Cartão-postal do Brasil nas novelas e na mídia internacional, o Rio de Janeiro é o terceiro estado mais populoso do país, com mais de 16 milhões de habitantes segundo o Censo 2022 e conhecido por seus morros e favelas que compõem verdadeiras cidades dentro da capital fluminense. Nesses cenários quase sempre tachados por preconceitos e estereótipos, sobretudo de estrangeiros que não se constrangem de realizar até “safári” nas favelas, existe um potencial empreendedor ainda muito subestimado.
A Expo Favela Innovation Rio, realizada de 29 a 31 de julho na capital, ajudou a mostrar à população do asfalto esse potencial. Por trás dos morros e vielas está uma população que carrega a inovação e a versatilidade para correr atrás de seus negócios próprios para sobreviver em um cenário adverso. Os números do Data Favela divulgados durante o evento neste fim de semana ajudam a traduzir esse cenário.
Quase 40% dos moradores de favelas no Rio de Janeiro possuem um negócio próprio, e para 23% essa é a principal fonte de sua renda. Entre aqueles que ainda não possuem um negócio próprio, 22% têm a intenção de começar a empreender nos próximos 12 meses. Entre os que possuem um negócio próprio, um terço já está nele há mais de cinco anos. Para a maioria dos entrevistados, 58%, a abertura do negócio se deu mais por necessidade.
Quando olhamos para as dificuldades desses empreendedores e empreendedoras das favelas do Rio, o cenário se mostra desafiador: cinco em cada dez tem dificuldade em conseguir capital para investir em seu negócio. Dentre os que tentaram obter crédito no mercado formal, 66% afirmam que já enfrentaram dificuldades para conseguir, sendo que um terço nunca sequer tentou obter esse tipo de recurso.
Se conseguissem um empréstimo, os principais investimentos realizados pelos moradores de favelas fluminenses seriam na divulgação do negócio, compra de máquinas e equipamentos e na diversificação de seu portfólio de produtos/serviços. Mesmo enfrentando dificuldades que, certamente, não atingem da mesma forma os trabalhadores do asfalto, esses empreendedores das favelas demonstram otimismo: 73% acreditam que suas vendas vão crescer nos próximos 12 meses.
Estamos falando de um universo de negócios que vai do vendedor de quentinhas ao revendedor de produtos cosméticos e pedreiros. Uma gama diversificada de ocupações, mas que, em grande medida, possuem um mesmo pano de fundo: o de serem exercidas por pessoas que sabem que não teriam um caminho fácil para conseguir recurso para começar seu negócio ou mesmo serem reconhecidas profissionalmente. Some-se a isso a perspectiva de que, no mercado formal, a maioria dessas pessoas dificilmente conseguiria ganhar mais que dois salários mínimos. Nada disso, porém, impede que criatividade e a força de vontade dessas pessoas permitam trazer soluções para seguir tocando, na marra, seus negócios. Que saibamos olhar para isso, compreender a importância de abrirmos mais portas para essas pessoas e, sobretudo, valorizar esses empreendedores para além de estigmas e preconceitos.