O ‘workaholic’ por trás do Censo 2022
Servidor de carreira do IBGE, Cimar Azeredo assumiu presidência do órgão em janeiro e finalizou a pesquisa mais desafiadora do instituto nos últimos anos
Concluir a pesquisa mais importante do país após dois anos de atrasos e em meio a um dos momentos mais críticos da história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Este foi o nada simples desafio assumido por Cimar Azeredo, que chegou à presidência do IBGE em janeiro deste ano. Com perfil discreto e técnico, que nem sempre é comum em cargos de chefia do poder público, ele conseguiu somar esforços e articular parcerias inéditas para a conclusão do Censo mais desafiador dos últimos anos e que marcou os 150 anos da primeira pesquisa censitária do país.
Compreender esse esforço e a importância histórica da pesquisa que começou a ser divulgada é tão necessário quando interpretar os dados sobre a população brasileira que surpreenderam até experientes pesquisadores. E aqui cabe lembrar o que foi o tenebroso período pelo qual passou o IBGE nos últimos anos. O que começou com uma paralisação necessária das pesquisas devido à pandemia de Covid-19 em 2020 logo avançou para uma tentativa inédita do governo de inviabilizar a pesquisa no ano seguinte.
Nas discussões sobre o orçamento em 2021, a então gestão negacionista do governo federal anunciou nada menos que um corte de 96% na verba prevista para pesquisa. O episódio levou à demissão da então presidente do IBGE. Graças a uma reação do Supremo Tribunal Federal, que determinou que a verba para custear o levantamento fosse garantida no orçamento de 2022, o Censo começou a ser realizado no segundo semestre do ano passado. As dificuldades, porém, não cessaram. Na esteira do negacionismo inflamado nos últimos quatro anos os recenseadores foram agredidos de forma inédita durante o levantamento e viram disparar o número de pessoas se recusando a responder os questionários.
Os moradores de nada menos que um milhão de domicílios não responderam à pesquisa, fazendo a porcentagem de recusa superar os 4% de todos os lares brasileiros. Em 2010 essa porcentagem foi de 1,6%. Foi neste cenário conflagrado que o recém-empossado governo petista decidiu colocar Cimar Azeredo, então diretor de pesquisas, à frente do IBGE. Estatístico de formação, ele participou do analógico Censo na década de 1980 e desde então galgou sua carreira na coordenação de diferentes frentes de pesquisa do IBGE.
Conhecido pelo seu estilo “workaholic hiperativo”, segundo colegas de trabalho, Azeredo foi responsável, dentre outros, pelo projeto de implantação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua em 2012, um dos três levantamentos mais procurados do IBGE; pelo projeto de implantação da Pesquisa Nacional de Saúde em 2013, e mais recentemente pelo projeto de implantação da PNAD COVID-19. Ao assumir o Censo 2022 imprimiu pragmatismo na execução da pesquisa.
Para superar o desafio de levar os recenseadores às favelas brasileiras, ele decidiu fechar a primeira parceria da história do órgão com o Datafavela, instituto pioneiro em pesquisas nas favelas brasileiras, e a Central Única das Favelas (Cufa). Somado a isso, ele ampliou o uso de tecnologias na pesquisa e reforçou junto a toda equipe a importância do Censo enquanto uma pesquisa que não pertence ao IBGE, mas sim de todos os brasileiros. Azeredo trouxe a sociedade civil para o debater o Censo, conseguiu mobilizar a população sobre a importância da pesquisa após o período de negacionismo que o Brasil viveu nos últimos anos.
Se ele é unanimidade dentro do IBGE? Este colunista não pode afirmar isso, mas é fato que ele conseguiu entregar a pesquisa em meio a desafios sem precedentes e que, pelos relatos que tem chegado à coluna, os desafetos de Azeredo tem andado meio sumidos desde que o resultado do Censo 2022 veio a público. Que o país saiba aproveitar mais seus Azeredos!