Representante do presidente da República, Jair Bolsonaro (internado 17 dias no Hospital Albert Einstein antes de receber alta quarta-feira, 13, e voltar para o olho do furacão em Brasília), no velório do jornalista Ricardo Boechat, o general Augusto Heleno, consternado, informa, analisa e arrisca projeções para o futuro. É terça-feira, 12 – dia seguinte ao estúpido e inesperado desastre de helicóptero que comoveu o País e, seguramente, produzirá abalos e sequelas, principalmente em parte considerável de sua imprensa, engolfada em intestinas e fúteis (ou interesseiras?) “batalhas ideológicas”.
Provado estrategista militar, comandante dos “Capacetes Azuis”, da ONU, em teste de fogo no despedaçado Haiti, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Governo (que já trabalhou na Band), até parece um profissional de redação, da TV, ou de rádio, ao falar sobre o morto: o profissional e o ser humano. E ao prever o impacto da ausência de Boechat nesta hora crucial de transição na vida política, econômica e governamental do Brasil.
A imaginação foge do Museu da Imagem e do Som/SP, e conduz o jornalista para um voo nas asas dos versos de “Folha de Papel”, de Sérgio Ricardo, enquanto observo o movimento das pessoas na despedida – gente comum, misturada com nomes famosos da política, dos esportes, das artes e, principalmente, dos meios de comunicação pelos quais o incansável farejador de notícias, que se foi aos 66 anos, transitou, transversalmente, ao longo de décadas . Com talento, competência, garra, e a inigualável versatilidade em sua profissão:
“Olha só o que o vento faz com o papel/ e traga ele a notícia que for/ Vai voar… voar… Olha só/ Como a gente nem sabe onde está/ Nós somos o papel a voar/ Contemplando este mundo/ Tristonho, profundo”… Retorno do torpor do pensamento, com a voz do general Heleno falando sobre a morte do notável ex-colunista e ex-chefe de Redação do Jornal do Brasil nos Anos 70/80, que conheci e de cujo saber bebi – igual a tantos profissionais no jornalismo brasileiro – naquele tempo em que eu também trabalhava no JB.
Repita-se, quantas vezes sejam necessárias, o que disse o general Heleno no MIS: “É uma perda irreparável. Boechat era referência para o jornalismo, muito inteligente, articulado. Vamos sentir falta da palavra dele. O presidente ficou muito triste. Sentimos muito esse desfalque. Eu tive muito contato com ele porque trabalhei na Band. Ele é um ícone, por tudo o que fez e representava. Ele tinha honestidade intelectual, que está em falta hoje em dia”.
Mais significativas e comoventes só as palavras de dona Mercedes Carrascal, 86 anos, também no MIS, ao lado do caixão , ornamentado com inscrições TAXI: “Gente, isso é maravilhoso! Agora sim é o caixão de Ricardo. A cara do meu filho, de quem tenho muito orgulho, simples, corajoso e que tratava com igual carinho e respeito a todos. Um homem honesto e de simplicidade profissional, que não fazia as coisas solicitando recompensa. Fiquei de boca aberta com os depoimentos das pessoas, de todas as classes sociais, sobre meu filho”, disse a fabulosa mulher que nos faz entender, ainda melhor, na despedida, a origem da grandeza e da relevância do filho.
Partiu Boechat! Toca o barco, como ele pedia diariamente na Band. E viva Dona Mercedes!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br