O show de mais um dream team do basquete americano (Stephen Curry, Lebron James, Kevin Durant) e as piruetas de Simone Biles e Rebeca Andrade, que nesta terça-feira 30 batalham por medalhas na ginástica artística – todo esse espetáculo têm como palco a Arena Bercy, situada numa área da cidade onde muito turista acaba não indo por não ser tão central. Agora, anda inundada de gente, que, se prestar atenção, vai esbarrar com coisa boa.
Bem do lado do estádio, fica uma das obras na cidade do festejado Frank Gehry, a Cinemateca Francesa, que guarda uma preciosíssima coleção de milhares de películas e documentos que fazem a festa dos apreciadores da dobradinha sala escura e filme bom. Também oferece um museu dedicado à sétima arte no último piso.
Visto de fora, o prédio traçado pelo canandense que inaugurou a onda dos starchitects – os arquitetos-celebridade – é feito de um conjunto de formas recortadas e desconstruídas. Se não der para entrar, vale uma espiada nesta curiosa fachada.
Caminhando até o Sena, do outro lado do rio, as linhas pensadas para chocar o olhar seguem com as duas torres batizadas de Tour Duos – uma delas vem a ser o terceiro prédio mais alto de Paris, depois da ainda absoluta Torre Eiffel e da Tour de Montparnasse, o espigão de gosto altamente duvidoso mais à direita na cena. Pois a duplinha, que se inclina para o observador, é assinada por outro desses astros das pranchetas contemporâneas, o francês Jean Nouvel.
A vista pode ainda desviar-se para a monumental Biblioteca Nacional, posta na paisagem por François Mitterand, também dois prédios cuja estrutura faz lembrar livros abertos. No final do século XIX, vinho produzido em toda a França desembarcava em Paris naquelas bandas, onde era engarrafado, estocado e depois vendido. O mundo girou, e a atividade perdeu o impulso ali com o tempo, mas os galpões originais foram todos repaginados e hoje abrigam lojas, bares e restaurantes.
CALMA QUE TEM MAIS
As construções de tom bege e não mais do que seis andares convivem lado a lado com exemplares que saltam aos olhos e revelam uma ousadia que faz muito parisiense torcer o nariz. Essa resistência, aliás, é histórica. Foi assim com a Torre Eiffel, no princípio abominada, e, mais tarde, com a pirâmide de vidro e metal que dá as boas-vindas ao visitante do Louvre desde o fim dos anos 1990, obra do chinês I.M.Peig.
Todos eles acabam sendo aos poucos assimilados, mesmo que não encantem a todos – e nem precisa. Seguem alguns representantes da safra que destoa na paisagem:
* Filarmônica: Outra contribuição de Jean Nouvel, erguida com placas metálicas em elétrica desarmonia, abriga uma programação musical de alto nível no Parque de La Villette.
* Fundação Louis Vuitton: O prédio que evoca as velas de um barco, fincado no Bois de Boulogne, é mais um de Frank Gehry, que diz cultivar pelas aventuras a bordo de seu veleiro emoções tão intensas quanto as que o embalam em criações como esta. Está em cartaz por lá uma ótima exposição de Henri Matisse.
* Quai Branly: Também de Nouvel, é a meca da arte primitiva, museu vizinho à Torre Eiffel. As paredes externas são cobertas por um lindo jardim vertical.
E já que o assunto é arquitetura, voltando um pouco no tempo e aterrissando no modernismo, não custa lembrar que a sede parisiense do Partido Comunista Francês nasceu nas pranchetas de Oscar Niemeyer (1907-2012). Ele começou a trabalhar no projeto em 1965, num tempo em que, com a ditadura no Brasil, mudou-se para a França e abriu escritório na Champs-Elysées.
As inconfundíveis curvas e a cúpula branca na frente do prédio proporcionam um inusitado momento-Brasília em Paris.