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O Som e a Fúria

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Pop, rock, jazz, black music ou MPB: tudo o que for notícia no mundo da música está na mira deste blog, para o bem ou para o mal

Como Sullivan e Massadas foram “sequestrados pelo sucesso” nos anos 90

Dupla de compositores de maior sucesso no Brasil conversou com VEJA sobre suas canções e volta a se apresentar ao vivo em São Paulo

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jul 2024, 12h17

Nos anos 1980 e 1990 a dupla Michael Sullivan, de 74 anos, e Paulo Massadas, de 73 anos, descobriu o segredo do sucesso. As canções, gravadas por nomes como Xuxa, Roberto Carlos, Tim Maia, Gal Costa, Fagner, Roupa Nova, Alcione, Sandra de Sá, entre outros e atingiam regularmente as primeiras posições das mais tocadas, tornando-se verdadeiros clássicos brasileiros. Após 35 anos da separação da dupla, os dos compositores voltam a se reunir neste sábado, 6, para uma apresentação no Cine Joia, em São Paulo.

A festa celebra o sucesso do documentário Sullivan & Massadas: Retratos e Canções, na Globoplay, que conta a história da dupla. Em entrevista a VEJA, os dois compositores contaram que o segredo foi fazer uma música sem preconceito. Do infantil ao pop, funk e samba, passando pelo forró e chegando ao rock. Nenhum estilo ficou fora da lista de sucessos deles. Entre os hits estão Um Dia de Domingo (Gal Costa e Tim Maia), Deslizes (Fagner), Talismã (Leandro e Leonardo), Nem Morta e Estranha Loucura (Alcione), Joga Fora e Retratos e Canções (Sandra de Sá), Amor Perfeito, Meu Ciúme e Pergunte ao seu coração (Roberto Carlos). A dupla compôs ainda inúmeros hits infantis, como É de Chocolate, Parabéns da Xuxa, Lua de Cristal e Uni-Duni-Tê.

Apesar do sucesso, os dois compositores enfrentaram preconceito e comentários ferozes dos críticos musicais da época, que se incomodavam com a quantidade de hits que eles faziam. Na série de TV há, inclusive, uma risível entrevista antiga com um desses críticos apontando ponto a ponto os motivos que faziam ele achar brega a música de Sullivan e Massada. Confira a seguir os principais trechos do bate-papo.  

Vocês voltarão a cantar juntos neste sábado, 6, após um hiato de 34 anos. Qual é o sentimento de voltar aos palcos? 

Sullivan: É uma festa. Voltamos após o sucesso do documentário Sullivan & Massadas: Retratos e Canções, na Globoplay, de André Barcinski e Pedro Bial, com a parceria do pessoal da Kuarup. Por enquanto, não é um retorno e, sim, uma comemoração. É um encontro.

Massadas: Imagine que você conseguiu subir a montanha e ficou lá no topo por anos e anos. Depois que você desce há uma sensação de missão cumprida. Nem eu, nem o Sullivan poderíamos imaginar que chegaríamos aonde chegamos. Costumo dizer que fomos sequestrados pelo sucesso. A nosso favor, posso dizer que nunca dissemos não para nenhum pedido de música. Desde os artistas mais humildes até os mais consagrados. A gente sempre estava ali para servir. Sabíamos que poderíamos somar de alguma forma com a música brasileira. As pessoas foram muito felizes nos anos 1980 e 1990.

Nem eu, nem o Sullivan poderíamos imaginar que chegaríamos aonde chegamos. Costumo dizer que fomos sequestrados pelo sucesso.

Paulo Massadas
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Vocês possuem uma incontestável lista de sucessos, mas enfrentaram comentários raivosos e preconceitos por parte dos críticos musicais da época. Como lidaram com isso?

Sullivan: Minha música não tem preconceito e luta por seus direitos. Ela é uma música que representava um país continental – e ainda representa porque continua sendo regravada. Fizemos desde pop, rock, forró, pagode, sertanejo e música infantil. A nossa música foi a trilha sonora de todos os corações. O preconceito que houve foi uma orquestração de uns poucos que achavam que a arte precisava ter pedigree. Lógico que as críticas afetaram a gente, mas continuamos e lutamos contra isso. Não fazíamos música de nicho.

