Todo mundo de cabelo em pé por conta de novos atentados terroristas e Trump indo à guerra na Síria. Mas a pulga atrás da orelha nas últimas semanas é mesmo o desaparecimento de Bruno Borges, o tal rapaz do Acre que não é visto desde dia 27 do mês passado, depois de transformar o quarto do apartamento onde morava com os pais em um misto de instalação artística e santuário nerd. Borges encheu as paredes dos aposentos com vários textos em escrita criptografada do que seriam os 14 livros de sua autoria sobre alguma coisa intelectualmente avançada, espiritualmente elevada e profunda a ponto de mudar o destino da humanidade – pelo menos no entendimento da família e amigos mais próximos do moço. Para não deixar dúvida sobre a importância da obra, ele coroou a decoração inusitada com uma estátua do italiano Giordano Bruno, frade dominicano e filósofo, queimado na fogueira da Santa Inquisição no século 16.
Daí o jornalismo investigativo do Fantástico foi lá investigar e descobriu que – com o auxílio de uma matemática – a criptografia do Bruno é muito pobre, foi tirada do Manual do Escoteiro Mirim – aquele mesmo, dos sobrinhos do Pato Donald, e o trecho traduzido na reportagem é bem rasteira do tipo “de onde viemos, para onde vamos?” – antes de sumir ele pegou um táxi que o deixou em frente a um motel, mas foi mesmo para o meio do mato onde, diz uma testemunha, participava de um grupo de orações e rituais. A tal testemunha também foi convidada para participar do encontro no matagal, porém declinou.
Um amigo diz que a ideia de Bruno é faturar muitos bilhões (!!!) com os tais livros escritos no idioma de Huguinho, Zezinho e Luizinho enquanto um delegado de polícia acredita que eles, os amigos, fizeram um pacto para não revelar o mistério. Tem quem diga se tratar de estratégia de marketing para o lançamento de mais um escritor de best-sellers esotéricos. Enquanto a família só o quer de volta.
Já vimos acontecimentos do tipo. Do E.T. de Varginha ao desperecimento do compositor Belchior e me dou ao direito de arriscar que o rapaz acreano é fã de jogos RPG – aqueles de interpretar personagens – e da série Alienígenas do Passado, do History Channel. Assim como no meu tempo – acho uma derrota escrever “no meu tempo”, mas vá lá… – a gente gostava daqueles filmes de invasão alienígena onde seres do espaço sideral desembarcavam da nave e já iam intimidando os terráqueos: “Levem-me ao seu líder”.
Entretanto, esperemos pela volta de Bruno Borges, o rapaz do Acre. Mesmo que sua trama fantástica não seja adaptada para uma série de sucesso, pode muito bem servir de inspiração para loja de decoração e design do Baixo Higienópolis/Santa Cecília ou cenário para montagens da dramaturgia made in Praça Roosevelt. Eu acho.