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O Som e a Fúria

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Duda Beat a VEJA: ‘Quero levar o nome de Pernambuco para o mundo’

Em turnê com seu terceiro álbum de estúdio, 'Tara e Tal', a cantora comenta as demandas da indústria musical e a abertura do público à cena alternativa

Por Thiago Gelli Atualizado em 5 jun 2024, 08h19 - Publicado em 5 jun 2024, 08h00

Dois meses após lançar seu terceiro álbum de estúdio, Tara e Tal, a pernambucana Duda Beat, de 36 anos, sai Brasil afora para agitar o público de shows individuais e festivais abarrotados com sua sonoridade camaleônica, carregada de música eletrônica e distinta por toques característicos de ritmos nacionais — e, no caminho, passa pelo festival João Rock na noite de sábado, 8 de junho. Expoente da cena alternativa brasileira, a cantora comenta a VEJA a importância de eventos do tipo para a economia da indústria fonográfica, conselhos recebidos por veteranos da MPB, a dedicação para com ritmos de seu estado natal e os desafios do mercado atual:

Duda, no sábado você se apresenta pela primeira vez no João Rock, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Qual sua relação com o circuito de festivais em comparação com as agendas de turnê solo? Comecei como artista de festival. Lembro que em 2019, antes da pandemia, ter passado por todos os festivais que pude foi muito importante para a expansão do meu público, Um dos papéis fundamentais desse formato é, de fato, apresentar o artista para um público que não pagaria por um show solo dele. Além disso, acho maravilhosos os encontros que rolam nos bastidores. Todos os músicos têm vidas muito corridas, então o festival é nossa oportunidade de encontro. O João Rock, por sua vez, já era um evento do qual eu tinha muita vontade de participar. Só não fui na edição de 2023 por conta do convite do Mita, que aconteceu no mesmo dia e me deu a chance de conhecer a Lana Del Rey. Agora estarei lá com muito amor e carinho. Vai ser um festival bem bonito.

Quanto a essa congregação de artistas, qual encontro com um colega da música mais te marcou? Olha, tive muitas conversas, mas nenhuma supera o papo sobre composição que tive com o Caetano Veloso. Ele é um dos artistas mais generosos que conheço e muito aberto para o novo. Uma vez, ele veio a mim falar sobre minha escrita na música Bixinho, para elogiar como a letra era única e só andava para a frente, sem voltar muito aos mesmos versos. Ouvi um feedback similar do Djavan em outra ocasião, que também me motivou muito. Acabei absorvendo esse elogio de uma forma muito positiva. Ganhei muita confiança para continuar fazendo o que faço do meu jeito. Outra frase que nunca esqueço veio de um fã, que me chamou de “representante do futuro”. Acho que isso também se deve ao fato de que misturo ritmos que não são combinações óbvias.

Parte dessa mistura advém de suas raízes pernambucanas. Como é levar esse som para o resto do Brasil? Para mim, é muito fácil porque já estou habituada. Cresci ouvindo música pernambucana. O maracatu, o frevo e o baião me formaram musicalmente. Quando sento com os meninos Lux & Tróia, meus parceiros de composição e produção, as referências do meu estado natal sempre estão muito presentes, e daí misturamos o pop do mundo afora com ritmos próprios do Brasil e ideias dos dois, que são cariocas. Acho que é por isso que o resultado final é tão único. Quero levar o nome de Pernambuco para o mundo. É um lugar muito rico culturalmente.

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Hoje, você sente que o eixo de gravadoras do sudeste é mais receptivo a artistas de fora? Principalmente com a internet, creio que cada vez mais as pessoas têm as próprias vozes e os próprios canais de comunicação para falar o que quiserem e colocar música no mundo. A globalização não para, então não tem como nenhuma parte do país ficar de fora, e o Brasil tem muito a oferecer de norte ao sul. Essa abertura ocorre independente das gravadoras do sudeste e, aí, elas acabam recebendo isso muito bem.

Na sua carreira, você tem que equilibrar a  vocação autoral com demandas comerciais e trabalhos de publicidade. Hoje, sente que existe um bom equilíbrio entre essas esferas? A primeira coisa que me veio à cabeça foi um dia em que tentei fazer algo hiper comercial e, no fim, não vingou. Quando tentamos ser algo que não somos, as pessoas percebem. Cada vez mais, quero trabalhar com a minha verdade e com o que acredito, fazer músicas que sei que vou querer cantar daqui a 20 anos com muita emoção e prazer. Essa questão me atinge mais como celebridade que como artista, uma divisão que gosto de fazer. Aí, sim, me atinge a pressão do mercado de estar sempre no trem do que está sendo comentado ou da polêmica da hora, mas não me atento tanto a isso porque sou muito verdadeira com as coisas. Minha vida é transparente, então se for pra nascer alguma controvérsia chamativa, isso vai acontecer de uma forma natural e não planejada — mas sei que é dentro de mim que existe o fator com o qual as pessoas se identificam, não em fórmulas. 

Como é sua relação com a crítica? É preciso analisar muito bem o contexto de onde sai a crítica. Se é construtiva, trago para mim e debato comigo mesma e com meus colegas, mas não deixo comentários de fora determinarem o jeito que faço minhas coisas. Se a opinião do outro sobressai à sua, o artista entra num lugar perigoso. É muito delicado, mas todo mundo é livre para falar o que quiser e cabe ao alvo absorver e filtrar os comentários. Uma crítica que recebi com o disco Te Amo Lá Fora, por exemplo, é que cada música apontava para um gênero diferente — mas esse é um elemento intencional da minha arte. Ninguém escuta uma coisa só, então continuei nesse caminho e, com o novo álbum, Tara e Tal, não ouvi mais queixas nesse sentido porque entenderam que é minha marca. O cantor tem que fincar os pés no que acredita e se manter aberto a outras visões. Agora, se o apontamento não for valioso, basta agradecer e seguir em frente. No fim, tem muito a ver com maturidade, então entendo quem se magoa.

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