando soltava um “Mentira!” no final de um comentário engraçadinho. Na verdade, a plateia parece mais uma claque movida pelo estímulo de um animador invisível – aqueles tipos que através de cartazes sinalizam a reação desejada pela direção do programa. É uma turma esforçada, faz o que pode, mas o riso nunca é contagiante e não soa espontâneo. É humor, mas com muito respeito.

    Chamou Dilma de “presidentx”, insinuou que Lula inventou a tomada de três dentes  e lembrou que o “pai de Michelzinho” é satanista. Lady Kate, aquela do bordão “Tô pagano!”, na encarnação passada do Zorra, era bem mais engraçada, até como crítica à elite conservadora coxinha que sonha em morar em Miami.

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    Mas que ninguém se engane, Greg é moço sério, alinhado com o lado certo da história e não se permite saliências politicamente incorretas, ou mesmo francamente engraçadas em seu quadrado. Afinal, lá estão sendo comentadas questões importantes, como os destinos da nação. Pode rir, mas com moderação, porque o santo é de barro.

    Enquanto John Oliver deita, rola e desanca meio mundo, Greg fala de mocinhos e bandidos, pratica o humor que toma cuidado para não ser o do opressor sobre o oprimido. Jamais uma gargalhada, apenas o riso comportado e permitido, oscilando entre o atestado de inteligência e a prova de virtude. Resumindo: um porre.

    Muito divertido.

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