Observando o ribombar de comentários, opiniões e convocações para a Greve Geral marcada para essa sexta, 28 de abril. Tem a turma do “vamos mudar o Brasil”, a turma do “deixa disso”, a turma do “no passaran“, a turma dos “fiéis dos Santos dos Últimos Dias” – aquela que entende os motivos dos que não apoiam o movimento mas não perdoa uma falseta e te esfolará vivo, alegremente e com grande entusiasmo, no dia da vitória da Revolução – e a turma do “contra tudo que está aí” – a salvação dos sem bandeira.
Entre os textos “bem sacados” de analistas e articulistas da grande imprensa e as tretas intermináveis nas redes sociais, o que mais me chamou a atenção foi uma lista de DOs e DON’Ts recebida via e-mail, MSN e aplicativos em geral orientando como se portar durante o período de paralisação das atividades profissionais em todo o país, para o êxito do movimento – e que a população, dilapidada dos direitos trabalhistas, não seja obrigada a rolar pedras para todo o sempre, como em um dos círculos do Inferno de Dante.
O pequeno manual de comportamento grevista avisa, entre outras coisas, que não se deve ir “à restaurantes de qualquer espécie” – melhor deixar para outro dia conhecer aquele vegano hispter, que dizem ser tão simpático, na Zona Oeste de SP – a “qualquer shopping mesmo que seja só na praça de alimentação” – não diz nada sobre o cinema e o combo balde de pipoca + refri 1 litro – nem “abastecer seu carro justo nesse dia”, ir “à academia” nem “à faculdade”. Quer dizer, nem pensar naquela azaração/ficada dos embalos de sexta à noite. Mas em nenhum momento menciona que é proibido incorporar a greve geral ao feriadão do Dia do Trabalho. Entendi que está liberado.
Ah, antes que eu esqueça: “Não veja nada em sites da Globo, UOL, Estado, VEJA e cia. Informe-se pelas páginas de jornalismo independente, como a dos Jornalistas Livres. Essas coisas devem ser evitadas, independente de você trabalhar ou não. A greve também é do consumo!”. Tá? Engole o choro e não respira.
Com exceção da histórica greve dos jornalistas de 1979 – inspirada pelo movimento dos metalúrgicos do ABC paulista, liderado por um certo jovem chamado Luiz Inácio Lula da Silva – não tenho memória de grandes paralizações trabalhistas no Brasil. Leio em um site militante comunista português que a Greve Geral de maio de 1936, na França, assegurou aos trabalhadores a jornada de 40 horas semanais mais duas semanas de férias anuais remuneradas. Até as funcionárias da maison Chanel aderiram, o que deixou mademoiselle tiririca. Três anos depois, quando foi declarada a Guerra na Europa, ela simplesmente fechou suas oficinas e dispensou mais de dois mil funcionários alegando que aqueles não eram “tempos para vestidos”. Dizem que foi pura vingança.
E achei oportuno o manual de comportamento do grevista. Até fui pedir ajuda às decanas das boas maneiras, as americanas Emily Post (1872-1960) e Amy Vanderbilt (1908-1974) – que ainda estão nas livrarias e on line em pleno século XXI – para ver se elas tinham algo a dizer sobre a atitude socialmente correta a ser adotada em uma greve. Não têm, mas incluem a política em seus tratados – afinal, uma nação de imigrantes e novos ricos como eram os EUA daquela época, necessitava de manuais de etiqueta.
Emily, mulher de banqueiro e dama da sociedade sans reproche, afirma que tanto na política quanto nos negócios, o mais importante é ouvir o interlocutor, genuinamente e com atenção. Principalmente se o outro for um opositor. Segundo ela, demonstrar cortesia com quem se conversa ou se debate não apenas é sinal de boa educação, mas também um valioso trunfo para se avançar no jogo político.
Já Amy, prima distante dos ricos herdeiros das ferrovias, cunhou frase lapidar que cai como uma luva também na arena política: “Boas maneiras têm a ver com as emoções. Para fazê-las verdadeiras, é preciso sentir e não meramente exibí-las”.
Simples assim.