A Adidas, gigante alemã de roupas esportivas, anunciou nesta terça-feira, 25, que encerrou uma parceria estimada em cerca de 1 bilhão de dólares que mantinha há uma década com o rapper americano Kanye West (que mudou de nome para Ye). A decisão ocorre após o músico ter feito declarações antissemitas, divulgado comentários supremacistas brancos e ter provocado os executivos da marca.
A parceria havia sido selada com a marca Yeezy, criada por Ye após ele ter deixado a Nike. A empresa do músico era a responsável pelo design de tênis e roupas para uma linha temática da Adidas. Segundo uma estimativa da revista Forbes, boa parte da fortuna de Kanye West, estimada em 2 bilhões de dólares, era decorrente desse contrato.
“A Adidas não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio”, disse a empresa em comunicado. “Os comentários e ações recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça.”
Em uma das mensagens de cunho antissemita feita por West, publicada no Twitter, ele disse que iria aumentar seu estado de alerta em relação aos judeus para “death con 3” (em uma suposta referência ao “defcon 3”, um dos estágios de segurança mais altos dos EUA). Na sequência, o Instagram e o Twitter suspenderam a conta do músico de suas redes. A grife de luxo Balenciaga também anunciou o fim do contrato com o rapper após ele ir a um desfile em Paris com uma camisa com os dizeres “White Lives Matter” (Vidas Brancas Importam, em inglês), associado a grupos supremacistas brancos.
Há uma semana, West divulgou um vídeo em que ele aparecia mostrando um cena no celular para os executivos da Adidas. Em seguida, um dos homens pergunta: “Isso é um filme pornô?” e Ye responde que sim. “Jesus Cristo”, exclama em seguida o executivo. O gesto, segundo o músico, teria sido uma analogia ao que a marca estaria fazendo com suas criações. “O que você está sentindo agora é um desconforto extremo, e esse é exatamente o ponto”, ele diz. “Quando alguém rouba as ideias desse homem, suas criações, é como se você estivesse roubando uma criança. Estes são todos filhos da mente dele, e você os sequestrou”, completa.
A marca, que demorou para tomar uma decisão a respeito do contrato com o rapper, sofreu pressões na Alemanha para cortar os laços com ele. O Conselho Central de Judeus, na Alemanha, divulgou um duro comunicado dizendo: “A responsabilidade histórica da Adidas está não apenas nas raízes alemãs da empresa, mas também em seu envolvimento com o regime nazista”, disse Josef Schuster, chefe do conselho. “Eu simplesmente espero que tal empresa tome uma posição estrita em relação ao antissemitismo.” Ad Dassler, um dos fundadores da Adidas, chegou a fazer parte do partido Nazista, e a fábrica da empresa foi obrigada a produzir munições no fim da guerra.