Massadas: Na época, ninguém percebeu, mas a nossa música refletia as mudanças políticas, econômicas e religiosas que o Brasil enfrentava. Intuitivamente – não foi propositalmente – a gente refletiu a alegria da volta da democracia. Adaptamos aquilo a uma nova linguagem. A música brasileira voltou a ser popular e não política. Estávamos no momento certo, fazendo a música certa, para o público certo.

Sullivan: A música nos usou porque nos propusemos a servir o povo.

Minha música não tem preconceito e luta por seus direitos.

Michael Sullivan
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Havia uma fórmula para o sucesso?

Sullivan: Não inventamos nada. Quando digo que a música nos usou é porque fazíamos uma música refletindo as nossas origens. Começamos tocando em bailes e tocávamos de tudo, desde Martinho da Vila ao rock and roll.

Massadas: Quando você faz música, você traduz emoções. As pessoas se sentiam – e se sentem até hoje – identificadas com elas. Os arranjos de Lincoln Olivetti eram espetaculares e arrasadores. A gente foi abençoado com tudo isso.

Em certo momento, músicos de todos os matizes batiam na porta de vocês para pedir música. Como funcionava essa indústria?

Sullivan: Depois que eles experimentavam desse mel, eles queriam mais. Era uma explosão. Nossas composições sempre acabavam se transformando nas que mais vendiam e as que mais tocavam nas rádios. Mas não era nada que dava para prever. Digo sempre que quando alguém diz que vai compor um hit, pode sair de perto porque vai dar errado. A gente tinha “TTS”: Talento, Trabalho e Sorte. Talento e trabalho a gente garantia. Sorte, só Deus.

Massadas: Fizemos algo em torno de 600 a 700 músicas juntos. Muitas nem nos lembramos. Mas, se você tivesse 700 filhos, você lembraria o nome de todos eles?

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Os críticos achavam que a arte precisava ter pedigree.

Michael Sullivan

Vocês compuseram para Tim Maia, Gal Costa, Roberto Carlos, Alcione, Sadra de Sá… Que canção teve o sucesso mais inesperado para vocês?

Sullivan: A música Talismã nasceu assim. O Mario Luiz, que era um dos maiores radialistas da época, nos pediu uma música para entrar no disco de um amigo dele. Era o Elson do Forrogode. Mas eu não sabia que a música era para ele. Liguei para o Paulo de madrugada para atender essa demanda. Era umas 4 da manhã e a gente tinha que compor de qualquer jeito. Fizemos a música em duas horas. Entregamos a música e a pessoa gravou. Dois meses depois, nos corredores da Som Livre, o Elson me abraçou chorando dizendo que a gente tinha feito a música da vida dele. Eu nem sabia qual era a música. A gente estava com a Xuxa na época. E a música era Talismã. Depois, a dupla Leandro e Leonardo gravou e estourou como nunca. No México, a Ana Gabriel gravou em ritmo mariachi e ganhou um Grammy. Até hoje é muito tocada por lá. Neguinho da Beija-Flor, Diogo Nogueira, Ferrugem e até Tony Ramos e Antônio Fagundes já gravaram.

Massadas: A música é uma caixinha e surpresa. Ás vezes, você nem acredita tanto nela e ela explode. Aos poucos, eu acho, nós nos tornamos tradutores do subconsciente coletivo.

Com essa quantidade de canções de sucesso, deu para vocês ficarem ricos? 

Massadas: Se a gente tivesse dez músicas de sucesso estávamos ferrados. Mas são 700 e isso muda todo o jogo.

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Sullivan: Para a América Latina e Brasil, somos bem pagos. A arrecadação aqui, no entanto, ainda é pequena se comparada com os Estados Unidos. Há uma inadimplência muito grande também. Poderíamos ter ganhado o dobro ou o triplo. Ganhar dinheiro no Brasil é uma missão de vida. Mas não podemos reclamar.

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