Aos 24 anos, a cantora Samara Joy, se firmou como uma das mais belas vozes do jazz da atualidade. Em novo álbum, Portrait, lançado recentemente, ela apresenta oito faixas onde ela rejuvenesce o jazz e e o apresenta para as novas gerações. A cantora, que se apresentou no Brasil em 2023, onde cantou em português o clássico de Djavan, Flor de Lis, de quem ela é fã, e também Chega de Saudade, gravou neste álbum a versão em inglês da bossa nova, No More Blues.
No disco, ela é acompanhada pelo trompetista Jason Charos, o trombonista Donavan Austin, os saxofonistas David Mason e Kendric McCallister, o pianista Connor Rohrer, o baixista Felix Moseholm e o baterista Evan Sherman. Para além da regravação da canção brasileira, o disco Portrait destaca o talento de Joy como letrista, com novos arranjos que combinam suas letras ponderadas com músicas de Charles Mingus, Barry Harris e outros.
Em entrevista a VEJA, Joy relembrou da passagem pelo Brasil e falou da pressão em ser chamada do futuro do jazz. Confira a seguir:
Você esteve no Brasil no ano passado para um show no C6 Festival. Que memórias guarda daquele período? Foi incrível! Foi minha primeira vez no Brasil e pude conhecer Rio de Janeiro e São Paulo. Me diverti muito apresentando em português as músicas Flor de Lis e Chega de Saudade em português.
Em seu novo álbum, você gravou No More Blues, versão em inglês da bossa nova Chega de Saudade. Como o ritmo musical influenciou a sua música? Amo essa música. Pensei em cantá-la em português, mas tive medo de errar. Então, decidi cantá-la em inglês. Antes, eu já havia cantado em português aí no Brasil, no show no C6. É uma música popular, mas queria apresentá-la a um público mais amplo. A Bossa Nova é universal e atemporal. É incrível poder expressar minhas ideias musicais por meio desse ritmo. Embora seja enraizada no jazz, sua influência se espalha por diversos gêneros, como o pop.
Além da Bossa Nova, quais outras influências da música brasileira você tem? Admiro muito artistas como Rosa Passos, Elis Regina, João Gilberto e Djavan. Tive a oportunidade de conhecer o Djavan pessoalmente e assistir a um show incrível dele em São Paulo. A paixão do público brasileiro por diferentes estilos musicais é inspiradora.
Como a sua vida mudou após ganhar o Grammy há dois anos? Ganhar o Grammy mudou a maneira como as pessoas me veem, mas continuo sendo a mesma pessoa. Não deixei que isso fosse o fim da minha jornada musical. Continuo fazendo música que amo.
Você sente pressão ao ser apontada como alguém que está renovando o jazz? Sim, há uma expectativa de que eu seja a próxima grande estrela do jazz. Mas acredito que o verdadeiro impacto vem de ser autêntico e fazer música de qualidade. Artistas como Roy Hargrove e Miles Davis são exemplos disso. Eu diria que sou apenas uma das muitas vozes do jazz que estão elevando o gênero, ao lado de outros músicos, radialistas, jornalistas, promotores. Todos desempenham um papel na comunidade musical.
O que significa este novo álbum para você? É muito especial. Tive que lutar para convencê-los a lançá-lo. É uma representação de quem sou agora e da minha decisão de ser o melhor que posso ser, seja escrevendo letras, melodias e permitindo que os membros da banda façam arranjos, fortalecendo certas coisas juntos. Eu não queria colocar tanta pressão em mim mesmo, só queria fazer a música que fosse real para mim e estou feliz que as pessoas estejam me conhecendo melhor.
Como as redes sociais influenciam a popularização do jazz e da sua música? É uma faca de dois gumes. As redes sociais são uma ferramenta poderosa para alcançar novos públicos que nunca entraram num clube de jazz e atingir um público diferente. Acho ótimo para a minha geração ter esse tipo de independência e não depender necessariamente de uma gravadora para ter audiência. No entanto, é importante equilibrar a busca por popularidade com a preservação da integridade musical. Priorizo sempre a qualidade da música.
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