Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem… O Plano Collor e sua Ministra da Economia não nos deixam mentir. Pouca gente levou fé nesse jogo de ontem no Morumbi. Apenas 2.762 pagantes testemunharam a primeira vez na história em que os clubes de maior torcida no país, Flamengo e Corinthians, nessa ordem, se enfrentaram numa final. Pois trago do futuro uma notícia curiosa que pode ser um caldeirão de arrependimento para os muitos milhares de torcedores invisíveis do estádio. Até junho de 2021, de quando venho, nunca mais esses dois times vão estar frente à frente numa disputa por título. Ou seja: embora ninguém soubesse, esse 1×0 que deu ao Corinthians o título de campeão da segunda edição da Supercopa do Brasil, por mais insosso que pudesse parecer, tinha em si algo de especial, de fantástico, de único, de eterno… Bruxaria pura. A magia do derradeira batalha entre duas Nações.
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De um lado, o mago Neto, fazendo o gol da vitória e aprontando outros passes e lances sobrenaturais – como um Merlin a desfilar sua sabedoria no reino encantado dos gramados. Do outro, ainda com ar de aprendiz de feiticeiro, o jovem Marcelinho, para quem (segredo oculto que agora revelo) o tempo trará um novo manto sagrado de bruxo, indo com sua esquerdinha de condão virar ídolo e talismã de outra torcida, justamente a que o vaiava ontem. Malabarismos do destino…
No próximo século, posso garantir, Mengão e Timão vão seguir magnetizando as maiores torcidas do país. Como explicar então que, “hocus pocus”, menos de três mil pessoas tenham deixado suas casas ontem para dar uns gritos hipnóticos no Morumbi? Fim de mês? Calor do verão? Chuva na cidade? As eleições no Parque São Jorge? (Aposto meu cavalo e minha espada que deu Marlene Matheus pra presidente) Ainda o confisco da poupança? Me digam vocês, corintianos, que 42 dias atrás estavam em mais de 100 mil no mesmo estádio, comemorando seu primeiro título nacional. A verdade é que essa Supercopa – competição criada ano passado para pôr frente à frente os campeões do Brasileiro e da Copa do Brasil – não pegou. Como vocês sabem, na primeira edição do torneio, a CBF, essa bruxa má do nosso futebol, preparou mais uma de suas poções malignas: os dois jogos finais, entre Grêmio e Vasco, valeram também para a Libertadores da América. Se eu contasse isso no futuro, relembrando o fato, muita gente não ia acreditar.
Tanto descrédito e a descrença na Supercopa do Brasil, já vou adiantando, vai enterrar a competição no cemitérios dos mortos-vivos. Sim, porque, anotem aí, ela vai se reerguer, como um Zumbi moribundo – que, a propósito, daqui a 30 anos ainda estarão em alta no maravilhoso mundo do entretenimento. Serão longos e tristes invernos para a coitadinha da Supercopa: 29 anos de um sono profundo, como uma Bela Adormecida a aguardar a chegada daquele jovem cartola, que virá não em um mas em muitos cavalos do motor de sua Ferrari, trazendo o beijo redentor, mas querendo dar vida a mais alguns milhões no bolso das confederações do esporte. Não contem para as crianças, mas esse conto-da-carochinha vai se materializar no mundo real, lá em 2020, tele transportando o mesmo Flamengo a uma nova chance de levar a estatueta pra sua sede, em jogo com o Atlético Paranaense. O fim da história? Um time rubro-negro será o campeão. Adivinhem! Detalhe: a partida será em Brasília! É ou não é o mundo da fantasia?
Mas vamos ao certame. O Corinthians começou com ares de lobo-mau, parecia que ia pegar o Flamengo pra fazer mingau. Mas pela estrada afora o Flamengo não era assim tão inocente e inofensivo, tanto que os destemidos caçadores Júnior e Zinho trataram de equilibrar o jogo e salvar a vovozinha, no caso defendida pelo Zé Carlos – que, dizem, antes do jogo andou mordendo umas maçãs. Foi falha do goleiro sim o lance que originou o gol alvinegro. Lance muito parecido, entre ele e Neto, já ocorrera no primeiro tempo, mas o juiz marcou falta do atacante. Depois, 25 da segunda etapa: bola cruzada na área, Zé Carlos sobe para agarrá-la com a firmeza de uma daquelas casas feita pelos dois porquinhos, e… Shazam! Bola de cristal brilhando na pequena área para o arremate de Neto. Muito fácil. É o que podemos chamar de um gol tirado de dentro da cartola.
Quem viu, viu… E talvez nunca mais venha a ter a chance de assistir a um Clássico das Nações decidindo um campeonato. Mística é mística! Uma batalha assim, final, entre Flamengo e Corinthians é como estar presente, de camarote, em Waterloo, Cajamarca, Stalingrado, na Normandia… Foi mágico também ver ontem o reencontro dos dois generais da disputa, Vanderlei Luxemburgo e Nelsinho Batista, entrincheirados em seus túneis de comando. Há cinco meses, quem diria, estavam à frente dos pelotões de Bragantino e Novo Horizontino, naquela decisão sobrenatural do Paulistão. O futuro, sempre maquiavélico, reserva jornadas bem diferentes a esses dois ilusionistas da estratégia. Tipo Madame Mim e Maga Patalógika.
Nelsinho já-já parte num tapete voador para conhecer as 1001 fábulas do mundo árabe, mas aos poucos vai se afastar do futebol – taí, quando retornar ao futuro, vou numa cartomante buscar informações sobre esse grande pajé do futebol. Vanderlei seguirá em trajetória vertiginosa, tornando-se o treinador com mais títulos Brasileiros no currículo e outras marcas que o levarão ao marechalato de dirigir a Seleção. Mas por favor não contem a ele, pra não aumentar ainda mais a sua… Digamos… Autoconfiança. Se alguém puder, alerte sim o Luxa sobre um pequeno truque que ele fazia no passado e que, quando descoberto, acabará por afastá-lo da posição maior para um técnico brasileiro. A imprensa vai descobrir e denunciar que, quando jogador, Vanderlei fez desaparecer (alterou) sua idade nos documentos oficiais, jogando toda a carreira de lateral como “gato”. Futebol tem seus passes de mágica.
FICHA TÉCNICA
Corinthians 1 x 0 Flamengo
Estádio: Morumbi
Local: São Paulo
Data: 27 de janeiro de 1991
Árbitro: José Mocellin (RS)
Público: 2.706 pagantes
Renda: Cr$ 147.845,00
Gol: Neto aos 25’ (2º tempo)
Corinthians: Neuri; Ronaldo, Giba, Marcelo, Guinei e Jacenir; Márcio, Tupãzinho (Édson), e Neto; Fabinho, Paulo Sérgio e Mauro (Ezequiel). Técnico: Nelsinho
Flamengo: Zé Carlos, Aílton, Adílson, Rogério e Piá; Uidemar, Júnior, Marcelinho e Alcindo; Nélio e Zinho. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
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