De queijos artesanais produzidos no interior de São Paulo a refeições feitas em um olival no meio das montanhas da Serra da Mantiqueira, algumas das memórias mais poderosas e saborosas ligadas às viagens estão relacionadas à comida. Para além do turismo gastronômico, quando pegamos a estrada apenas para conhecer um restaurante ou provar um ingrediente típico, as boas descobertas feitas no caminho são as mais surpreendentes e, não raro, costumam deixar saudade.
Por isso, em uma recente viagem a Minas Gerais, além das lembranças dos passeios, queríamos trazer um pedacinho comestível da região. Além das compras feitas no Mercado de Belo Horizonte, queríamos provar algumas delícias no caminho de volta para São Paulo. Ficamos atentos a lojas que ofereciam queijos artesanais, doce de leite e uma variedade de outros produtos. Paramos na primeira que encontramos, mas a impressão inicial foi decepcionante. Muitos dos produtos eram industrializados, encontrados em mercados mineiros e paulistas. Panelas coloridas, com a indicação de fabricação chinesa, estavam empilhadas em um canto. Saímos sem levar nada.
Decidimos dar outra chance ao próximo ponto de parada. E depois a outro. E mais um. Todos tinham o mesmo acervo. As mesmas panelas coloridas, os mesmos queijos e doces industrializados, como um outro produto local escondido no meio do resto das opções. Outros itens ligados, de alguma maneira, ao imaginário mineiro, como tapetes de couro, tinham preços diferentes de acordo com o freguês e o carro em que ele chegava.
É claro que existem muitos lugares que se especializam em capturar os turistas incautos. Bem como existem, de fato, bons restaurantes, fazendas que produzem queijos e doces artesanais e outras ótimas opções, escondidas em vias secundárias. Mas tantas armadilhas de turistas nos fizeram ficar pensando na falta de autenticidade da comida e das compras à beira da estrada.
Em uma de suas últimas obras, “Viajando com Charley”, o escritor americano John Steinbeck (1902-1968) fez uma longa viagem de carro pelos Estados Unidos em busca da identidade de seu país. Escreveu sobre a comida que encontrou no percurso, e suas palavras continuam tão atuais em 2023 quanto em 1962, ano em que o livro foi publicado. “Vamos analisar a comida que encontramos. É mais do que possível que nas cidades por onde passamos existam bons e distintos restaurantes com menus de delícias. Mas nos restaurantes ao longo das estradas a comida era limpa, sem sabor, sem cor e completamente idêntica. É quase como se os clientes não tivessem interesse no que comiam, desde que aquela comida não os envergonhasse.”
Quem passa pelas estradas principais, especialmente do Sudeste, conhece o drama. Vai encontrar sempre as mesmas redes que atraem os viajantes pela grande infraestrutura, pela segurança e pela certeza de que vai oferecer praticamente as mesmas opções de comida, com raras exceções (como o Graal Alemão, na Dutra, quase no Rio de Janeiro, que serve, por exemplo, currywurst, iguaria alemã feita com salsicha e ketchup com curry).
A praticidade e a comodidade são importantes, especialmente para quem viaja muito. Afinal, dá para resolver tudo em uma única parada. Mas encontrar boas surpresas gastronômicas pelo caminho é ótimo. Pena que está ficando mais difícil.