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O isolamento de Bolsonaro

Seus recuos são táticos para manter a esperança de que a institucionalidade prevalecerá

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h03 - Publicado em 27 mar 2020, 12h00
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  • Editorial de O Estado de S. Paulo (27/3/2020)

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    O presidente da República, Jair Bolsonaro, escolheu isolar-se dentro de seu próprio governo. Multiplicam-se os relatos de que Bolsonaro já não dá ouvidos nem mesmo a alguns de seus principais ministros, inclusive em questões de alta complexidade e que demandam o parecer de especialistas. O desencontro entre o discurso irresponsável do presidente em relação à epidemia de covid-19 e as recomendações de cautela por parte do Ministério da Saúde foi apenas o mais recente exemplo do distanciamento de Bolsonaro daqueles que trabalham para auxiliá-lo neste momento dramático.

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    Em sua quarentena particular, optou deliberadamente por não mais levar em conta as opiniões daqueles cuja função é fornecer-lhe os dados da realidade e apontar soluções com base neles. Tem preferido prestar atenção em conselheiros que o atiçam contra tudo e todos que são considerados obstáculos a seu projeto de poder.

    Assim, não foi acidental a participação do vereador Carlos Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em reuniões nas quais o presidente discutiu a epidemia de covid-19 com governadores de Estado. Sem qualquer expertise conhecida na área de epidemiologia ou na de administração de crises, Carlos Bolsonaro esteve presente na condição de coordenador do chamado “gabinete do ódio”, um grupo informal que assessora o presidente sobre estratégias nas redes sociais.

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    Enquanto o País se une e se mobiliza para encontrar maneiras de enfrentar e superar a epidemia, o presidente e seus filhos se empenham em criar conflitos, sempre com o objetivo de auferir lucros eleitorais. Desde que tomou posse, Bolsonaro já se indispôs diversas vezes com os demais Poderes e com a imprensa. O alvo atual são os governadores, a quem Bolsonaro criticou duramente em cadeia nacional de rádio e TV depois de se consultar com o “gabinete do ódio”, atitude que estarreceu até mesmo alguns de seus ministros e assessores.

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    Com isso, Bolsonaro transformou um gravíssimo problema econômico e de saúde pública – a epidemia de covid-19 – em palanque próprio para demagogia. Ao se queixar do isolamento compulsório e dos efeitos econômicos da quarentena imposta pelos governos estaduais e municipais, minimizando a epidemia, Bolsonaro apresenta-se como porta-voz de milhões de brasileiros aflitos com sua queda de renda e com a interrupção de negócios – embora seu governo tenha tomado até agora poucas e tímidas medidas para mitigar o desastre econômico.

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    Sem qualquer escrúpulo, explora essa angústia com objetivos políticos, jogando a crise econômica na conta dos governadores – que apenas estão fazendo o que precisa ser feito para poupar vidas. E, no cúmulo da desfaçatez, ainda o faz de maneira cínica: em postagem no Twitter, acusou os governadores de “fazer demagogia diante de uma população assustada” em vez de “falar a verdade”. E continuou: “Aproveitar-se do medo das pessoas para fazer politicagem num momento como esse é coisa de covarde!”.

    Nas redes sociais, os bolsonaristas, encabeçados por outros dois filhos do presidente, Eduardo e Flávio Bolsonaro, trataram de espalhar textos e vídeos – falsos ou fora de contexto – que embasam seus questionamentos acerca das medidas restritivas dos governadores contra a epidemia. O site do ex-astrólogo Olavo de Carvalho, cujos seguidores formam o “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto, acusou os governadores de, “na surdina”, se “aliarem à China contra Bolsonaro”. O próprio Olavo de Carvalho chegou a postar um vídeo em que diz que a epidemia de covid-19 “simplesmente não existe”, sendo “a mais vasta manipulação de opinião pública que já aconteceu na história humana”.

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    É esse tipo de opinião que tem orientado o presidente Bolsonaro em suas atitudes e pronunciamentos nos últimos dias. Seus recuos ou acenos ao diálogo são apenas táticos, para manter a esperança de que a institucionalidade prevalecerá, enquanto o bolsonarismo trabalha febrilmente para miná-la. Cada vez mais encerrado no “gabinete do ódio”, Bolsonaro não tem outra coisa a oferecer ao Brasil.

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