Eram pelo menos três as opções de destino que me atormentavam quando sentei diante do painel de controle da Máquina do Tempo para decidir a viagem pela história do futebol dessa semana. Uma dúvida tricolor. E se acabei desembarcando aqui, na tarde/noite de 22 de setembro de 1996, no Grenal nº 331, vencido pelo Grêmio, foi também apoiado numa trinca de motivos: 1) até 2021, de onde venho, adianto a vocês, torcedores gremistas, o clube terá arrematado apenas mais um título no Campeonato Brasileiro, sim, um segundo e único triunfo, que se dará justamente este ano, dentro de três meses, podem me cobrar!; 2) a arrancada para esta conquista, assim dirão, aconteceu ontem, com o Onze de Scolari saindo fortalecido após vencer o rival; e 3) daqui a 25 anos, sinto informar, às vésperas de mais um confronto, o 433º, o Grêmio estará amargando um momento TRIste, que posso resumir em três linhas:
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1 – Será o lanterna no Brasileiro, com 0 vitórias em 7 jogos (5 derrotas e 2 empates);
2 – Estará buscando seu terceiro treinador na temporada (olha o 3 aí de novo!)
3 – E vivendo uma ressaca de dose tripla após a saída do clube daquele que virá a se consolidar como o seu maior ídolo de todos os tempos: Renato Portaluppi! Ou, como se consagrou com a bola nos pés: Renato Gaúcho!
Calma, não se assustem, não estaremos então diante do maior case de longevidade nos campos de futebol, superando os 50 anos e 5 dias de atividade do ponta inglês Stanley Matthews, nada disso… Quando deixei o Século 21, Renato já fazia parte da História do Grêmio de três (olha ele aí!) formas: como jogador, como técnico e como… Estátua! Eu vim do futuro pra contar tudo isso a vocês e aos pombos. É tri-legal!
Já pegaram o chimarrão? Então vamos lá… O jogo de ontem é pra se comemorar e muito! Até porque, nisso gremistas e colorados concordam, “Grenal é Grenal!” Não foi por acaso que tive dificuldades ao inserir as coordenadas na Máquina do Tempo, tantos são os jogos antológicos entre os dois times, seja no passado até aqui ou no futuro que vocês ainda vão assistir e atestar. Pra se ter uma ideia, em breve acontecerá uma partida que ganhará subtítulo imponente: “O Grenal do século” – um dia ainda viajo até este momento, me aguardem! E segue aqui o meu já tradicional “alerta de spoiler”: em 2016, uma conceituada revista inglesa, a FourFourTwo, vai eleger os 50 maiores clássicos do mundo, fixando o Grenal na oitava posição, sendo portanto o n°1 do Brasil – botando os Fla-Flus da vida no chinelo… Tudo a ver, pois estamos falando da terra da bota de garrão de potro com esporas, tchê! Barbaridade…
A Poção Mágica que deu superpoderes ao Grêmio ontem talvez venha do fato de o resultado ter afastado o Inter do mata-a-mata deste Brasileirão de 1996. E estamos testemunhando este ano o ponto alto dessa geração vencedora e de muitos títulos: Bi no Gaúcho, 95 e 96, Copa do Brasil de 94 e a Libertadores do ano passado. Tudo sob a batuta e o bigode do paizão Luiz Felipe Scolari, que, revelo a vocês, ainda levará esse conceito “Família” para a Seleção Brasileira, faturando a quinta estrela no próximo Século. Antes, é meu dever alertar, viveremos momentos insólitos no Mundial da França, numa cena que vai lembrar rotinas familiares, em que crianças passam mal de noite e vão parar na Emergência. Fica aqui a minha dica: na próxima Copa, aproximando-se da final, será mister um check-up em todo o elenco verde-amarelo, em especial naquele atacante careca, dentuço e com cara de bebezão.
