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‘Blackbird’: o que levou Beyoncé a regravar sucesso dos Beatles

'Blackbird' foi composta por Paul McCartney em 1968, auge do movimento de direitos civis dos negros nos Estados Unidos

Por Thiago Gelli Atualizado em 9 Maio 2024, 12h41 - Publicado em 4 abr 2024, 12h20

Em cima de um cavalo branco, com chapéu na cabeça e bandeira americana na mão, a cantora Beyoncé estampa a capa de seu mais novo álbum, Cowboy Carter, composto de 27 faixas que ambicionam afastar o country — o sertanejo estadunidense — da imagem branca e conservadora que se tornou comum ao meio. Os clássicos reinterpretados vêm de Dolly Parton, Willie Nelson, Beach Boys, Nancy Sinatra e Chuck Berry, entre outros, mas uma faixa é importada do outro lado do Atlântico: Blackbird, clássico do grupo britânico The Beatles, composto por Paul McCartney no fim dos anos 1960. A conexão, que pode parecer inesperada à primeira vista, entretanto, tem um motivo plausível.

Escrita em 1968, a música teve como inspiração principal o caso dos “little rock nine“, grupo de nove estudantes negros matriculados a uma escola pública de sua cidade no Arkansas em 1957, onde e quando antes apenas estudantes brancos eram permitidos. Com o apoio do Tribunal Superior Americano, que declarou inconstitucional a segregação racial em escolas, os nove jovens de 15 a 17 anos então foram avaliados academicamente e aprovados pelo comitê escolar. O aval da lei e dos acadêmicos, porém, não foram suficientes para contentar a elite branca da região, que protestou em frente ao colégio e convocou a guarda local para impedir a entrada dos novos alunos, com apoio do governador segregacionista Orval Faubus, depois repreendido pelo presidente Dwight D. Eisenhower.

Longe de um conflito breve, as tensões em Little Rock perduraram por anos, em sucessivas tentativas de restabelecer a segregação escolar e no racismo presente dentro e fora de salas de aula. Segundo McCartney, o momento é um marco de seu tempo. “Foi aqui que o movimento dos direitos civis realmente começou”, disse em um show na própria cidade de Little Rock, em 2016. “Nós acompanhávamos o que acontecia à distância e simpatizávamos com a luta, e isso me fez querer escrever uma música que poderia ajudar as pessoas nessa situação.”

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Para Melba Patillo Beals, hoje com 82 anos, as intenções do cantor foram bem-sucedidas. Uma das pioneiras de Little Rock, ela é fã da canção desde o lançamento original e ouvia nela o cantor dizer “posso não ser capaz de resgatá-la, mas a escuto cantar no escuro”, contou ao Washington Post. Na manhã de 29 de março, lançamento do disco de Beyoncé, ela diz ter chorado copiosamente ao som da primeira estrofe — “pássaro preto cantando na noite, pegue essas asas quebradas e aprenda a voar. Toda sua vida, você esteve esperando por esse momento”.

Segundo Beals, o contexto por trás da canção fica ainda mais inegável na voz de Beyoncé, e novas versões da música ajudam a manter a memória viva. “Posso voar para onde quiser agora, mas o que quero é que as gerações depois de mim saibam o que eu sei”, afirmou. A faixa de Beyoncé, cujo título é estilizado como BLACKBIIRD, ainda utiliza o violão e o bater de pés da gravação original e recebeu a bênção do britânico, confirmada por representantes do cantor ao veículo Variety.

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