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Mentiras, versões e lorotas (por Gaudêncio Torquato)

Fake

Por Gaudêncio Torquato
Atualizado em 30 jul 2020, 18h53 - Publicado em 31 Maio 2020, 10h00
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  • De onde parte essa onda de fake news, versões, simulações e dissimulações que se espraia durante a epidemia? Nunca se ouviu tanto disse me disse, essas invencionices pelas redes sociais, gravações de conversas, vídeos editados, vazamentos de mensagens, envolvimento de policiais, de juízes e procuradores.

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    Fragmentos dos últimos dias: Bolsonaro tentando interferir na PF; uma desastrada reunião, farta de palavrões; hordas bolsonaristas agredindo jornalistas e portando faixas contra Legislativo e Judiciário; pedidos de prisões para ministros do Supremo; ações policiais sob viés político, uma profusão de informações e falsidades.

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    Onde estará a verdade? Ou, o que é verdade?

    O fingimento faz parte da nossa cultura e se expande com a polarização. Mas fingir parte de nossa índole. Nosso folclore político, por exemplo, é farto em matéria de esperteza.

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    Sebastião Nery narra um exemplo: “José Maria Alkmin, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber.

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    – Água milagrosa de Fátima.

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    – Mas tudo isso, doutor Alkmim?

    – Sim, o pessoal de Minas acredita muito nos milagres de Fátima.

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    – O senhor pode desenrolar?

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    – Pois não, meu filho.

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    – Mas, deputado, isso é uísque.

    – Ué, não é que já se deu o milagre?

    A matreirice faz parte do cotidiano das pessoas. A invencionice em nossa cultura anda sofisticada. Mergulhamos em meias verdades, mentiras e lorotas escalando uma montanha de pistas falsas.

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    O fato é que a história da política é rica em simulação e dissimulação. O cardeal Mazarino, ministro de Luis XIII, ensina em seu Breviário dos Políticos: “age com os teus amigos como se devessem tornar inimigos; o centro vale mais do que os extremos; mantenha sempre alguma desconfiança em relação a cada pessoa; a opinião que fazem de ti não é a melhor do que a opinião que fazem dos outros; simula, dissimula, não confies em ninguém e fala bem de todo mundo. E cuidado. Pode ser que neste exato momento, haja alguém por perto te observando ou te escutando, alguém que não podes ver”.

    A descrição cai bem ao país. Até parece que os “inventores de causos” nas redes sociais aprenderam com Nicolau Eymerich, frade espanhol que, em 1376, escreveu em seu Manual dos Inquisidores”: falar sem confessar; responder às perguntas de maneira ambígua; responder acrescentando uma condição (acredita em Deus? Se ele existe…); inverter a pergunta; fingir-se de surpreso; mudar as palavras da questão; deturpar o sentido das mensagens; auto justificar-se; fingir debilidade física; simular demência ou idiotice e até se dar ares de santidade.

    Hoje, demônios se disfarçam de santos.

    E para deixar por instantes esse momento de angústia, fecho com outra historinha de Nery e o mesmo Alkmin.

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    Um correligionário mineiro fica meio “lelé da cuca” e aparece no gabinete do ministro da Fazenda, no Rio, pedindo inusitada colaboração.

    – Dr, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor.

    – Isto não é problema, diz Alkmin. Dou-lhe o apoio. Existe um pequeno problema, que só depende do amigo. Você sabe que há quatro luas: nova, crescente, minguante e cheia. Escolha qual o nobre amigo deseja visitar, o apoio está dado.

    Diante de um atônito conterrâneo, Alkmin estende a mão e se despede:

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    – Me procure quando você definir!

     

     

    Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político e de comunicação

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