O ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, reconhecido pela sua agilidade de raciocínio estratégico de rematado enxadrista – quase sempre um ou dois lances adiante de seus mais insidiosos oponentes, como ficou demonstrado na audiência de quarta-feira, 19, na Comissão de Constituição e Justiça, do Senado – evidenciou um talento novo e capacidade desconhecida, esta semana, para não esquecer: a de craque de futebol, capaz de surpreender com lances de levantar a torcida nos campos onde se jogam, atualmente, as partidas mais ferrenhas (selvagens até), da política e das disputas de poder no País.
O ministro tem sido crivado de ataques e agressões partidas de quase todos os lados. Direcionadas diretamente a ele, ao procurador Deltan Dallagnol e, em síntese, à Lava Jato, desde a explosão da tentativa de escândalo causada com a divulgação, em doses homeopáticas, do fruto da ação criminosa de supostos hackers que invadiram celulares, cujas mensagens no aplicativo Telegram foram fornecidas, por fonte anônima, ao site Intercept, do jornalista Glenn Greenward, que as tem divulgado, estranhamente, a conta gotas, sem verificação de autenticidade, conforme relevantes apreciações críticas, sobre o episódio, feitas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes.
Ressalte-se a bem da busca de verdade de sua excelência o fato (no dizer de Charles de Gaulle, que o notável parlamentar e homem público, Ulysses Guimarães não cansou de repetir até sua morte trágica e surpreendente). “Até a empreiteira Odebrecht, referencial de ilicitudes reveladas na maior e mais efetiva operação de combate a corruptos e corruptores no Brasil, decidiu jogar nas costas da Lava Jato a culpa por seu descrédito, quebra e quase bancarrota, no pedido de recuperação judicial, aprovado esta semana pela justiça paulista.
Algum desguiado e irônico viajante francês, de passagem por Brasília, por exemplo, durante as falas dos senadores Ângelo Coronel, da Bahia; Humberto Costa, de Pernambuco e Renan Calheiros, de Alagoas, na inquirição a Sérgio Moro, na CCJ, sobre “o incrível escândalo que encolheu”, seguramente deve ter pensado com os seus botões: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”.
Com tudo isso surpreende que o enxadrista reconhecido, Moro, o técnico ex-juiz condutor da Lava Jato, hoje na condição política de ministro da Justiça e da Segurança Pública, tenha encontrado tranqüilidade e espaço para o lance futebolístico de mestre, da segunda-feira desta esquentada semana junina. Durante a assinatura da Medida Provisória para venda de bens confiscados de traficantes, o presidente Jair Bolsonaro, condutor da cerimônia, no centro da mesa, pontuou ao seu estilo: “Sérgio Moro joga futebol? Não? Mas está fazendo mais um gol de bicicleta do meio de campo”. Mais expressivo só o desempenho de Sérgio Moro na sabatina na CCJ. Ou, talvez, as manifestações em defesa da Lava Jato e do ministro da Justiça, convocadas no País para o dia 30. A conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br