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Trapalhadas do capitão

O dito pelo não dito

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h51 - Publicado em 29 mar 2019, 08h00
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  • Onde se leu: o presidente Jair Bolsonaro ordenou ao Ministério da Defesa que comemore em todos os quartéis do país a passagem de mais um aniversário do golpe militar de 64;

    Leia-se agora: não foi comemorar. Foi rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro, disse Bolsonaro, corrigindo seu porta-voz.

    Onde se leu: Bolsonaro atribui a “problemas pessoais” a irritação com ele do presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, que respondeu mandando que ele parasse de brincar de presidir o país;

    Leia-se agora: o desentendimento entre os dois foi uma passageira chuva de verão” e é “página virada”, como afirmou Bolsonaro.

    Onde se leu: Bolsonaro irá transferir de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel;

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    Leia-se agora: Bolsonaro admite que o Brasil poderá abrir em Jerusalém um escritório de negócios, mantendo sua embaixada em Tel Aviv.

    Por ora, em matéria de retificações, é só. Mas amanhã será outro dia, e sob a pressão de novos acontecimentos, ou dos filhos, ou do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, ou de qualquer comentário que leia no Twitter, Bolsonaro sempre poderá retificar as retificações.

    A ninguém é dado mais surpreender-se com o estilo errático do capitão, o maior fabricante de crises que o Brasil já teve na presidência da República desde que dali, por vontade própria, saiu Jânio Quadros em agosto de 1961 pensando em logo retornar nos braços do povo e, de preferência, com o Congresso fechado.

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    Os militares ficaram pendurados na parede sem escada depois de Bolsonaro ter recuado do que havia dito a respeito do aniversário do golpe. Foi distribuída a nota do ministro da Defesa a propósito do movimento militar de 64 que deverá ser lida nos quarteis. Ela exalta como um fato histórico o que ocorreu há 55 anos.

    A resposta de Maia às provocações que Bolsonaro lhe fez foi a aprovação pela Câmara de uma emenda à Constituição que subtraiu poderes ao governo para remanejar despesas do Orçamento da União. É fato que a decisão da Câmara ainda será submetida ao crivo do Senado que poderá modificá-la, mas o estrago foi feito.

    Quanto à transferência ou não da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o estrago se dará no outro lado do mundo. Mais precisamente na campanha à reeleição do primeiro-ministro daquele país, Benjamin “Bibi” Netanyahu. “Bibi” veio à posse de Bolsonaro certo de que a transferência da embaixada se daria.

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    De volta a Israel, faturou politicamente a decisão de Bolsonaro, para ver-se agora sem chão. E os evangélicos que se comoveram com o batizado de Bolsonaro nas águas do rio Jordão e lhe deram seus votos? Foi para agradá-los que Bolsonaro prometeu trocar a embaixada de lugar.

    Vida que segue. Governo que promete fortes emoções.

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