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O Brasil abaixo de todos

106ª posição no ranking da corrupção

Por Mary Zaidan
Atualizado em 30 jul 2020, 19h11 - Publicado em 26 jan 2020, 09h00
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  • Difícil achar quem não goste das listas de melhores e piores. Os filmes vencedores, livros e músicas imperdíveis, lugares para conhecer ou viver. Há rankings para tudo, bem feitos, fajutos, engraçados. E os muito sérios. Nesses, o Brasil perde feio. Neles – Pisa/OCDE, IDH/ONU, OMS/Violência, Transparência Internacional, Human Rights Watch -, os países líderes concentram energia na educação, e, na maioria deles (a única exceção é a China), em justiça e democracia. Um tripé cada vez mais distante do Brasil de hoje.

    A 106ª posição no ranking da corrupção entre os 180 países analisados pela Transparência Internacional, anunciada na semana passada, não pode ser atribuída ao presidente Jair Bolsonaro. Tampouco se pode dizer que seu governo, eleito com o mote anticorrupção, tenha feito algo positivo.

    Ao contrário.

    Como no ditado popular, no combate à corrupção o governo Bolsonaro tem sido o cão que não morde. Late muito. E só.

    O presidente cria confusão ou arruma escaninhos novos para proteger sua prole. Se inocente fosse, não precisaria de puxadinhos como a mudança do antigo Coaf para o Banco Central, a suspensão de investigações e o meio ano de trapalhadas do presidente do STF, Dias Toffoli, para protelar entendimentos em benefício do filho 01. O “herói” Sérgio Moro, ex-juiz da Lava-Jato que virou ministro da Justiça, convive mudo com o laranjal do colega do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado pela PF, e com a rachadinha do filho do chefe.

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    Nada que contribua para reduzir a percepção de país corrupto captada pela Transparência Internacional.

    Na educação, responsável número 1 pelo sucesso dos países com melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), melhor distribuição de renda (PINI) e pouquíssimos homicídios (OMS), a performance brasileira é um completo desastre.

    Não só pelas baixíssimas notas do Pisa, mas pela barafunda que Bolsonaro patrocina na pasta, com um ministro performático, que, além de se preocupar mais em interpretar esquetes como o vexaminoso “cantando na chuva”, não domina nem mesmo o básico da língua pátria. E que tem o desplante de, em pleno rolo com o Enem, que espalhou injustiça e insegurança para milhões de jovens, indicar um criacionista convicto para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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    Os absurdos são de tal ordem que o ministro astronauta Marcos Pontes foi escorraçado nas redes por postar uma imagem da NASA para “provar” que a Terra não é plana. Isso na segunda década do século 21, em que jovens sul-coreanos de 15 anos estão discutindo física quântica e inteligência artificial. Os daqui, condenados ao terraplanismo.

    Criacionista, terraplanista e adepto da abstinência sexual, transformada em política pública pela ministra pregadora Damares Silva. Esse é o jovem brasileiro que Bolsonaro prepara para o mundo, preferencialmente formado em uma escola militar.

    Sétima economia mundial, posição que deveria se reverter em pelo menos um mínimo de dignidade para quem vive no país, o Brasil amarga – e vai continuar cada vez mais azedo se insistir na contramão – índices indecentes em todas as áreas. Quase metade da população não tem rede de esgoto e só 38% do coletado recebe tratamento. E está entre os líderes de desigualdade, com números de arrepiar até o capeta: 1% concentra 28,3% da renda nacional, 52,5 milhões (25,3%) vivem na miséria e outros 13,5 milhões (6,5%) na extrema pobreza.

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    Um verdadeiro inferno.

    Enquanto isso o líder maior da República dedica seu tempo em colher likes nas redes sociais, em alucinações e conspirações, na guerrilha contra um comunismo que não tem mais sobreviventes. Em enxovalhar jornalistas e outros desafetos. Cria uma crise por dia para esconder a do dia anterior.

    Fala de Brasil grande e o faz menor, condenando o país a continuar na lanterna de todas as listas.

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    Mary Zaidan é jornalista 

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