Assine VEJA por R$2,00/semana
Noblat Por Coluna O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Hilda e Marielle

Prefiro escrever sobre Hilda e Marielle no presente, pois as sinto assim

Por Chico Alencar
Atualizado em 1 ago 2018, 14h00 - Publicado em 1 ago 2018, 14h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em tempos de arrogância da ignorância, é preciso proclamar o valor da inteligência sensível. Na quadra sombria que atravessamos, cumpre buscar seres de luz.

    Publicidade

    Hilda Hilst (1930-2004) foi a homenageada da Festa Literária de Paraty (Flip) deste ano. Ela sabia da nossa fragilidade: “Amamos tanto… E a perda é cotidiana e infinita”.  Ela, amante da existência, sabia também que ser é duvidar. E que para crescer é preciso indagar sempre: “Diante de Deus, serei aquele amontoado de perguntas. (…) Meu Deus, por que o mundo me comove tanto?”.

    Publicidade

    Marielle Franco (1979-2018) completaria 39 anos na última sexta, 27 de julho. Naturalmente, ela foi muito lembrada na Flip. Marielle, devota da alegria, sabia da violência do sistema: “Quantos mais terão que morrer até que essa guerra acabe?”. Marielle sabia também que viver é renovar-se, é crescer. É saber-se acompanhada na dura caminhada pela transformação social: “Eu sou porque nós somos. A gente precisa passar por 2018. Tem muita vida pra gente percorrer. Não pode acabar em 2018!”.

    Prefiro escrever sobre Hilda e Marielle no presente, pois as sinto assim, aqui e agora. Para além das nossas crenças – ou aquém delas – os amado(a)s ou admirado(a)s  que se foram continuam em nós, vivíssimos na memória, na saudade, na obra que deixaram.  Falar deles no verbo presente é belo inconformismo. Recusamos ser real não mais poder ouvir seu verbo candente, em prosa, riso ou verso. Não aceitamos a ausência, o vazio, a “nadificação” de quem espalhou tantos benefícios, mesmo em pouco tempo de existência terrena.

    Publicidade

    Sim, há a dor da ruptura drástica da forma, que é a morte corporal. Há o espanto permanente de saber que aquela pessoa física não mais chegará, com seu abraço, seu sorriso, sua poesia, sua tristeza, sua angústia, sua alegria.  “Me fizeram de pedra, quando eu queria ser feita de amor”, reclamou Hilda. Toda morte é uma espécie de petrificação.

    Continua após a publicidade

    Mas o ser humano é capaz de ressurreição, de reinvenção, de recomeços: “o Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, se agita no animal e desperta na Humanidade!” (Leon Denis, 1846-1927). Nossos mortos vivem em nós. Nossa fecunda imaginação, alimentada pela teimosia da fé, da esperança contra toda desesperança, rompe limites e nos leva do imanente ao transcendente. Hilda ainda lembra que “há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos”.

    Publicidade

    Eu a vejo agora, abraçada à Marielle, instigando nosso dever de prosseguir, apesar da escuridão e da estupidez que envolve o Brasil e o mundo: “e no entanto, refaço minhas asas a cada dia. E no entanto, invento amor como as crianças inventam alegria”.

    *Chico Alencar é professor, escritor e deputado federal (PSOL/RJ) 

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.