O conceito de luxo no mercado automotivo é bastante flexível. Pode ser entendido como exclusividade – modelos produzidos em pequena escala, de forma quase artesanal. Ou por esportividade – casos em que se paga pela performance, e não necessariamente por conforto. Mas também pode ser significar robustez e confiabilidade. Quem olha apenas o preço da SW4, maior SUV da Toyota disponível no Brasil, não compreende como o modelo tem tantos defensores. A versão mais barata, a SRX de 5 lugares, custa R$ 380 mil. A mais cara, Diamond, custa R$ 433,5 mil. É um valor semelhante a alguns dos principais esportivos. Mas bastam alguns momentos ao volante guiando esse colosso para entender porque ele é atrativo.
De cara, a posição elevada de dirigir, com a boa visibilidade proporcionada pelos amplos vidros, cativa. Há potência de sobra – o motor 2.8L 16V turbo movido a diesel com potência de 204 cv e torque de 50,9 kgf.m é mais do que suficiente para impulsionar o colosso de mais de quase 2,2 toneladas. A cabine é silenciosa, o espaço é generoso. É ainda um daqueles carros que transmitem uma sensação de robustez e confiabilidade. Todo esse conjunto se traduz em prazer ao dirigir. É feito para encarar a estrada, embora seja capaz de enfrentar trechos acidentados. Mas, principalmente, um bom companheiro em longas viagens.
A bordo da SW4, viajamos até a zona rural da cidade de Pardinho, no interior de São Paulo, para participar da primeira Festa do Porco organizada pela queijaria Pardinho Artesanal em parceria com o chef Jefferson Rueda, da Casa do Porco. A amizade entre Rueda e Bento Mineiro, proprietário da Pardinho, é antiga. Rueda usa os queijos da Pardinho em seu restaurante, e a queijaria cria porcos, que se alimentam do soro do leite e depois são usados pelo chef. Outros produtores da região, como a vinícola Refúgio, pioneira em usar as técnicas da colheita de inverno para produzir em Bofete, também participaram do evento.
A Festa do Porco é uma versão maior e mais completa do evento Deguste Pardinho, iniciativa da queijaria para mostrar seus produtos ao público. Tornou-se parada obrigatória para quem passa pela região, e vem trazendo pessoas de longe apenas para curtir um dia na fazenda. É um fenômeno que vem ganhando força pelo país. A presença do chef Jefferson Rueda, é claro, é um atrativo adicional.
Em fornos de tijolo montados no meio do campo, três porcos inteiros eram assados lentamente. a brasa fica longe da carne, para garantir a maciez. A pele fica por cima, e o animal é virado apenas no final do cozimento apenas para garantir a crocância. Jefferson circula pelos fornos, confere o processo, cumprimenta os visitantes, posa para fotos. Enquanto isso, seu irmão, Washington Rueda, cuida do preparo, junto com seus ajudantes. Lustra a pele, checa se é o momento de virar a carne. Enquanto todos esperam pelo momento principal, dá para provar outros quitutes tradicionais da Casa do Porco, como a Porcopoca e o torresmo, bem carnudo, servido com goiabada.
Ao lado, em um enorme tacho de cobre, o mineiro Glaucio Peron começa o longo preparo de seu tradicional doce de leite. Mistura os ingredientes, incluindo gelatina de porco trazida por Rueda, no recipiente e vai mexendo. Sorri, tira fotos, conta causos. E aproveita para compartilhar a história de sua família e da sua empresa, Doce da Roça. Os Peron vieram de Pádua, na Itália, no começo o século passado para trabalhar nas terras do Visconde do Rio Branco em Ouro Preto, Minas Gerais. Com o passar do tempo, continuaram batalhando para comprar um pedaço de terra na região, e para conseguir pagar as prestações recorriam à venda de doces caseiros em quermesses. Glaucio foi responsável por recuperar essa tradição. Nos últimos anos, passou a criar doces tradicionais em versões gigantes, como a enorme roda de doce de abóbora com coco de mais de duzentos quilos exposta ao lado do tacho de cobre. Segundo ele, é uma maneira de se diferenciar no mercado. E os doces são bons. Em 2010, por exemplo, foi eleito o melhor do país no Festival nacional de Gastronomia e Culinária Regional realizado em Belo Horizonte. Também abre as portas de sua propriedade, em Poços de Caldas, para visitação.
Enquanto Glaucio continua preparando seu doce de leite, o Porco SanZé de Rueda fica pronto. O animal é cortado em pedaços maiores e depois, novamente, em porções individuais, com rapidez. A fila para se servir começa a crescer, enquanto o chef termina de montar os pratos com a facilidade adquirida após anos no comando de cozinhas profissionais. O clima é de descontração. Uma tarde dedicada à comida e bebida. Depois do Porco SanZé, o doce de leite fica pronto e é servido com outros doces e com os queijos da própria Pardinho.
É um modelo de turismo rural que tem atraído muita gente que mora nos grandes centros urbanos, mas busca uma reconexão, mesmo que momentânea, com o interior. E, nesse cenário, a SW4 é o tipo de carro que faz a ponte entre cidade e campo de forma natural. Tem a robustez que se espera de um carro para as estradas de terra, mas com um pacote de tecnologias de assistência que facilita o uso no asfalto.
Embora versátil, a SW4 tem alguns pontos de atenção. Seu tamanho pode atrapalhar nos ambientes urbanos, especialmente na hora de entrar em estacionamentos mais baixos de shoppings, ou mesmo encontrar uma vaga larga o suficiente. No trânsito, principalmente em avenidas com faixas mais estreitas, há uma tensão constante de que alguma moto possa passar raspando ou que um motorista distraído faça algum estrago. E a conexão do celular com a central multimídia, feita por cabo, é bem instável. Em vários momentos, o percurso do GPS foi interrompido e foi preciso reconectá-lo.
Mas são reclamações menores. A experiência ao volante é positiva. E dá vontade de pegar a estrada para curtir passeios como a Festa do Porco ou outros, por mais longe que seja o destino. No fim, passamos quase tantas horas ao volante quanto no evento. E tudo bem. É tudo parte da experiência.