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Receita para emplacar um sucesso nas rádios brasileiras

Forme uma dupla, componha um lamento sobre desilusões amorosas e cante à moda sertaneja. As chances de sucesso são enormes.

Por Marco Antonio Barbosa
Atualizado em 30 jul 2020, 21h03 - Publicado em 23 jan 2017, 21h14
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  • MONOCULTURA, s.f.: sistema de exploração do solo com especialização em um só produto; unicultura.
    Não há outro termo para definir o estado do mainstream musical brasileiro em 2016: uma vasta planície na qual se cultiva apenas um gênero. E o gênero em questão, vocês sabem, é o sertanejo. Com a divulgação do listão com as músicas mais tocadas do ano, confirmou-se, pelo não-sei-qual-ano consecutivo, a supremacia absoluta do estilo nas rádios brasileiras.

    A dominação não chega a ser surpresa. Entretanto, a extensão que o sertanejo assumiu em 2016 é sim surpreendente. Os caubóis e as vaqueiras expulsaram de forma quase completa todos os outros estilos das rádios, destroçando sons (antes?) populares como o funk, o samba e o romântico/brega tradicional e, de forma ainda mais espantosa, aniquilando a presença de artistas internacionais no hit parade.

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    Hip hop, rock, EDM (Eletronic Dance Music), tecnobrega, axé e MPB nem aparecem na lista. Confira no infográfico abaixo:

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    O massacre da peãozada foi tão acachapante, que corri atrás do resultado de anos anteriores para entender como chegamos a esse ponto.

    Os gráficos abaixo compreendem o período 2012–2016 e mostram como, ano a ano, o sertanejo veio desbancando todos os outros estilos e, por tabela, chutando a música estrangeira para fora do Top 100. Se entre 2012 e 2014 havia um certo equilíbrio (uma média 60%-40%), em 2015 o sertanejo passou a ocupar três em cada quatro lugares do Top 100.

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    A mesma tendência se confirmou na comparação entre a presença de artistas brasileiros X estrangeiros. Em 2013, Anitta chegou ao terceiro lugar do ano com “Show das Poderosas”, a melhor posição alcançada por uma canção não-sertaneja. Em 2016, o primeiro hit não-caipira a surgir no Top 100 foi “Cancún” (Thiaguinho), em vigésimo lugar.

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    A monocultura também se manifesta nas letras dos grandes hits do ano. Quando fiz o primeiro estudo sobre o Top 100, em 2015, as temáticas me pareceram um pouquinho mais variadas. Em 2016, a sofrência dominou o panorama. Quase metade das 100 músicas mais executadas no ano passado versam sobre amores que não deram certo, abandono, depressão etc.

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    A porcentagem poderia ser maior, se eu não tivesse sido preciosista e criado duas outras categorias (“Flagrante” e “Despedida”) que, no fim das contas, não deixam de ser também dor de corno. Somadas às outras letras mais genéricas sobre romance & sexo, a conclusão é óbvia: ao menos na música popular, o amor ainda vence tudo. Houve um certo declínio nas músicas sobre bebedeira e farra (talvez por reflexo da carestia).

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    Para encerrar, a comprovação de que o formato obrigatório para chegar ao sucesso é a dupla sertaneja. Das 100 mais tocadas no ano, 60 foram creditadas a duos (ou a duos em duetos com outros artistas, incluindo outros duos — entenderam?). Os grupos estão mesmo em baixa: só dois (Sorriso Maroto e Turma do Pagode) emplacaram entre as 100 mais.

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    A lista completa das 100 mais de 2016 está aqui. Fonte de todos os dados citados: Crowley Broadcast Analysis.

    * Texto originalmente publicado no Medium pelo jornalista e escritor Marco Antonio Barbosa

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