Ontem tivemos quem vivesse um dia de Fenômeno: Paulo Nunes, autor daquele golaço de Bicicleta logo no início do clássico. Esticando o meu pescoço na velha e boa Coréia do Beira-Rio – que acabará sendo demolida, em 2004, por uma tal “modernização dos estádios” –, consegui vê-lo em efusiva comemoração, sobre um só pé, como um saci branco-azedo e esquálido. Pois saibam que daqui a um quarto de século o atacante já vai ter gastado algumas horas puxando ferro (ou alguns reais comprando suplementos alimentares, vá saber) e ostentará uma carcaça mais próxima à do Carlos Miguel, ou mesmo à silhueta do Scolari, obviamente com músculos no lugar dos matambres laterais. Uma transformação motivada talvez pela futura participação do “Diabo Loiro” num curioso programa do próximo Milênio na TV, de nome A Fazenda, que reunirá gente estranha com fama esquisita. Coisa do demo…
Foi também ele, o até aqui magrelo atacante, que sofreu a falta que deu origem ao tento da vitória, petardo de Dinho, isso aos 21’ do segundo tempo, em lance isolado, pois o Grêmio ontem foi como a sonífera ilha: um pedaço de time cercado de pressão colorada por todos os lados. Verdade seja dita: os derrotados donos da casa dominaram a partida, parando nas defesas de Danrlei, em dia inspiradíssimo. Mas só conseguiram um golzinho, Murilo aos 7 da etapa derradeira, empate que durou menos de um quarto de hora. Ao longo das décadas, Grêmio e Inter se alternam na hegemonia do confronto, embora isso pouca diferença faça na hora em que um resolve zoar o outro. Em 2021, de onde venho, o “placar geral” estará marcando 157 vitórias para o Internacional (590 gols); 138 para o Grêmio (562 gols); 136 empates. Curiosamente, ao chegarem lá, gremistas terão vivido últimas temporadas mais felizes, em grande parte pelo comando de – voltemos a ele – Renato Gaúcho. É isso mesmo, podem acreditar: o indomável jogador se transformará num treinador de pulso firme e seguidos triunfos. O seu projeto de comandar times do banco não vai parar nesses episódios esporádicos e desesperados que têm acontecido este ano no Fluminense.
Troquem o chimarrão por um vinho de Bento Gonçalves (o passar dos anos vai maturar e sofisticar o sabor dos “sucos de uva e álcool” gaúchos, invistam!) e registrem os feitos: em quatro anos e meio como técnico do Grêmio (será um recorde nacional), Renato vai papar uma Copa do Brasil (em 2016), uma Libertadores da América (2017), uma Recopa Sul-Americana (2018) e ainda três Gauchões. Se tornará assim o primeiro brasileiro no seleto grupo de pessoas a conquistar a Libertadores como jogador e como treinador. Essas e outras vitórias somadas à sua história marcante como jogador gremista (ninguém se esquece, só na final do Mundial, em 1983, foram dois gols dele na vitória sobre o Hamburgo) levarão a Diretoria a inaugurar uma estátua do craque no clube, sob aplausos e auspícios da torcida. Seu nome se confunde com o time. É outro Imortal.
Mas como tudo na vida um dia acaba – com exceção de pandemia de Covd-19, essa demora, vocês hão de conhecer e concordar! –, em abril de 2021 Renato deixará o tricolor gaúcho. E terá início, então, este pesadelo no Brasileirão do mesmo ano a que já me referi. Ainda hoje embarco na Máquina do Tempo e retorno ao futuro a tempo de acompanhar o Grenal marcado para a rodada de fim de semana. Quem sabe o Grêmio não dá uma pirueta na má fase e vira este mau momento de cabeça pra baixo, mais ou menos como a Bicicleta do Paulo Nunes ontem? No século 21, até o Stanley Matthews deixará de ser o recordista em tempo de carreira nos gramados. Em 2017, o tiozinho driblador será superado por Kazuyoshi Miura, ou simplesmente Kazu. Sim, é esse mesmo que vocês estão pensando, que já jogou no Santos, no Palmeiras, Coritiba… Em janeiro de 2021, com 54 anos, estará renovando seu contrato com o Yokohama do Japão. Os gremistas sabem: ninguém segura um Imortal!
FICHA TÉCNICA
Internacional 1 x 2 Grêmio (nº 331)
Estádio: Beira-Rio
Local: Porto Alegre
Data: 22 de setembro 1996
Horário: 16h00 Árbitro: Carlos Elias Pimentel (RJ), auxiliado por Adriano Sajonc (RS) e José Carlos Oliveira (RS) Público: 47.172 (39.621 pagantes) Renda: R$ 491.200,00 Gols: Murilo 7´2T (I); Paulo Nunes 5´1T e Dinho 21´2T (G) Cartões Amarelos: Leandro, Arílson (I); Adílson e Arce (G) Cartão Vermelho: Carlos Miguel
Internacional: André, César Prates, Tonhão, Gamarra e Arílson; Fernando, Enciso (Luis Gustavo), Marcelo e Murilo (Yan); Fabiano (Fabinho) e Leandro. Técnico: Nelsinho Batista
Grêmio: Danrlei, Arce, Luciano, Adílson e Roger; Dinho, Goiano, Aílton (Emerson) e Carlos Miguel; Paulo Nunes (João Antônio) e Saulo (Zé Alcino). Técnico: Luís Felipe Scolari
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