Quando lançou seu primeiro álbum solo, De Primeira, em 2021, a mineira Marina Sena virou estrela quase que imediatamente. Logo, o single Por Supuesto tomou conta das paradas nacionais, explodiu no TikTok, e Marina virou nome requisitado pelos maiores festivais do país. Hoje, aos 26 anos, a cantora se impõe como uma injeção de vigor e sensualidade na nova MPB. Em entrevista a VEJA, ela fala do novo álbum, Vício Inerente, da parceria com Gal Costa, a quem homenageará em festival, e brinca com a possibilidade de perder tudo o que conquistou. “Sinceramente, volto para o interior e vou vender lingerie com a minha mãe”.
Como tem sido sair do posto de artista revelação para firmar seu nome de vez no cenário musical? Com o álbum De Primeira (2021) pude mostrar que não estava brincando, mas o novo disco, Vício Inerente, bate o martelo de que eu vim para ficar. De que sou uma ótima compositora e que gosto de experimentar e brincar com a voz.
A fama a assustou no começo? Quando estourei com Por Supuesto, parecia que estava flutuando e não tinha nada no que me segurar. Mas me acostumei. Hoje penso que não tenho nada a perder, olha tudo o que já consegui. Só tenho a ganhar, e se perder, sinceramente, volto para o interior e vou vender lingerie com a minha mãe. Por mim tudo bem. Quando você perde o medo, as coisas ficam mais leves.
Você foi uma das últimas pessoas a gravar com Gal Costa. Como foi conhecê-la? Gal foi a maior artista que esse Brasil já teve, e a que mais mexeu comigo. Até hoje não acredito que temos uma música juntas. No nosso encontro, ela disse para eu soltar meu cabelo, que eu tinha de ficar poderosa. Depois disso, nunca mais o prendi.
Em setembro, você vai homenageá-la no The Town. Sempre sonhei em fazer um show cantando Gal, meio que já tenho um repertório pronto desde os 15 anos de idade. Na verdade, espero homenageá-la pelo resto da minha vida. Enquanto eu cantar, quero falar dela, sempre.
O que acha da explosão de novos festivais ao redor do país? É ótimo, um passo importante para as pessoas compreenderem que a arte gera muito emprego nos lugares por onde passa. A arte pode mudar vidas – mudou a minha. Tem que olhar com esse respeito.
Como avalia a cena da nova geração da MPB, que mescla inspirações raiz com referências atuais? Os tempos mudaram, e a MPB tem que se atualizar sempre. Tem que ser moderna. Em sua essência, ela não é limitada, e não temos de imitar algo que já aconteceu. A “MPB raiz” é exatamente o que está acontecendo hoje: a ousadia de mesclar ritmos, até trazer a tecnologia e o eletrônico para o som, e fazer isso ser popularmente brasileiro.
Sente que o espaço da música pop no Brasil se alargou? O gênero ainda está se estabelecendo por aqui. Anitta fincou a bandeira do pop, trouxe visibilidade. E isso abriu espaço para que cada artista fizesse do seu jeito. O pop é muito abrangente, temos espaço para mim, Anitta, Luiza Souza, Ludmilla, Duda Beat…
Se considera uma diva pop? Tenho pensado muito no porquê de me sentir dessa forma. Acho que nasci assim, é uma vontade forte. Sempre gostei muito de aparecer. Mesmo quando eu cantava na A Outra Banda da Lua, lá em Montes Claros, com um som bem regional, me sentia uma diva pop e me posicionava assim: tomava conta do palco, dançava, fazia pose. Acho que é um personagem de poder que você arruma.
Sensualidade já virou sua marca. Como avalia a experiência de ser artista mulher hoje? É maravilhoso poder ter essa liberdade. Hoje é bem mais tranquilo de expressar os nossos sentimentos, vontades, desejos, nossa sensualidade e sexualidade. Agradeço muito às mulheres que vieram antes e abriram caminho para minha geração poder querer tudo o que quer. Espero que seja cada vez mais fácil e mais gostoso ser mulher.
Suas composições sempre trazem a ideia de uma paixão arrebatadora, mas raramente na forma melancólica. É essa sua interpretação do sentimento? Minha música favorita de Caetano Veloso é Sorvete. Ele canta: “Sobre os monstros da paixão, controle total”. Me considero essa pessoa que tem muito controle do que sinto, mesmo se estiver aparentemente por baixo, não é um sofrimento. É só um momento que vou viver e aproveitar para fazer música. Vejo sempre com alto astral. Viver isso pode ser interessante também.