‘Fake news’ e democracia
Não podemos acabar com as fake news, mas podemos contê-las.
Sobre o tema fake news, temos boas e más notícias. Comecemos pelas más. As fake news nunca vão deixar de existir, independentemente dos seus meios de propagação. Hoje são as redes sociais. Antes foram as cartas, os jornais, os livros. A outra má notícia é que as fake news podem mudar o destino de uma nação, como se evidenciou nas eleições presidenciais vencidas por Donald Trump em 2016 nos Estados Unidos. A mais poderosa nação do planeta ficou de joelhos perante o fluxo contínuo de notícias falsas.
No Brasil, as cartas falsas de Artur Bernardes contra o marechal e ex-presidente Hermes da Fonseca alimentaram o movimento tenentista nos anos 1920, que culminou com um processo de intensa influência militar na política. Assim, notícias falsas são potencialmente perigosas para o processo democrático.
Claramente, o Brasil não está preparado para a onda de fake news que vem por aí e que já mostrou seu alcance e seus efeitos, por exemplo, durante a greve dos caminhoneiros que paralisou o país no mês passado. Os Estados Unidos, com uma parto de segurança muito maior e sofisticado que o nosso, nada pôde fazer. Em sendo assim, o que podemos fazer para evitar em nosso país que as notícias falsas distorçam o resultado eleitoral em outubro? É aí que entram algumas boas notícias.
Não podemos acabar com as fake news, mas podemos contê-las. Como? Já existe um movimento das autoridades destinado a conter o fluxo de fake news no processo eleitoral. Ao contrário dos americanos, que tiveram de assistir ao fenômeno, os brasileiros buscam — dentro de suas limitações — agir de forma preventiva. A segunda boa notícia é que as redes sociais estão mais atentas ao problema e temem ser penalizadas pela divulgação de informações inverídicas. O episódio Cambridge Analytica serviu de alerta a todas as plataformas. Em especial, ao Facebook.
A terceira boa notícia reside na atuação da imprensa, que tem checado mais atentamente as notícias divulgadas, estimulando uma atitude mais reflexiva por parte do internauta. Por fim, a tecnologia pode ajudar muito. A mesma tecnologia que apoia o comércio de moedas virtuais, o blockchain, poderá vir a ser um instrumento de validação das informações postadas nas redes.
No entanto, nada vai funcionar se o anonimato na internet não for combatido e se o internauta não melhorar suas atitudes, desenvolvendo maior senso de cidadania. Quem posta tem de ser identificado e responsabilizado pelo que diz. É assim com a imprensa e a mídia em geral e deve ser assim na internet. Cada um tem a liberdade de dizer o que quer, mas deve assumir as consequências pelo que diz.
Murillo de Aragão é cientista político