O Brasil enfrenta uma crise crescente no setor de apostas esportivas, que se manifesta de maneira alarmante, superando até mesmo a emergência gerada pela pandemia de Covid-19. O fenômeno, que se traduz em uma dependência psicológica preocupante, está afetando a estabilidade financeira de muitas famílias, que sacrificam suas rendas e necessidades básicas, como pagamento de contas e compra de alimentos.
O impacto também é notável no setor educacional, como mostra pesquisa do Educa Insights: 35% dos potenciais estudantes interessados em iniciar uma graduação em 2024 não o fizeram porque comprometeram sua renda com apostas online e plataformas de cassino virtual.
Esse cenário preocupante tem chamado a atenção das autoridades. O governo do presidente Lula está prestes a intensificar medidas para enfrentar o que pode ser considerado uma verdadeira “pandemia” social. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um “pente-fino” na regulamentação das casas de apostas, com o objetivo de oferecer suporte a indivíduos afetados pela dependência dos jogos e lidar com questões como endividamento, uso de cartões de crédito para apostas e a publicidade associada a esses produtos.
A medida é essencial já que a exposição constante a promessas de ganhos fáceis e irreais acaba por “distorcer a percepção de controle” dos apostadores – eles passam a acreditar que têm mais conhecimento sobre os jogos do que realmente possuem, o que aumenta a confiança em continuar apostando. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 61% deles acreditam que vencer depende mais de conhecimento do que de sorte, quando, na realidade, muitos jogos de azar têm uma base aleatória. Isso leva a uma confiança excessiva, exacerbando o vício.
A decisão de suspender as operações de empresas de apostas que não solicitaram autorização dentro do prazo estabelecido também é um passo importante na direção certa. O combate à ilegalidade no setor é fundamental para garantir a conformidade das empresas com as normas, evitando a utilização do mercado de apostas como uma ferramenta para fraudes e lavagem de dinheiro. Mas isso, por si só, não resolve o problema maior: o impacto social devastador que a dependência em apostas pode causar.
A regulamentação das apostas precisa ir além do aspecto econômico. Se a intenção é tratar o problema com a seriedade que ele merece, a opinião de profissionais da saúde deve receber muito mais espaço nessas discussões. Afinal, a dependência em jogos é uma questão de saúde pública e requer atenção urgente e tratamento sério.
A linha entre entretenimento e vício é tênue, e a falta de uma intervenção eficaz pode resultar em consequências ainda mais graves no futuro. Portanto, é imperativo que as ações do governo abordem não apenas a regulamentação do setor, mas também a questão crítica da saúde mental e do bem-estar dos cidadãos afetados.